A saúde pública é uma das prioridades dos principais candidatos ao governo do Estado nas eleições 2014, José Riva (PSD), Pedro Taques (PDT) e Lúdio Cabral (PT), com “afunilamento de discurso”, independente do embate eleitoral. As dificuldades na área, verificadas não apenas no Estado e em Cuiabá, mas situadas em contexto de abrangência nacional, são admitidas pelos líderes de chapa majoritária. É unânime o apontamento dos entrevistados por A Gazeta, de que as OSS (Organizações Sociais de Saúde) vigentes no Estado, devem ser no mínimo reavaliadas, ou extinto o modelo de gestão. No campo das propostas, se verifica outra meta em comum dos postulantes: implementar um hospital regional na capital. Eles também se espelham em outros aspectos, como o objetivo de investir potencialmente no setor, permitindo uma gestão maximizada nos municípios, através dos hospitais regionais.
A saúde é apontada por eles como tema prevalente a receber atenção especial, com otimização de ações e recursos, a partir do dia 1 de janeiro de 2015.
As OSS foram anunciadas na administração de Mato Grosso em janeiro de 2011, quando assumiu a pasta o ex-secretário e condenado no episódio do mensalão, Pedro Henry (PP). No período, Henry, então deputado federal, prometeu reestruturar a saúde estadual, assegurando ser esse sistema inovador no âmbito da melhor gerência da verba pública. O que se conferiu foi praticamente o contrário, com série de problemas ocasionados ao governo do Estado, pela questionável gestão das OSS, leia-se a Farmácia de Alto Custo com carência constante de medicamentos destinados à população.
Crivo sobre as organizações sociais de saúde – É nesse panorama que o candidato José Riva acentua sua posição. “Primeiro esse modelo de OSS definitivamente não dá certo. Ele encarece o serviço de saúde.Quando implementado, ele reduziu o número de atendimento, a qualidade em alguns locais até melhorou e em outros piorou e o Estado tem que admitir: quando ele terceiriza determinado serviço, ele admite a falência do serviço público. Nós temos grandes servidores com conhecimento para fazer a gestão da saúde”, frisou o pessedista.
Se reportando às Organizações Sociais de Saúde, Taques destaca que “o Estado não pode ser um expectador do sofrimento da população. Em Mato Grosso, assistimos uma série de falhas de gestão que repercutem diretamente na vida do cidadão. A administração dos hospitais, por exemplo, foi terceirizada e entregue às Organizações Sociais de Saúde. Foi escolhido um modelo arriscado de gestão das unidades de saúde, que tem possibilitado corrupção e péssimo retorno à população”, garantiu Taques.
Lúdio mantém a postura crítica sobre as OSS, sugerindo mudanças. “Primeiro o modelo gerencial da saúde no Estado que nós queremos mudar, que é o gerenciamento dos hospitais regionais por meio de contratação de OSS. Tem um custo alto e sacrifica o conjunto do sistema de saúde e o SUS. Devemos aportar recursos diretamente nos municípios, por transferência automática fundo a fundo, para ampliar a cobertura de saúde da família no Estado. Dos atuais 62% para no mínimo 85%, para assegurar a ampliação do acesso a saúde nas comunidades”, assinalou o petista.
Hospital regional – Taques é enfático ao avaliar a urgência sobre a construção de um hospital regional. “O acesso à saúde é um direito fundamental do cidadão, previsto na Constituição. No meu governo, vamos mudar a realidade da saúde no Estado. Uma das prioridades é construir um hospital público na capital mato-grossense com mais de 350 leitos. Não é correto o Estado virar as costas para Cuiabá e Várzea Grande. Um hospital estadual nesta localidade será importante para atender parte da população do interior”, disse o líder do PDT.
Lúdio aponta o novo Hospital Universitário Julio Muller e a reprojeção do Hospital Central, como meta na Capital. “Em Cuiabá nós vamos concluir a obra do novo Hospital Universitário Julio Muller, com 250 leitos, para alta complexidade, que vai funcionar sobre a gerência da UFMT. Onde hoje é o atual HUJM o Estado vai implantar um hospital materno infantil, com foco especialmente para o cuidado das crianças, e nós vamos reprojetar o Hospital Central do Estado para fazer dele também um serviço de referência para altíssima complexidade nas áreas em que o HUJM não dê conta de suprir em seu funcionamento. Vamos fazer parcerias com as instituições formadoras de recursos humanos na saúde”, prometeu.
Riva enfatiza sua proposta nesse viés: “o que precisa antes de mais nada é uma política de prevenção, e eu cito algumas situações que contribuem para o estrangulamento da rede hospitalar. Cito a questão dos acidentes, a questão das brigas, esfaqueamentos, a dengue, são questões que dá para investir na prevenção. Isso reduz a demanda na rede hospitalar, mas não resolve. Então nós precisamos por exemplo, construir um grande hospital estadual em Cuiabá e quando escolhi o meu vice, um médico (Aray Fonseca), é porque eu dei um indicativo de que a saúde será prioridade absoluta. Nós não podemos admitir que sequer um cidadão do nosso Estado deixe de ser internado por falta de vaga de leito de UTI”, disse Riva.
Foco sobre as unidades regionalizadas nos municípios – Revisão da ótica administrativa sobre os municípios é defendida por Riva, para ampliar a segurança do atendimento. “O Estado acaba gastando muito com UTI aérea, investindo muito em ambulância, como já ocorreu no passado. Hoje sequer temos esse programa de ambulância. A ideia é com esse hospital, com UTI Pediátrica, com ala infantil, com plantão odontológico, aliado ao fortalecimento dos hospitais regionais onde a gente pretende incrementar um pouco mais os leitos e UTIs, porque isso desafoga Cuiabá e Várzea Grande, com certeza nós resolvemos o problema da saúde. Eu conheço a realidade do Estado, sei o quanto ela é difícil. A situação do Estado não é confortável, mas nós vamos resolver o problema da saúde”, sublinhou o pessedista.
Nesse ambiente, o candidato do PDT prima pela descentralização das ações. “A primeira missão do nosso governo será fazer funcionar os hospitais regionais. Quero deixar claro que o Estado vai assumir imediatamente a gestão dos hospitais regionais onde o atendimento for de péssima qualidade à população. Vamos investir na atenção básica; ampliar a rede ambulatorial e hospitalar, os números de leitos e UTI’s, e os serviços de média e alta complexidade. Em linhas gerais o Estado tem que promover a descentralização e prestar apoio técnico e financeiro aos municípios, implementar e monitorar redes hierarquizadas do SUS e executar programas de saúde relacionados aos serviços e ações de média e alta complexidade”, assevera Taques.
Lúdio pontua a revitalização dos hospitais municipais como um dos itens prioritários. “Também apoiaremos os municípios para revitalizar os hospitais municipais de pequeno porte. Mais de 50 municípios tem hospitais municipais de pequeno porte que estão subutilizados. Alguns inclusive desativados. Vamos reorganizar a estrutura física, equipar e buscar profissionais das especialidades básicas para colocar gradativamente esses hospitais em funcionamento para assegurar o atendimento, como em relação ao parto normal, cesariana, e outros. Procedimentos mais básicos no âmbito hospitalar poderão ser feitos no próprio município ou em município muito próximo de onde as pessoas estão”, assinalou o petista.
Os candidatos José Roberto (PSOL) e José Marcondes (PHS) não responderam a entrevista.