No ano que vem está prevista a aposentadoria de dois conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Ari Leite de Campos e Gonçalo Pedroso Branco de Barros deverão deixar seus cargos pelo meio compulsório de idade – caso o Congresso Nacional decida manter o atual sistema de contagem de tempo de trabalho. Com vantagens comparadas ao de desembargadores – entre as quais a aposentadoria vitalícia – o chamado “cargo dos deuses” já tem pelo menos quatro interessados: Celcita Pinheiro, esposa do senador Jonas Pinheiro; Alencar Soares, atual deputado estadual; Clóves Vetoratto e Marcos Henrique Machado, ambos secretários do governador Blairo Maggi.
E uma das vagas a serem abertas no TCE deverá influenciar diretamente na formação da chapa a ser encabeçada pelo governador no seu projeto de reeleição. Se não na totalidade, pelo menos em parte. É a que envolve os interesses da deputada federal Celcita Pinheiro. Na verdade, interesse maior do suplente de senador Gilberto Goelnner. Amigo pessoal do governador Maggi, Goelnner seria beneficiado com a ida de Celcita para o TCE. Nesse caso, no acordo, o senador Jonas entraria como vice na chapa de Maggi. “O casal pantaneiro sairia de Brasília de volta para Cuiabá” – disse uma fonte.
Essa articulação daria ainda lastro para mais uma “cajadada” do Governo: a amplificação das possibilidades de eleição de Helmut Laswich, atual suplente de deputado federal, ficar definitivamente na Câmara Federal. O governador Maggi nunca escondeu que gostaria de ver Laswich deputado federal. Efetivado no cargo, o político da região de Lucas do Rio Verde ainda teria tempo para buscar apoio político para seu projeto em 2006.
A vice para o senador Jonas Pinheiro, por outro lado, cairia como uma luva agora. Com dois mandatos como senador, Jonas há anos vem encenando encerrar a carreira. Poderia o fazê-la como governador do Estado. No acórdão, uma cláusula da contingência política prevê que Maggi deixaria o Governo em 2010. Até há pouco tempo, o entendimento era de que o governador apareceria como opção ao eleitorado nacional para disputar a eleição presidencial. Hoje, talvez não. No Paiaguás, o assunto presidência da República está temporariamente arquivado. “O sonho ficou muito distante” – disse. Na pior das hipóteses, Maggi buscaria uma vaga ao Senado Federal.
“Mas tudo isso – lembra um experiente formulador político de livre trânsito no Governo – seria necessário que o bom senso dos deputados federais e senadores prevalecesse, derrubando imediatamente a proposta da verticalização”. De fato. Se mantida as atuais regras de composição política, PFL e PPS dificilmente, no quadro atual, caminharão juntos na eleição majoritária. Em nível nacional, o PFL está próximo de entendimentos com o PSDB, que aqui no Estado é ferrenho opositor do governador. “Ainda assim, se mantiver a verticalização, as chances de Celcita ficar com uma das vagas é grande, já que o senador Jonas já tem tudo para se aposentar também”.
Há tempos se fala no nome de Celcita para ocupar uma vaga no Tribunal de Contas. No começo do ano, o próprio Governo entabulou entendimentos e sondagem junto ao conselheiro Ary Leite de Campos para saber se ele, de fato, entraria com pedido de aposentadoria. Para dar chance a Helmut Laswich aparecer com firmeza no cenário político estadual, a articulação previa a vinda de Celcita para a Secretaria de Educação, onde ficaria até a aposentadoria de Ari. Porém, os ditos não progrediram e o PFL se afastou um pouco do Governo.
No interesse do deputado estadual Alencar Soares, político de dois mandatos na Assembléia Legislativa, há também questões eleitorais diretamente envolvidas. A entrada de Alencar no TCE tem especial apoio do deputado Humberto Bosaipo, ex-presidente da Assembléia Legislativa. De volta a cena política com toda ênfase, Bosaipo só teria a ganhar com a “aposentaria política” de Alencar. O político pefelista “ganharia” sem maiores conseqüências a parte da base política de Soares, com quem divide a região do Araguiaia. Pela vaga corre ainda por fora, na Assembléia Legislativa, o deputado Zeca d’Ávila.
Os nomes de Clóves Vettoratto e de Marcos Henrique Machado, por outro lado, não têm influência eleitoral. Vetoratto é secretário de Desenvolvimento Rural do Estado. Ele assumiu o cargo com a queda de Otaviano Pivetta. Antes, Clóves era secretário de Assuntos Estratégicos. Junto com o promotor Marcos Henrique Machado, que também já teria insinuado interesse em chegar ao cargo, integra o circula da mais absoluta e estrita confiança do governador.