Mesmo evitando admitir a pré-campanha à Presidência da República, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), adotou uma postura típica de quem está atrás de mandato na passagem por Cuiabá e Várzea Grande. Ela sorteou ontem casa mobiliada para a população de baixa renda, discursou em favor da continuidade e prometeu discutir a conclusão de obras importantes para Mato Grosso, como a ligação da Ferronorte entre Rondonópolis e Cuiabá e aumento de recursos para a Capital sediar a Copa de 2014.
O discurso mais político da ministra ocorreu durante entrega das 680 casas populares dos residenciais Júlio Domingos de Campos 1 e 2, que ocorreu entre as 18h e 19h30, em Várzea Grande. Antes de sortear uma residência mobiliada a partir de uma gentileza feita pela empreiteira responsável pela obra, Dilma chegou a parar a caminhada pelo conjunto habitacional para ouvir manifestações populares.
Dilma citou em discurso a conversa que teve com uma ex- aluna do antigo Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) em Cuiabá. "Essa jovem falou que o estudo foi fundamental para a sua vida. É dessa forma que queremos o Brasil, um país que se preocupe com suas crianças e jovens através da educação. O Brasil mudou e passou a ser um país emblemático que cria oportunidade. Tenho certeza que, juntos, poderemos construir o futuro que já começou."
Dilma foi acompanhada pelo ministro das Cidades, Márcio Fortes, pelo secretário executivo Rodrigo Figueiredo e por dezenas de autoridades, como o governador Blairo Maggi (PR), a senadora Serys Marly e o deputado federal Carlos Abicalil (ambos do PT) e diversos políticos que passaram o dia defendendo a pré-candidatura da ministra à Presidência da República.
Durante uma reunião com representantes de instituições como UFMT, Federação das Indústrias (Fiemt), Federação da Agricultura (Famato), Associação de Criadores (Acrimat), Dilma ainda prometeu a reforma do Hospital Júlio Müller até o fim do primeiro semestre deste ano.
Dilma participou ao todo de 7 compromissos, sendo 6 em Cuiabá e 1 em Várzea Grande. O primeiro foi a assinatura de convênio no valor de R$ 50 milhões para construção de 1,2 mil casas nos municípios de Várzea Grande, Sorriso, Cáceres e Tangará da Serra. Também concedeu coletiva à imprensa, se reuniu com parlamentares federais, acompanhou uma videoconferência com o setor produtivo e teve almoço em uma peixaria da Capital.
Eventos políticos – As solenidades deixaram claro e latente que os eventos administrativos se tornaram políticos, ao ponto de Dilma e Maggi negarem estar fazendo política eleitoral e serem proibidos pela lei e pela Justiça, mas minimizaram os efeitos legais e acabaram falando em melhores dias e mais parcerias caso a hoje ministra e pré-candidata do PT à sucessão do presidente Lula, e o governador Blairo Maggi (PR) e o vice, Silval Barbosa (PMDB) amanhã pudessem estar juntos exercendo o poder que só pode ser conferido pelo voto popular.
Num misto de solenidade oficial para o Programa Minha Casa, Minha Vida, a ministra elogiou a política do governo ao qual pertence e que, segundo ela, são ações de vulto, pois dão identidade às pessoas por meio da propriedade residencial, dão melhorias através do Luz para Todos, geram emprego e renda e cuidam do futuro, que são os beneficiados do Programa Bolsa Família.
Também não faltaram apupos para o que considera como extraordinário governante, o governador Blairo Maggi aliado desde 2006 do presidente Lula quando foi reeleito governador no 1º turno e o petista em 2º turno. Aliás, Dilma e Maggi trocaram elogios mútuos e não faltaram compromissos assumidos de ajuda e de parcerias, nem cobranças como mais recursos para as rodovias federais, um Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para que a Ferronorte chegasse até Cuiabá e que a ministra estendeu até Porto Velho, capital de Rondônia, 1,2 mil quilômetros da capital mato-grossense.
Mesmo evitando críticas, a ministra da Casa Civil e coordenadora do PAC disse que existem problemas a serem resolvidos em relação às obras da capital Cuiabá, mas assegurou que não via impedimentos em que o próprio município, administrado pelo tucano Wilson Santos, não pudesse resolvê-los e disparou que "se houver irregularidades elas devem ser apuradas e os responsáveis punidos, agora o que não pode haver é prejuízo para a cidade e para os que vivem nela", disse Dilma Rousseff.
Corpo e alma – O governador Blairo Maggi assegurou que vai se incorporar de corpo e alma na campanha da ministra, e apostou tanto na sua vitória que cobrou mais espaços políticos no eventual novo ministério. "Temos o Rodrigo Figueiredo, que é um legítimo mato-grossense e peça fundamental na ajuda ao nosso Estado, bem como nosso inestimável amigo Luiz Antônio Pagot, diretor-geral do Dnit, e sabemos da importância de termos pessoas aliadas em cargos estratégicos, por isso seria muito bom que ampliássemos nossa participação", disse o governador.
Mesmo elogiando a ministra, Maggi cobrou esforços no sentido de empreender mudanças significativas para assegurar rodovias, hidrovias e a ferrovia em Mato Grosso, como modelos de transporte que potencializariam a maior riqueza do Estado, que é a produção agrícola através do agronegócio.
Maggi também não se esqueceu de cobrar pesados investimentos, por causa da Copa do Mundo de 2014 em Cuiabá e Várzea Grande, apontando que nas últimas décadas ambos os municípios foram relegados a segundo plano. "Cuiabá é uma cidade provinciana e precisamos resgatá-la desta condição", cobrou o chefe do Executivo estadual ao lembrar que o Estado faz sua parte, pois quando chegou aqui em 2003 o PIB de Mato Grosso era de R$ 23 bilhões e em 2009 o PIB dobrou para R$ 42 bilhões.
Sem envolvimento – No melhor estilo que sempre coordenou suas ações como ministra de Estado, Dilma Rousseff evitou se aprofundar em assuntos políticos alegando que estava em missão de governo. No entanto, não se fez de rogada em relação à disputa interna entre a senadora Serys Marly, que deseja ser candidata à reeleição na chapa encabeçada pelo PMDB de Silval Barbosa, tendo Blairo Maggi como o outro candidato ao Senado, e o deputado e presidente do PT, Carlos Abicalil, que deseja assumir a condição de candidato no lugar de Serys. "Não tenho procuração do PT, mas como um partido democrático e que debate suas ideias, o PT vai construir a unidade", disse a ministra presidenciável enquanto a senadora e o deputado se digladiavam perante os microfones da imprensa mato-grossense.