A Justiça de Mato Grosso determinou o bloqueio de mais de R$ 27 milhões das contas de 17 pessoas e empresas acusadas de participação em um esquema de desvio de dinheiro público do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Entre os afetados com a decisão, proferida pelo desembargador José Zuquim Nogueira, estão os deputados Eduardo Botelho (PSB), presidente da Assembleia Legislativa, Mauro Savi (PSB), além do ex-parlamentar Pedro Henry. O bloqueio foi pedido pelo Ministério Público Estadual (MP), no decorrer das investigações da Operação Bereré.
As investigações apontam para o pagamento de propina a diversas pessoas com base no valor arrecadado pela empresa responsável pelo registro de contratos de financiamentos de veículos junto ao Detran. Parte do lucro era repassado aos investigados por meio de uma suposta empresa de fachada, cujos sócios eram beneficiários do esquema ou “laranjas”.
O bloqueio foi pedido pelos promotores do Núcleo de Ações de Competências Originárias (Naco) e do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco). O valor foi calculado com base nas provas já obtidas, como a quebra de sigilo bancário de diversos investigados. Com a análise deste material, o MP chegou à conclusão de que entre 2009 e 2014, o contrato rendeu aos investigados R$ 27,7 milhões.
Além dos políticos, foram alvos do bloqueio determinado por Zuquim a própria empresa que detem contrato com Detran, uma empresa treinamento, que segundo os promotores era usada para o repasse da propina, uma empresa que pertence a familiares de Botelho, e integrantes dos núcleos de liderança e de operação do esquema.
No despacho em que determinou o bloqueio, o desembargador destacou que ao apresentar planilhas com as movimentações bancárias dos suspeitos, o MP apresentou informações precisas que puderam levá-lo ao convencimento da necessidade da medida.
“Fica, de fato, evidente na tabela apresentada as intensas e incomuns movimentações bancárias. O dinheiro público de origem no Detran/MT é recebido por investigados diversos, ora diretamente, ora por empresas interpostas, por pessoas da família, ou por empresas de pessoas da família, ou ainda, por empregados da família”. Segundo Zuquim, o material aponta indícios de que, de fato, esteve em funcionamento entre 2009 e 2014 uma organização criminosa.
As investigações prosseguem. Na última segunda-feira, foi concluída a primeira etapa das oitivas, em que prestaram esclarecimentos pessoas que receberam recursos que passaram pelas contas das empresas e de investigados. O material está sob análise da Polícia Civil e do MP, que devem, com base em tudo o que já foi levantado, intimar outras testemunhas para que prestem depoimento.