O empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, irritou deputados e senadores da CPMI, esta tarde, ao não responder nem uma pergunta sobre os diversos esquemas e irregularidades em licitações de obras públicas e tráfico de influência em governos e prefeituras, além de sua ligação com o senador Doméstenes Torres, que em gravações feitas pela Polícia Federal aparece como defensor dos interesses do contraventor. Ele afirmou que, “constitucionalmente fui advertido pelos advogados para não dizer nada e não falarei nada aqui, somente depois da audiência que terei com o juiz. Se achar que posso contribuir, pode me chamar que responderei a qualquer pergunta”.
A audiência de Cachoeira na justiça está prevista para acontecer no próximo dia 1º. Ele é defendido pelo ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos. O contraventor chegou no Senado acompanhado por agentes da Polícia Federal.
De acordo com o Terra, o primeiro a falar foi o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Diante da negativa de Cachoeira em responder, ele desistiu de continuar as perguntas. Em seguida, o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) exigiu a convocação dos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). Mais cedo, diante do silêncio de Cachoeira, Francischini se exaltou: “aqui não tem um monte de palhaços”. Depois, o deputado Filipe de Almeida Pereira (PSC-RJ), questionou se Cachoeira cogitava a delação premiada, o que o bicheiro se recusou a responder.
Em seguida, o deputado Rubens Bueno (PPS-PR) disse à Cachoeira: “parodiando o que aconteceu aqui esta semana, nós não somos teu”, em referência à mensagem de celular enviada do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) ao governador do Rio, Sérgio Cabral, flagrada pela câmera do SBT.
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) se absteve de fazer perguntas diante da postura de Cachoeira em não se pronunciar, e partiu para o ataque, classificando o contraventor de “marginal que sai da (penitenciária da) Papuda e mantém-se com a arrogância dos livres”. Em seguida, o senador Randolfo Rodrigues (Psol-AP) fez diversas perguntas a respeito das relações de Cachoeira com a empreiteira Delta. Depois, questionou o contraventor a respeito de sua relação “muito próxima” com sua ex-mulher, citando uma série de grandes depósitos para ela e perguntando se as transferências de dinheiro eram uma “gentileza de ex-marido”. “(Fico) calado, senhor”, se limitou a responder o bicheiro.
A senadora Kátia Abreu (PSD-GO) propôs o encerramento da sessão de depoimento, afirmando que ela se tornava “ridícula”. “Se estamos perguntando para uma múmia, o que as pessoas em casa vão pensar de nós?”, afirmou, acrescentando que todos faziam “papel de bobo para um chefe de quadrilha com cara cínica”. A sugestão foi apoiada pelo deputado Sílvio Costa (PTB-PE), que criticou a comissão por chamar primeiro Cachoeira a depor, e não o “baixo clero” da organização criminosa. Na avaliação do parlamentar, a audiência se tornava um “espetáculo ridículo e penoso, embora constitucional”.
O deputado federal Chico Alencar (Psol-RJ) discordou dos colegas que afirmaram a inutilidade da sessão e afirmou que o silêncio “cínico e desrespeitoso” de Cachoeira era uma “confissão de culpa”.