O empresário Filinto Müller apontou como funcionaria as fraudes para subtração de recursos públicos durante a gestão do ex-governador Silval Barbosa (PMDB). Ele está prestando depoimento à juíza Selma Arruda. Questionado pela promotora Ana Cristina Bardusco, ele relatou que abriu, em nome de terceiro, a empresa SF Assessoria e Eventos. Isso porque ele prestava serviço de lavagem de dinheiro para o ex-procurador do Estado, Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o “Chico Lima”. A empresa foi aberta em nome de um conhecido de Filinto, Sebastião Farias. Segundo ele, ao final da gestão do governador, a quem Chico Lima era ligado, a empresa seria fechada.
Filinto relatou que não fez procuração em nome de Sebastião Farias porque queria evitar qualquer vínculo formal. Ele também relata que falsificava a assinatura do “laranja” quando era preciso fazer movimentações financeiras. “O Sebastião nunca teve acesso a nada, nunca soube de nem R$ 1 eu era movimentado”.
O delator confirma que na transação e desapropriação do imóvel no Jardim Liberdade, em Cuiabá, toda a propina foi paga por meio da SF Assessoria. “Em uma reunião ele me apresentou esse negócio, que a gente iria receber R$ 15 milhões parcelado”.
Do total de dinheiro desviado, Filinto conta que cobrou 3% para poder fazer a lavagem de dinheiro. Segundo ele, toda a negociação sobre a fraude foi feita com o ex-procurador do Estado.
“Enquanto eu fazia os documentos, o Chico Lima me pediu que eu documentasse os 50% que eles iriam receber. Eu fui chamado a uma reunião pelo Chico Lima, no Palácio, e chegando na reunião estava presente o Pedro Nadaf, que até então eu não conhecia, o Arnaldo, o Afonso Dalberto e o Chico Lima. Estavam esses aí. Eu percebi que eram os envolvidos, mas nessa reunião, eles não deixaram transparecer o que cada um estava ganhando. Já era final da tarde mais ou menos. Como eu fazia alguns vários negócios escusos como Chico Lima e até então não conhecia nenhum deles, eu notei que o Chico Lima me chamou lá para dizer: ‘esse é o cara que vai receber, é nesse que eu confio e que vai receber’”.
Filinto também relata que certa vez foi levado por Chico Lima a casa do ex-secretário da Casa Civil, Pedro Nadaf, que lhe disse que R$ 10 milhões do desvio seriam usados para pagar uma dívida do então governador Silval Barbosa com o empresário Valdir Piran e que ele seria o responsável por fazer esse pagamento.
O delator confirmou que na transação e desapropriação do imóvel no Jardim Liberdade, em Cuiabá, toda a propina foi paga por meio da SF Assessoria. “Em uma reunião ele me apresentou esse negócio, que a gente iria receber R$ 15 milhões parcelado”. Do total de dinheiro desviado, Filinto conta que cobrou 3% para poder fazer a lavagem de dinheiro.
Filinto relatou que tirando os R$ 10 milhões que foi pago a Valdir Piran, também foram subtraídos os 3% a que ele tinha parte por ser o operador e o restante era dividido entre Chico Lima, Pedro Nadaf, Marcel de Cursi, Afonso Dalberto e pelo ex-secretário de Planejamento Arnaldo Alves.
O delator contou que toda a vez que recebia o dinheiro que seria lavado, havia muita cobrança por parte de Afonso Dalberto, que seria "desesperado por dinheiro" e também por Valdir Piran, que era o credor de Silval Barbosa. "Ele me ligava umas sete vezes por dia, parecia que eu ia sumir com o dinheiro".
Filinto Müller afirmou que chegou a um ponto em que não mais queria participar do esquema. "Quando deu o problema com o jornalista, que ele descobriu essa falcatruas todas, eu já estava com muito medo, não conseguia mais viver tranquilo e fui fazendo um dossiê, anotava tudo. Quando deu o problema com o jornalista, eu não queria mais receber, só que eu tinha um contrato com o Levi [Machado, advogado da Santorini Empreendimentos, dona do imóvel desapropriado]".
O problema com jornalistas a que ele se refere foi com o jornal Centro Oeste Popular, que extorquiu Filinto Muller, o ameaçando noticiar o caso ele não pagasse R$ 100 mil. A extorsão chegou até mesmo ao valor de R$ 1,5 milhão. Dessa forma, os pagamentos passaram a ser feitos em cheques de Levi Machado e não mais em transferências.
Filinto contou que desde o início do esquema, já estava consciente de que estava cometendo um crime e que, por conta disso, preocupou-se em fazer o dossiê registrando os detalhes dos pagamentos e recebimentos de cheques. Uma precaução também foi em sempre fazer manutenção das senhas de seu computador para evitar ser descoberto.
Após receber o dinheiro de Levi Machado, Filinto conta que sempre aguardava a orientação de Chico Lima e Pedro Nadaf sobre como deveria ser usado o dinheiro. Um dos repasses de propinas foi feito a Arnaldo Alves, em forma de cheques, no período da noite, no Centro Político Administrativo. Ele diz não se recordar dos valores dos cheques.
O delator afirmou que nunca chegou a tratar diretamente com nenhum dos membros da organização diretamente ou por telefone, com exceção da reunião no gabinete de Chico Lima. Segundo ele, era o ex-procurador quem fazia a intermediação e lhe contava das cobranças que vinha recebendo. Em uma dessas cobranças, ele teve que depositar dinheiro – valor não informado – para o irmão de Marcel de Cursi, que vivia em São Paulo.
Filinto relatou que a maioria dos pagamentos que fez a Valdir Piran ocorreram por meio de TED a empresas indicadas pelo credor. Dos R$ 10 milhões, cerca de R$ 5 milhões foram diretamente para contas do Grupo São Benedito, que atua no ramo de construção. A outra metade foi pulverizado em outras contas, cheques e R$ milhão em espécie, segundo o delator.
Segundo ele, Piran sabia que a origem do dinheiro era a desapropriação de imóvel. O credor de Silval Barbosa também teria exigido um cheque caução de R$ 7,5 milhões no início da negociação, que também foi feita com o filho dele, Valdir Piran Júnior. Ao final do pagamento dos R$ 10 milhões, o cheque foi rasgado.
Filinto Müller afirmou que acredita que o valor que Silval Barbosa devia a Valdir Piran era “bem maior” do que os R$ 10 milhões que ele efetuou o pagamento. Isso porque, após a deflagração da operação, soube pela imprensa que o empresário chegou a ir no Palácio Paiaguás e tentou agredir o então governador no mesmo período em que já estava recebendo o crédito.
A pedido da promotora, Filinto Müller folheou página por página do processo para confirmar veracidade de informações anotadas por ele em seu dossiê e detalhar pagamentos feitos com dinheiro desviado da desapropriação.
Já temendo uma investigação futura, Filinto relatou que combinou com Levi Machado e Antônio Machado, dono da Santorini Empreendimentos, uma história que todos contariam caso fossem chamados a prestar esclarecimentos. A invenção era que a SF Assessoria e Eventos havia comprado 50% das ações da empresa de Antônio Machado. Por conta disso, eles forjaram um contrato em que novamente Filinto falsificou a assinatura de Sebastião Farias, o “laranja” utilizado como dono da SF Assessoria. Tal contrato só foi elaborado após o jornal Centro oeste Popular descobrir a fraude e começar a extorquir Filinto.
A defesa de Silval Barbosa, por meio do advogado Válber Melo, questionou a Filinto se ele já teve algum contato direto com o ex-governador e ele relata que uma única vez “trombou” com Silval na empresa de Valdir Piran. Ele também afirma que não soube mais detalhes sobre a dívida do ex-governador com o empresário, apenas que devia fazer o pagamento de R$ 10 milhões.
Questionado pelo advogado Goulth Valente, que faz a defesa do ex-secretário Marcel de Cursi, se houve algum contato com o mesmo, Filinto negou, dizendo que nunca o viu pessoalmente e que somente sabia da participação dele no esquema pelo que Chico Lima e Pedro Nadaf lhe contavam. Sobre o depósito ao irmão de Marcel de Cursi, Filinto diz que não sabia se a conta era realmente desta pessoa, que apenas seguiu orientação de Chico Lima.
O advogado João Cunha, da defesa de Chico lima, perguntou se Filinto fez algum depósito na conta de Marcelo Maluf e ele negou. O advogado Leonardo Moro, da defesa de Sílvio César Corrêa Araújo, questionou sobre a relação entre ambos e Filinto relatou que não chegou a conhecê-lo pessoalmente, apenas ouvia falar por Chico Lima ou Pedro Nadaf. Moro também pergunta se o delator gravou alguma de suas conversas com os outros envolvidos no esquema, ele diz que não.
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(Atualizada às 16h30)