Os 8 deputados federais eleitos por Mato Grosso detém não somente forte parcela de influência política, mas o significativo controle do poder econômico em mãos. Levantamento feito por A Gazeta com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral revela que a soma dos bens dos futuros parlamentares atinge o total de R$ 41.492.476, o que dividido pelos oito representantes corresponde a uma riqueza média de R$ 5,185 milhões.
Com 64 anos, o ex-senador, ex-governador e ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE/MT), Júlio Campos, é o que mais concentra riquezas. Conforme a declaração de bens entregue a Justiça Eleitoral, o patrimônio pessoal corresponde a R$ 12.540.655,83. Na relação destaca-se a propriedade de veículos de luxo, participação em empreiteiras e uma fazenda no valor de R$ 1.426.981,00, posse de escritórios e participação em empresas privadas.
O pecuarista e empresário da comunicação, Roberto Dorner, 62, aparece em segundo lugar na lista dos mais ricos com R$ 12.540.655,83 milhões. Filiado ao PP, ele substitui o correligionário e deputado federal eleito Pedro Henry, que assumirá a Secretaria de Estado de Saúde na gestão do governador Silval Barbosa (PMDB). Dorner informou a Justiça Eleitoral ter em espécie R$ 3,8 milhões.
Eleito para o sexto mandato consecutivo, o deputado federal Wellington Fagundes (PR), 53, aparece com R$ 7.255.285,56. Na relação dos itens do patrimônio, o que consta de mais valioso são 4.802 cabeças de animais bovinos, o que corresponde a R$ 3.353.892 milhões.
Aos 69 anos e com a experiência de ser ex-prefeito de Rondonópolis, ex-senador e ex-governador, o deputado federal Carlos Bezerra (PMDB) também aparece na lista dos milionários. Com bens avaliados na ordem de R$ 3.361.411,92, destacam-se fazendas, aeronaves e participação no lucro de empresas.
Identificado com o agronegócio, o deputado federal Homero Pereira (PR) fecha o ciclo dos milionários com patrimônio de R$ 3.205.170,86. O republicano se destaca pela posse de terrenos em diferentes municípios como Livramento e São Joaquim e propriedade de veículos automotores.
Estreante na Câmara Federal, o ex-secretário de Estado de Educação (Seduc), Ságuas Moraes (PT), detém patrimônio avaliado em R$ 247.796,85. Outro “primo pobre” da relação é o ex-defensor público Valtenir Pereira (PSB) que vai para o segundo mandato. O patrimônio está avaliado em R$ 158.354,83.
O socialista Valtenir Pereira entende que o alto grau de escolaridade e poder econômico dos representantes não prejudica o trabalho parlamentar. “Todos que chegam a Câmara Federal tem o intuito de trabalhar para melhorar a sociedade. O poder econômico tem interferência somente no processo eleitoral, o que leva a discrepância de gastos. O único objetivo de quem ocupa um cargo eletivo é ouvir segmentos sociais e trabalhar na busca de oferecer oportunidades e identificar soluções aos problemas sociais”.
Influências – A naturalidade dos deputados federais eleitos simboliza a influência que Mato Grosso recebeu de paulistas, mineiros e sulistas a partir de 1977, ano que marca a divisão do Estado e o pouco de influência política que culmine em representatividade na região do Vale do Rio Cuiabá (antiga Baixada Cuiabana).
O empresário Roberto Dorner é natural de Bom Retiro, município de Santa Catarina. Por outro lado, o petista Ságuas Moraes e o progressista Eliene são de Minas Gerais, nascidos em Mineiros e Tiros, respectivamente. Completa a relação de imigrantes o republicano Homero Pereira, natural de Adiamantina, interior de São Paulo.
Na relação dos mato-grossenses estão o republicano Wellington Fagundes (Rondonópolis), Valtenir Pereira (Jaciara), Júlio Campos (Várzea Grande) e Carlos Bezerra (Chapada dos Guimarães). Com relação ao grau de escolaridade, somente Roberto Dorner não tem curso de nível superior. O progressista afirma ter estudado até quarta série.
Avaliação – O filósofo e analista político Manoel Motta avalia que a maior parte da representatividade de Mato Grosso na Câmara Federal ser formada por migrantes é natural diante do processo que ocorreu em Mato Grosso a partir da década de 80. “Os paulistas dominam as atividades do comércio em Cuiabá e com forte participação nos poderes Executivo e Judiciário. Por outro lado, os mineiros estão juntos com goianos dominando o setor da construção civil, um dos mais prósperos do Estado. Isso revela muito a força do poder econômico na política, que é representada no interior de Mato Grosso pelas atividades agrícolas. A ordem social existente aponta que a força política é resultado do poderio econômico e a dinâmica maior economicamente nos municípios do Sul do Estado”, opina.
Com relação ao grau de escolaridade elevado, Motta esclarece que se deve ao alto poder econômico dos parlamentares. “São oriundos de famílias que mesmo não sendo tradicionais cultivam o hábito do estudo. Nossa legislação eleitoral é muito falha e favorece candidatos com maior potencial econômico. Um dos exemplos é o sistema de proporcionalidade que obriga o candidato a percorrer todos os municípios em campanha para obter expressiva votação, o que só pode ser feito por meio da força econômica”.