Pagamentos de contas, dívidas, consultorias, aquisição de bens, roupas e até perfumes importados. Estas foram algumas das alegações feitas pelas dezenas de pessoas ouvidas pela Polícia Civil e Ministério Público Estadual (MP), em decorrência da Operação Bereré, para justificarem movimentações financeiras rastreadas junto aos investigados pelo esquema. Próximo do fim desta fase, os responsáveis pela investigação começam a individualizar as condutas destas pessoas e não descartam, se comprovado algum tipo de dolo, indiciar aqueles que eventualmente não consigam comprovar a legalidade destas operações.
Conforme os responsáveis pela investigação, uma parte das pessoas ouvidas apresentou documentos comprovando as operações financeiras, bem como notas fiscais de serviços, recibos e extratos bancários. Todo o material será analisado pelos delegados e promotores de Justiça, que poderão optar pelo arquivamento da apuração em relação aos que de fato não tinham conhecimento da origem dos recursos e pelo prosseguimento das investigações nos casos em que houver indícios de dolo.
Entre os depoimentos, estão narrativas como a de uma empresária do ramo de combustíveis, que recebeu um cheque de R$ 15 mil, emitido por Antônio Eduardo Costa e Silva. Ela explicou aos delegados Márcio Moreno Vera e Alexandra Fachone, da Delegacia Especializada em Crimes Fazendários (Defaz) que não se recorda de quem recebeu o cheque, mas que pode identificar a pessoa mediante a microfilmagem do documento.
Uma outra pessoa ouvida, um servidor público, afirmou aos mesmos delegados que o cheque depositado em sua conta, no valor de R$ 4,3 mil, assinado pelo chefe de gabinete do ex-governador Silval Barbosa, Sílvio Cezar Corrêa Araújo, se tratava de um empréstimo, motivado por dificuldades financeiras em decorrências de problemas de saúde.
Outro servidor, que recebeu pouco mais de R$ 46 mil em transferências supostamente feitas pelo presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho PSB, ao longo de cinco anos, pontuou que se tratava de ajuda de custo, destinada a trabalhos comunitários. Uma vendedora de roupas, ouvida por ter recebido uma transferência de R$ 1,5 mil, revelou que teria vendido roupas ao deputado Mauro Savi (PSB) e a seu chefe de gabinete. Os dois deputados negam participação na fraude. A Operação Bereré apura o desvio de recursos por meio de um contrato firmado pela FDL Serviços com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran). A propina era distribuída aos sócios de uma suposta empresa de fachada. Os primeiros levantamentos apontam para desvios da ordem de R$ 27 milhões.