Um ano antes da eleição, o PT começa a expor suas fissuras ao reproduzir, nos Estados, a briga pelo controle do partido. O chamado “Campo Majoritário” e a esquerda do partido, seguindo orientações de seus líderes nacionais, disputarão a presidência dos diretórios estaduais, em meio à já acalorada discussão sobre candidatos a governador.
Em São Paulo, a campanha promete extrapolar os limites do Estado, invadindo o cenário nacional. Secretário de Transportes do governo Marta Suplicy e integrante do grupo Luta de Massa, Jilmar Tatto concorrerá contra o atual presidente do partido, Paulo Frateschi, com um discurso carregado de ataques ao governo e ao Campo Majoritário, hoje à frente do partido. “O PT não pode ser capacho do governo”, afirma.
Renovado, diz, o PT tem de estimular a ousadia no governo. Além da “falta de coragem”, o Campo Majoritário estaria contaminando o governo com suas disputas internas. Segundo ele, são mesquinharias que acabam abalando a administração de Luiz Inácio Lula da Silva.
Um exemplo é a vitória de Severino Cavalcanti (PP-PE) no embate pela presidência da Câmara: “Mercadante foi contra a reeleição de João Paulo. Agora, João Paulo bate em Romero Jucá [ministro da Previdência Social] por ser aliado de Mercadante”, criticou Jilmar, numa referência ao líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, e ao ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha.
Os dois disputam com Marta a preferência do partido para concorrer ao governo de São Paulo no ano que vem. Embora Jilmar seja um dos colaboradores de Marta no Instituto São Paulo –de onde deu a entrevista à Folha– a ex-prefeita declara voto a Frateschi.
Segundo Marta, “Jilmar Tatto é um ótimo quadro, fez um grande trabalho” em seu governo. Mas ressalva: “Apóio a reeleição do companheiro Paulo Frateschi, que julgo ser a pessoa mais adequada para unificar o partido para os próximos desafios”. Procurados, nem Mercadante nem João Paulo quiseram comentar as declarações de Jilmar.
Efeito dominó
No Ceará, a disputa promete ser tensa após uma fratura no Campo Majoritário. Candidato ao governo em 2002, José Airton Cirilo rompeu com o atual presidente do partido, José Guimarães. Agora, está disposto a lançar um candidato contra Guimarães, irmão do presidente nacional do PT, José Genoino, ou se unir à esquerda.
“No que pese sermos uma força política no Estado, ficamos sem espaço. Guimarães concentrou os cargos: BNB, Dnocs, Ibama e Incra. Além disso, conduziu o comitê eleitoral no ano passado segundo seus interesses”, queixa-se.
Em Minas, a esquerda do PT também estimula dissidências no Campo Majoritário. Dois deputados estaduais, com o pé fora da corrente Unidade na Luta, foram convidados a disputar a presidência do partido com o apoio da esquerda. “Mas com uma condição”, diz o deputado Gilmar Machado: “Não poderão apoiar Genoino no plano nacional”.
No Pará, a senadora Ana Júlia deverá concorrer com o candidato do líder do PT na Câmara, Paulo Rocha, caso as correntes de esquerda se unam. “A candidatura vai depender de alianças”, diz ela.
As tendências se confrontarão nos Estados com forte presença do PT, como Pernambuco, Bahia e Paraná. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, é o Campo Majoritário que tentará estremecer a hegemonia da esquerda.
“Com a disputa nacional, temos de ter candidato próprio em Santa Catarina”, justifica a senadora Ideli Salvati (SC).
O sempre tumultuado Rio pode ser exceção. No Estado, a esquerda propõe apoio ao candidato do Campo Majoritário para a presidência do partido, desde que a corrente se comprometa com a candidatura de Vladimir Palmeira ao Palácio Guanabara em 2006.