Os moradores do entorno da rodovia BR-163 (Santarém-Cuiabá), estão no limite da tolerância e está sendo difícil controlar manifestações gigantescas. É o que diz Antonio Jorge Baldo, presidente da Associação de Desenvolvimento Regional para a Conclusão da BR-163 (Comitê BR-163) e defensor da conclusão da obra pelo próprio governo federal, sem a privatização da rodovia. Em entrevista a O LIBERAL ele fala das esperanças que tem em o governo federal iniciar as obras ainda este ano, cobra o empenho das bancadas federais paraense e mato-grossense para alocar recursos no Orçamento da União para o asfaltamento e destaca a falta de entrosamento entre os dois Estados.
A entidade presidida por Jorge Baldo vem lutando incansavelmente pelo asfaltamento da Cuiabá-Santarém e já liderou dois “caminhonaços” de Mato Grosso a Santarém, realizados para chamar a atenção do governo federal para a importância da obra. Baldo ataca a intenção de um grupo de empresários de privatizar a rodovia e defende até mesmo o Ministério do Meio Ambiente, considerado por muitos um inimigo do asfaltamento.
A rodovia BR-163 é considerada pelo setor produtivo de vital importância para o país. O que a torna tão importante?
Jorge Baldo – Em virtude de agregar ao produtor rural algo em torno de R$ 5 a saca de soja exportada via Santarém, comparativamente com Paranaguá. Inclusive é esta nova rota que proporcionará as condições para que tenhamos grandes complexos industriais no setor do agronegócio, gerando empregos, distribuindo renda, em fim, promovendo o efetivo desenvolvimento na área de influencia não só do Estado de Mato Grosso, mas também no nosso coirmão Estado do Pará.
Mas para os governos que passaram e o que está agora na Presidência da República a rodovia parece não ter a mesma importância. Porque, na sua opinião, isso acontece?
Jorge Baldo – Os governos passados simplesmente enganaram o povo, aliciaram as pessoas para que procedessem a ocupação do território amazônico pautados no slogan “Integrar para não entregar”. Era a premissa do então Plano de Integração Nacional (PIN). O atual governo, em que pese não ter iniciado as obras, entendeu que a BR-163 é muito mais do que apenas uma via para transporte. Entendeu que é um empreendimento de expressão estratégica do ponto de vista do desenvolvimento econômico, social e de segurança nacional.
Justifico dizendo que nenhum governo investiu tanto em planejamento, discussão com a sociedade, em consultas publicas, audiências publicas etc…. Tanto isso é verdade que os obstáculos outrora existentes hoje estão plenamente superados. O que precisa agora é alocar o recurso para inicio das obras, pecado cometido pelas bancadas que nunca se mobilizaram nesta direção.
É preciso considerar que as tratativas da BR-163 vinham sendo discutidas dentro de um programa de privatização. Um absurdo proposto por meia dúzia de oportunistas que só pensam neles e o povo que permaneça na escuridão. É preciso prestigiar todos os cidadãos, portanto, defendo intransigentemente que esta obra seja executada pelo Exército Brasileiro, com recursos públicos, em forma de convênio. É preciso executar uma obra com o embasamento da racionalidade. O Exército já provou isto faz muito tempo, sem contar que a presença do Exército nos proporcionará segurança.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em entrevista ao programa Bom Dia Brasil, afirmou que seu ministério conseguiu barrar o asfaltamento da rodovia, porque seria um desastre ambiental. Essa não seria uma prova de que o governo federal não se entende em relação à necessidade de se concluir esta obra?
Jorge Baldo – Absolutamente. Eu diria que a ministra Marina é hoje, talvez, uma das maiores incentivadoras desta obra. É lógico que pautada nos projetos que acabamos de nos referir. A BR-163 passará a ser um grande laboratório, conciliando-se desenvolvimento com sustentabilidade. O MMA hoje é um grande aliado.
Há três anos o governo iniciou as discussões para o asfaltamento. Neste tempo, a forma de execução da obra já mudou três vezes. Inicialmente seria feita pelo próprio governo, através do Exército. Depois, pensou-se nas Parcerias Público Privadas (PPPs) e, por último, previa-se a concessão à iniciativa privada. Nenhuma delas, no entanto, saiu do papel. Na sua opinião, porque isso acontece? E qual destas seria a melhor forma de executar o asfaltamento?
Jorge Baldo – Indiscutivelmente é da forma que todo o povo brasileiro quer, principalmente nós que estamos na área de influência. Tratando-se de BR, rodovia federal, a responsabilidade é única e exclusiva do governo federal. Porque atribuir mais o ônus de pagamento de construção de rodovias ao povo? Já não chega a carga tributária? Cadê o dinheiro da CIDE, o tão falado imposto sobre os combustíveis?.
Aquela hipótese de consórcio, privatização, é coisa de malandro, é coisa de oportunista que surgiu num momento de rara exceção de preço da soja a R$ 45,00 a saca. Hoje está a R$ 20,00 a saca. Cadê os milagrosos quem fariam a estrada, estão aonde, que não se houve mais falar desses malandros?. Essa intervenção serviu apenas para desvirtuar o processo e criar uma falsa expectativa, tanto para o governo quanto para o povo, que está no limite da tolerância.
Você acredita, então, que o governo Lula comece esta obra este ano? Há indicativos para isto?
Jorge Baldo – Pronuncio-me em caráter pessoal. Eu acredito que o presidente Lula não será omisso diante desta relevante obra de interesse nacional. Entendo que o tempo de maturação já passou e agora é preciso materializar o nosso sonho através de ações. Sem querer ser repetitivo, o não início desta obra em 2006 poderá gerar problemas de proporções incontroláveis.
Como revoltas e protestos ao longo da rodovia…
Jorge baldo – Algo muito mais danoso do que vocês possam imaginar. Estou na presidência do Comitê BR-163 trabalhando e apagando fogo até quando não sei. Insisto: O povo está no limite da tolerância e chega a um ponto em que o cidadão anula a razão e age pelo instinto.
Do que estamos falando então?
Jorge Baldo – Prefiro deixar para a imaginação dos seus leitores.
Poderíamos afirmar, então, que nós estamos à beira de uma convulsão social na região?
Jorge Baldo – Eu não diria convulsão social. Diria sim, de estratégias pesadas para chamar a tenção do mundo.
Já existe mobilização neste sentido, então?
Jorge baldo – São apenas conversas de bastidores que chegam até nós. Como já falei, trabalhamos na operação bombeiro, sugerindo paciência que 2006 será o ano das realizações.
Segundo a bancada paraense no Congresso não havia nem mesmo previsão de recursos para a BR-163 na proposta de Orçamento feita pelo governo para 2006…
Jorge Baldo – Seria bom perguntar a estes parlamentares se eles não entenderam a importância da rodovia para seu Estado e o que é que estão fazendo no Congresso? Hoje nós somos compelidos a jogar pesado dentro da equipe econômica, ou seja, no Executivo, uma vez que o Legislativo se comportou de forma totalmente omissa.
O governo prometeu mesmo R$ 300 milhões para iniciar a obra?
Jorge Baldo – Na verdade não prometeu, foi uma propositura nossa e vamos correr atrás para torná-la realidade.
Há sinais de que esse dinheiro vai ser liberado?
Jorge Baldo – É público e notório que a União tem recursos, tanto é que antecipou o pagamento da dívida com o FMI. O BNDES tem dinheiro saindo pelo ladrão, inclusive era a instituição financeira que iria financiar a iniciativa privada. O que é preciso é determinação e vontade política.
No Oeste do Pará há um desânimo absoluto quanto ao início das obras este ano. E no Mato Grosso, qual é a situação?
Jorge Baldo – Aqui trabalhamos com uma grande expectativa. Estamos aguardando um agendamento de uma reunião em Brasília pelo Secretário Executivo do Plano BR-163. Creio que, no nosso retorno, teremos definitivamente uma posição.
Existe um pensamento a cada dia mais evidente na sociedade de que as ONGs querem impedir a realização de grandes obras na Amazônia, como a BR-163. Você concorda com este raciocínio?
Jorge Baldo – Absolutamente não. A questão ambiental está totalmente superada, mesmo porque temos convicção que, referente a estes mal-feitores nosso país ainda tem soberania.
Na sua opinião, falta empenho do Pará em defesa deste projeto?
Jorge Baldo – Não só no Pará, quanto no Mato Grosso também. Enquanto nós não aprendermos a fazer a dever de casa, certamente teremos que pagar o ônus do castigo.
Falta mais entrosamento entre os dois Estados para defender a conclusão da BR-163?
Jorge Baldo – Sem sombra de dúvida. Se não houver uma efetiva integração é possível que venhamos a sofrer os problemas do atraso por muito tempo. Creio que ao iniciar as obras da rodovia tenhamos que fortalecer as ações para a criação de um novo Estado no Mato Grosso e irmaná-lo ao futuro Estado do Tapajós, constituindo uma província de desenvolvimento no coração da Amazônia.