Um dia após o lançamento pelo PMDB de um documento com críticas à política econômica do governo e propostas para a retomada do crescimento econômico, o líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PMDB-MS), avaliou que o documento tem recados que precisam ser analisados com cuidado.
“É uma contribuição importante e, claro, precisamos analisar com muito cuidado o que está nas entrelinhas. O governo tem de ficar atento a algumas mensagens do documento, principalmente em se tratando do PMDB, o maior partido da aliança”, disse Delcídio à Agência Brasil.
O senador disse ainda que considera normal o manifesto dos peemedebistas. Segundo ele, o documento ainda não pode ser interpretado como uma ameaça de ruptura com o governo, que poderia ser anunciada na reunião do PMDB marcada para março. “Não são ameaças. Por enquanto, são recados. O PMDB não podia lançar um manifesto dizendo amém para todas as políticas. Cada partido tem autonomia, independência para propor aquilo que é melhor para o país. Depois, dentro do governo, com demais partidos e ministros, discute-se o que é viável ou não”.
Ainda na avaliação do líder do governo, algumas propostas, apesar de flexibilizarem as decisões do ponto de vista econômico, teriam reações difíceis de administrar de movimentos sociais e partidos. Exemplos disso, disse, seriam as que defendem o fim da indexação de benefícios ao salário-mínimo e o fim das despesas constitucionais obrigatórias com saúde e educação acabariam.
Para o presidente do DEM, senador Agripino Maia (DEM-RN), o manifesto do PMDB tem um objetivo claro. “É o grito de independência do PMDB que sempre reclamou de não participar das decisões do governo”, avaliou. O senador disse que o DEM compartilha do pensamento em relação a grande parte dessas medidas que, segundo ele, demostram que o governo está atrapalhado nas soluções propostas para tentar tirar o país da crise.
Para o professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto, o líder do governo tem razão quando pede atenção para os recados mandados pelo PMDB por meio do documento. “O PMDB nunca vai ser um partido coeso. Temos hoje um PMDB que está trabalhando numa posição ‘pró impeachment’ e outro PMDB que trabalha com a possibilidade do governo conseguir permanecer. Você tem um rompimento de parte significativa do partido”.
Barreto afirma que a ruptura ocorreu “lá atrás”, destacando, como exemplo, o programa veiculado em rádio e televisão pelo partido que reforçou mensagens sobre o compromisso de recuperar a economia do país e, o mais grave, na opinião do especialista, é a posição dos ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) na análise das contas do governo Dilma Rousseff : eles se manifestaram pela rejeição dos gastos. “A maioria dos ministros são indicações do PMDB e é ali que, de fato, você cria a razão material para discutir o processo de impedimento. [O PMDB] vai jogando nas duas pontas e, no final, vai estar bem posicionado naquela que tiver a maior possibilidade de acontecer”.