Em depoimento, hoje, à juíza da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Selma Arruda, o empresário Alan Malouf confirmou que é verdadeira a denúncia contra ele sobre propina de R$ 260 mil. “Eu nunca participei de reuniões com empresários do ramo, nunca fui na Seduc, mas me beneficiei com o valor de R$ 260 mil”, confirmou o empresário, acusado de envolvimento no esquema de fraude em licitações de obras da Secretaria de Estado de Educação (Seduc).
Malouf também reafirma que doou cerca de R$ 2 milhões para a campanha do então candidato ao governo do Estado, Pedro Taques (PSDB). Após as eleições na qual Taques sagrou-se vitorioso, ele explicou que acompanhava a equipe de transição por ser próximo do governador, trocando ideias, segundo ele, “sem maiores interesses”. “Ele [Taques] está ciente. Ele esteve ciente”.
Ainda no depoimento, Alan afirma que foi um dos coordenadores de campanha de 2014 e garante que o esquema já estava acontecendo na Seduc para arrecadar dinheiro para pagar dívidas de campanha de Pedro Taques, antes de sua entrada e de Giovani Guizardi no esquema. O secretário de Estado de Comunicação, Kleber Lima, informou que o governo vai emitir uma nota sobre o assunto ainda nesta tarde.
O empresário afirma que, por volta de março ou abril de 2015, foi procurado pelo empresário Giovani Guizardi, que demonstrava interesse em prestar serviços de engenharia à Seduc, já que havia colaborado com R$ 200 mil em caixa dois para a campanha eleitoral do governador Pedro Taques. "O próprio governador sabe disso, ele tem ciência disso aí”.
Diante disso, ele se reportou ao então secretário de Educação, Permínio Pinto, para fazer essa “aproximação”. Ele disse à magistrada que não conhecia Permínio e que só o conheceu após ele assumir o cargo de secretário de Estado, sob a indicação do deputado federal Nilson Leitão (PSDB).
Malouf foi citado na delação premiada do empresário Giovani Guizardi, dono da Dínamo Construtora Ltda., como financiador de um suposto “caixa dois” da campanha do governador Pedro Taques (PSDB), em 2014.
Segundo Guizardi, o empresário teria tentado recuperar os R$ 10 milhões investidos na campanha com o esquema instalado na Seduc para fraudar as licitações de obras de construção e reformas de escolas. Sobre Guizardi, Malouf diz que recebeu dinheiro três ou quatro vezes, sendo que a primeira vez o encontro aconteceu em sua residência e as demais em sua empresa.
Malouf também confirmou à juíza Selma Rosane que o ex-servidor Fábio Frigeri era indicado por Permínio e atuava como facilitador interno no esquema de propinas, mas garante que nunca esteve com ele.
Em relação ao empresário Giovani Guizardi, Malouf confirma que recebeu valores de propina. "Ele passou pra mim, eu sei que ele passou pro Permínio, pagou algumas contas do Permínio e uma vez ele pediu pra eu entregar um envelope para o secretário e para Guilherme Maluf no total de R$ 40 mil. Está no depoimento".
Sobre débitos relativos ao pleito, Malouf afirmou que no final da campanha existia valor a ser pago e houve rateio. "Eu participei desse pagamento, como se fosse um empréstimo, para saldar essa dívida de campanha, obviamente com o conhecimento do governador".
O esquema foi desarticulado com a deflagração da Operação Rêmora, no dia 3 de maio pelo Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) e teve outras duas fases onde foram presos Permínio Pinto, em julho, e o próprio Alan, em dezembro do ano passado.
Segundo o dono de buffet, logo após a primeira fase da operação Rêmora, ele procurou o governador Pedro Taques para pedir providências pois ficou preocupado em também se preso. Eles chegaram a se reunir no Palácio Paiaguás, conforme o réu confesso.
“Se não me engano, foi por volta do dia 5 ou 6 de maio de 2015, quando houve a operação e o Giovani foi preso, eu passei uma mensagem pro próprio governador que precisava falar com ele. E ele falou: Passa no Palácio que eu estou em Brasília. E assim, por volta de oito e meia da noite, eu fui lá e estava ele e o Paulo Taques, secretário da Casa Civil. Relembrei ele que o Giovani, a empresa do Giovani tinha doado R$ 200 mil para campanha dele, o que ele já estava sabendo e que ele estava fazendo acerto para pagar as dívidas da campanha. Ele [Pedro Taques] pediu um pouco de tranquilidade, pediu calma que ele iria resolver esse problema. Acabou não se resolvendo", afirmou Alan Malouf. em seguida, veio a prisão do Permínio, eu alertei novamente, mas eu já sabia que ele ia tratar do assunto. Falou para eu ficar tranquilo que ia tratar do assunto e dar um jeito de resolver e soltá-los. Mas isso não aconteceu, tanto é que eu fui preso”, afirmou Alan Maluf.
Ele ressaltou ainda que procurou o governador por duas vezes, após as prisões de Giovani e de Permínio. "Em seguida, veio a prisão do Permínio, eu alertei novamente. ele falou que eu ficasse tranquilo, que ele ia tratar do assunto e dar um jeito de resolver e soltá-los. Mas isso não aconteceu, tanto é que eu fui preso".
As investigações da operação Rêmora apontaram que um grupo composto por servidores públicos e empresários se reunia e combinava, mediante pagamento de propina de 5%, fraudes e direcionamentos de 23 obras para reformas e construções de escolas estaduais orçadas em mais de R$ 56 milhões.
Sobre as informações prestadas por Alan Malouf em depoimento à Justiça, o deputado federal Nilson Leitão afirma que as declarações do depoente são vazias, baseadas em conversas que ouviu de terceiros, sem qualquer relação com a verdade; reafirma também estar sempre a disposição para prestar esclarecimentos que se façam necessários.
Em nota, o Maluf reafirma que não tem envolvimento com qualquer possível irregularidade ocorrida na Secretaria de Estado de Educação e que confia na Justiça, onde diz que comprovará sua inocência.
(Atualizada às 17h45)