O ex-secretário de finanças do PT Delúbio Soares negou a existência do mensalão e assumiu os empréstimos milionários não-contabilizados feitos pelo PT em seu depoimento na CPI dos Correios. Delúbio contou que o PT usou em 2003 e 2004 de recursos não-contabilizados para quitar a dívida de campanha de vários membros do PT nos Estados e de membros da base aliada. O petista afirmou que o PT solicitou que as empresas do publicitário Marcos Valério realizassem empréstimos no Banco Rural e no Banco de Minas Gerais (BMG) já que isso não poderia ser feito pelo próprio partido devido à não-contabilização.
Essas dívidas alcançariam um total de R$ 39 milhões. Ao ser questionado pelos parlamentares como o PT irá pagar esse montante, Delúbio afirmou que o partido buscará uma solução, ressaltando que os empréstimos eram necessários para que o partido pudesse cobrir seus gastos.
O ex-secretário de finanças afirmou repetidamente que a não-contabilização das dívidas e a procura dos empréstimos em nome de terceiros não eram de conhecimento oficial da executiva nacional e sim de sua inteira responsabilidade.
Do total, apenas R$ 5,4 milhões foram contabilizados em nome do PT em empréstimos bancários nos quais Marcos Valério foi avalista. O restante teria vindo de empréstimos feitos pelas empresas de Marcos Valério, que dava como garantia aos bancos os contratos de publicidade firmados com o governo.
O petista explicou que as dívidas que motivaram os empréstimos foram feitas pelos diretórios estaduais do partido, que lidaram com um crescimento das candidaturas, o que ocasionou um volume de gastos que eles não podiam saldar. Ao ser questionado pelo relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), se a Executiva Nacional petista não teria conhecimento sobre uma dívida total tão grande, ele contou que os problemas financeiros dos Estados eram passados diretamente para ele.
O tesoureiro licenciado do PT, Delúbio Soares, recusou-se a dizer o valor dos empréstimos que foram destinados aos partidos da base aliada e quais partidos receberam os recursos. Osmar Serraglio lembrou que o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmou que a menor parcela, que era a do PTB, seria de R$ 20 milhões. “A informação de Roberto Jefferson não procede”, respondeu Delúbio.
Saques eram feitos por Valério
Delúbio Soares ressaltou que não acompanhou os saques feitos depois dos empréstimos feitos em nome das empresas de Marco Valério. A indicação dos nomes das pessoas que deveriam receber os valores era feita por Delúbio em uma lista repassada ao publicitário. O depoente disse que não saberia dizer se as informações dadas pela ex-secretária de Valério, Fernanda Karina, de que eram sacados R$ 1 milhão em dinheiro eram verdadeiras.
Segundo ele, o PT não tem nenhuma relação legal com os empréstimos milionários feitos nos bancos, pois o contrato era feito em nome das empresas do publicitário. O PT não teria quitado nenhuma parcela dos empréstimos nem com Marcos Valério nem com os bancos.
Questionado pelo relator, Delúbio explicou que o PT tem dívida de cerca de R$ 3 milhões com o Banco de Minas Gerais. Já a dívida com o Banco Rural deve chegar aos R$ 7 milhões. Ele contou que os gerentes dos bancos têm procurado a diretoria do PT para o pagamento das dívidas, isso antes mesmo do início das denúncias.
Delúbio argumentou que o PT usou de um recurso, a não-contabilização das dívidas, que todos os partidos usam para realizar campanhas e manter a estrutura partidária, o que causou protestos entre os parlamentares da sesssão da CPI dos Correios. O depoente, após dizer que não quer ofender nenhum parlamentar, nenhum partido, afirmou que todas as pessoas no Brasil sabem como se faz uma campanha. “Cada um sabe como se trata um campanha de vereador, como é feita campanha de deputado, como são feitas as campanhas no Brasil”, disse ele.
Delúbio Soares ressaltou que foi depor voluntariamente na Procuradoria Geral da República para se responsabilizar pelas irregularidades. Delúbio ainda afirmou que a CPI poderá contribuir para que se encontre uma solução para resolver as questões financeiras de campanha. “Como financiar os partidos brasileiros, as campanhas eleitorais”, disse o ex-tesoureiro do PT.
Artistas foram pagos com depósito bancário em 2004
Delúbio Soares lembrou que o PT teve despesas grandes na campanha eleitoral de 2004 e enumerou os artistas contratados como Zezé de Camargo e Luciano, KLB, Alceu Valença e Caju e Castanha. O petista explicou que eles eram pagos através de conta bancária e que o contrato mantido não era de exclusividade.
Delúbio nega mensalão
Durante sua apresentação na CPI, Delúbio negou a existência do “mensalão” denunciada pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). “Não tem pagamento de mesadada do PT a parlamentares de nenhum partido. O PT não orienta a compra de votos de nenhum parlamentar. Cada parlamentar deve exercer seu mandato conforme sua consciência, conforme seus compromissos oficiais”, disse Delúbio.