A Comissão Nacional da Verdade nasce no governo da presidente Dilma Rousseff (PT), que sofreu na pele as atrocidades patrocinadas pelo regime ditatorial, conhecido como “os anos de chumbo”. A meta é redescobrir o Brasil, através das investigações que deverão trazer à tona a “verdade” apagada da memória da nação. Mas para dar certo, precisa criar raízes nos estados, como Mato Grosso, a partir de trabalhos a serem desenvolvidos por comitês, responsáveis por investigações.
No Estado, as ações estão em andamento com apoio direto de Iara Pereira Xavier, integrante do Comitê do Distrito Federal, e do coordenador do Projeto de Direito à Memória e à Verdade da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, ex-deputado Gilney Vianna. O Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso, por meio do integrante pastor Teobaldo Witter, dá passos para a implementação do comitê, que deverá ser lançado oficialmente no início do próximo ano. As ações a cargo de entidades civis organizadas deverão receber respaldo da Assembleia Legislativa. Presidente da Comissão de Direitos Humanos do Poder Legislativo, deputado Emanuel Pinheiro (PR), disse que estuda as vias legais para colaborar com os trabalhos. Analisa a possibilidade de constituir ações a partir de apresentação de projeto de resolução.
Iara chama a atenção para a importância dos comitês, que deverão subsidiar as investigações com complementação de informações e projeção, espera-se, de novos dados. “Só vai funcionar se tiver pressão da sociedade. Daí a importância de se organizar. O tempo é curto mas se organizando temos mais chances de conseguir informações sobre atingidos desde 1964”, frisou. E lembrou que não há previsão legal sobre a construção das instituições estaduais.
Gilney destacou a necessidade da concretização dos trabalhos, “para se conhecer a fundo o que ocorreu no período” em que a população foi calada. Junto com o lançamento do comitê no Estado, ele apresentará um livro, “Retrato da Repressão Política no Campo”, elaborado por professores de universidades, com participação de docentes do Centro-Oeste. Lembrou que Mato Grosso, até o momento, contabiliza 2 mortos e 1 desaparecido no período, destacando como exemplo o caso de Jane Vanini, natural de Cáceres, que foi morta em 1974 no Chile. Uma vítima da ditadura de Augusto Pinochet.
Através das ações do comitê poderão ser revelados novos casos. Um dos eixos é o esclarecimento e a busca pela punição dos responsáveis. Professores da Universidade Federal de Mato Grosso como Waldir Bertúlio e o ex-reitor Paulo Speller, integram o mapa de perseguidos e presos pelo regime militar. “Cabe ao comitê fazer uma investigação para rememorar”, acrescentou Gilney.
Membro do Fórum de Direitos Humanos e da Terra, Inácio Werner, disse que é fundamental que se crie nos municípios e estados comitês para ajudar nos trabalhos. Ressaltou a preocupação com as ações, chamando a atenção para a importância da atuação dos governos no processo. “É importante porque estamos com demanda e precisamos trabalhar nesse sentido”, pontuou.
Entre 1964 e 1985, o Brasil viveu sob o julgo de uma ditadura civil-militar que sequestrou, torturou, manteve em cárceres clandestinos, assassinou e ocultou os corpos de milhares de cidadãos que não se sentiram intimidados e lutaram pelo restabelecimento dos direitos constitucionais do país.