Polícia Federal e Ministério Público não falaram a mesma linguagem na “Operação Curupira”, realizada dia 2 passado, quando procurou desmantelar o esquema de corrupção dentro do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) e Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fema). Num desabafo escrito a um colega de instituição esta semana, o delegado da Polícia Federal, Tardelli Boaventura, fez um relato sobre os erros supostamente cometidos pelo procurador da República, Mário Lúcio de Avelar, na prisão do diretor de Florestas do Ibama, Antônio Carlos Hummel, Por conta disso, surgiram rumores ainda na sexta-feira sobre a remoção de Avelar do MPF em Mato Grosso.
Hummel passou cinco dias preso sem que houvesse indício de envolvimento dele com a organização desarticulada, segundo o delegado. “O depoimento desse senhor (Hummel) foi uma das coisas mais angustiantes que já vivi na Polícia Federal. Aliás, dele só não. Também da senhora Ana Luísa Riva, então gerente do Ibama em Sinop, Mato Grosso, e presa a pedido do Ministério Público Federal (a propósito, ela também é filiada ao PT)”, afirma Tardelli no e-mail enviado ao colega, segundo o jornal “O Globo”.
O delegado conta no e-mail ao colega que se sentiu angustiado porque considerou a prisão de Hummel injusta. Tardelli relatou, de acordo com o jornal carioca, que, a pedido de Avelar, orientou o serviço de inteligência da PF a vasculhar a vida de Hummel por 60 dias. Os investigadores não encontraram nenhum indício que desabonasse as atividades profissionais do diretor de Florestas. Mas, ainda assim, na reta final da apuração, o procurador apresentou uma lista extra com 40 pedidos adicionais de prisão, entre eles o de Hummel.
Tardelli, que comandou as operações da PF para prisão dos supostos envolvidos, menciona um um ríspido diálogo com Avelar e com Elielson Ayres, coordenador do grupo de auditores do Ibama, encarregado das investigações internas. A exemplo do procurador, Ayres também perguntou se o delegado iria pedir a prisão de Hummel. “Respondi (e disse isso posteriormente ao Mário Lúcio) que eu não seria irresponsável de pedir a prisão de uma pessoa sem ter convicção da prática de crime. Engraçado, quando lhe relatava tal episódio, Mário Lúcio me perguntou: ‘E eu, sou?’. ‘Com certeza não, respondi’”, descreve o delegado na mensagem.
O procurador pediu e Tardelli prendeu Hummel. Outros 128 acusados de fraudes no Ibama de Mato Grosso também foram detidos. Cinco dias depois, diante da ausência de indícios contra Hummel, a Justiça relaxou a prisão do diretor. Dos que foram presos, em verdade, a Polícia Federal anunciou o indiciamento de 90. Os números de prisões foram um tanto conflitantes, mas teria passado de 120.
A falta de provas teria ficado mais evidente no depoimento que Hummel prestou antes de ser solto. Tardelli disse que nada tinha a perguntar a Hummel e deixou a tarefa com Avelar. “Ao final do depoimento de Hummel, no momento de preencher o prontuário de identificação criminal, o escrivão perguntou quais seriam os delitos que deveria consignar, ao que o procurador respondeu: ‘Não vamos indiciar, né Tardelli?’. Quase não acreditei”, escreveu o delegado.
Avelar disse que as críticas são uma tentativa da PF de desmoralizar o Ministério Público. Para o procurador, o não indiciamento de Hummel não é significativo. O procurador disse ao jornal “O Globo” que entende que o mais importante foi o resultado geral da operação. “A operação só nasceu porque eu e o Ministério Público estávamos à frente. Toda a tecnologia foi dada por mim. Colocaram a operação na rua, mas a operação não estava madura” – afirmou. “Se a PF acha que agi de forma incorreta que represente no Conselho (Nacional do Ministério Público) ou na corregedoria. A Polícia trabalha para o Ministério Público”.