Os 270 policiais federais que trabalham na Operação Malebolge (12ª fase da Ararath) já cumpriram boa parte dos 64 mandados de buscas e apreensões autorizados pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, atendendo pedido do MPF. Eles foram às residências do ministro Blairo Maggi (PP) em Brasília e em Rondonópolis. Eles levaram um malote com documentos e um computador.
Na casa do prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PMDB) foram cumpridos mandados de buscas e apreensões, assim como na prefeitura da capital. O procurador Gustavo Nogami foi até a casa do prefeito acompanhar a operação. O delegado da PF que esteve na casa informou, há pouco, que dois computadores, um celular e documentos foram apreendidos. Conforme Só Notícias já informou, houve pedido de afastamento de Emanuel, mas Fux negou.
O gabinete do deputado federal Ezequiel Fonseca (PP) em Brasília também foi alvo da operação, assim como o senador Cidinho Silva, que é suplente de Blairo e exerce o mandato. Dezenas de policiais estão na Assembleia Legislativa, em diversos gabinetes dos deputados estaduais Silvano Amaral (PMDB), Baiano Filho (PSDB), Romoaldo Júnior (PMDB), Wagner Ramos (PSD), José Domingos Fraga (PSD), Oscar Bezerra (PSB) e Gilmar Fabris (PSD). Já foram apreendidos documentos e computadores. Até o forro de algumas salas foi vasculhado.
Os agentes também foram ao Tribunal de Contas do Estado onde fizeram apreensão de documentos em gabinetes de alguns conselheiros e a sessão prevista para esta manhã foi suspensa. Fux determinou o afastamento das funções de cinco conselheiros do TCE: Valdir Teis, Sergio Ricardo (que já estava afastado), Valter Albano, Jose Carlos Novelli e Antonio Joaquim (que há algumas semanas havia confirmado que deixaria a corte). Eles foram acusados por Silval de supostamente receberem propinas.
Os federais também cumpriram mandados no Nortão. Uma fonte da Polícia Federal informou, ao Só Notícias, que um mandado foi expedido para ser cumprido em Sinop, em Juara, em Sorriso na casa que seria do deputado Zé Domingos. Não havia ninguém no local.
Conforme Só Notícias já informou, em Rondonópolis, Tangará da Serra, Pontes e Lacerda, Araputanga, Primavera do Leste e São Paulo também estão sendo cumpridas ordens judiciais. Oficialmente, a PF não informou os nomes dos investigados mas boa parte dos endereços onde policiais estiveram é de políticos acusados, na delação premiada do ex-governador Silval Barbosa, de receber propina em troca de apoio político. Um empresário em Cuiabá estaria entre os alvos.
Dos deputados e ex gravados por Silval recebendo dinheiro estão Emanuel Pinheiro, Ezequiel Fonseca, Zé Domingos Fraga Filho, Gilmar Fabris, Luciane Bezerra (atual prefeita de Juara), Herminio Barreto, Airton Rondina, Alexandre Cesar. Silval também acusou de recebimento de propina das obras de iluminação da Arena Pantanal o deputado Romualdo Junior. Ainda na delação, os deputados Silvano Amaral e Wagner Ramos são acusados de pedirem propina para votarem a favor das contas de governo. O deputado Ondanir Bortolini (Nininho) foi acusado de envolvimento em propina para o governo liberar a cobrança de pedágio em uma rodovia.
A assessoria da Procuradoria Geral da República informou hoje que os pagamentos de propina a membros do Poder Legislativo Estadual (“mensalinho”), com o objetivo de que sustentassem a governabilidade do Executivo, aprovando projetos do então governador Silval Barbosa ou se abstendo de investigar membros da cúpula do governo estadual. Membros do TCE-MT investigados condicionaram a continuidade de obras para a Copa do Mundo ao pagamento de R$ 53 milhões a ser dividido entre eles. As buscas também visam apurar outros fatos acerca do pagamento de propina referente ao programa MT Integrado, que consistia em um conjunto de obras estruturais orçadas em mais de R$ 1,5 bilhão".
Blairo Maggi foi acusado por Silval, na delação, de compra de apoio político de deputados e pagamento de propina para comprar uma vaga no TCE – Tribunal de Contas do Estado -. Silval também disse, em delação, que manteve vários "esquemas" de corrupção em seu governo com pagamento de propinas para deputados, além de dívidas de campanha, recebimento de vantagens indevidas de empresas e outros casos. Silval também acusou Blairo de pagar R$ 3 milhões para o ex-secretário de Fazenda Eder Moraes mudar o depoimento para promotores onde teria declarado que houve compra de vaga no TCE. Silval confessou que pagou outros R$ 3 milhões para Eder voltar atrás e inocentar Blairo.
A fase da operação de hoje leva o nome de Malebolge "(bolsas ou valas malditas). Na Divina Comédia, é o oitavo círculo do inferno, dividido em 10 vales (bolsas) circulares. Dentro de cada vala é punida uma modalidade de fraude. É possível atravessar as valas através das pontes de pedra que interligam os rochedos que as isolam. As beiras de cada vala são mais baixas no interior do círculo que no seu exterior, pois cada vala está num plano mais baixo que o outro. Depois da décima vala, há mais um rochedo e em seguida há um grande fosso que leva ao nono e último círculo".
Outro lado
Em nota, o ministro Blairo Maggi, disse, há pouco, que "nunca houve ação, minha ou por mim autorizada, para agir de forma ilícita dentro das ações de Governo ou para obstruir a justiça. Jamais vou aceitar qualquer ação para que haja "mudanças de versões" em depoimentos de investigados. Tenho total interesse na apuração da verdade. Ratifico ainda que não houve pagamentos feitos ou autorizados por mim, ao então secretário Eder Moraes, para acobertar qualquer ato, conforme aponta de forma mentirosa o ex-governador Silval Barbosa em sua delação. Jamais utilizei de meios ilícitos na minha vida pública ou nas minhas empresas. Sempre respeitei o papel constitucional das Instituições e como governador, pautei a relação harmônica entre os poderes sobre os pilares do respeito à coisa pública e à ética institucional. Por fim, ressalto que respeito o papel da Justiça no cumprimento do seu dever de investigação, mas deixo claro que usarei de todos os meios legais necessários para me defender e reestabelecer a verdade dos fatos".
O conselheiro Antonio Joaquim disse que está suspendendo seu pedido de aposentadoria. Ele pretendia deixar o TCE e voltar para a política. Joaquim voltou a negar as acusações de Silval. "Ao longo de 36 anos de vida pública, sempre pautei a minha conduta pela honestidade, legalidade, legitimidade e transparência nos atos praticados. Sou conhecido pela coerência, franqueza e coragem nos posicionamentos e julgamentos no TCE-MT – onde atuo desde o ano 2000. Em muitos momentos da vida, fui até criticado pela dureza e sinceridade, pois nunca fui um homem dado a dissimulações. Faço os enfrentamentos necessários sempre à luz solar e de cabeça erguida, na perspectiva de ser sempre justo e propositivo. É com essa premissa que recebo a informação do meu afastamento do cargo de conselheiro do TCE-MT. Tenho profundo respeito pelas instituições e espero que a investigação em curso seja rápida, para que eu possa resgatar a minha cidadania sequestrada por essa decisão", acrescentou".
O deputado federal Ezequiel Fonseça teve seu gabinete, na Câmara dos Deputados, como alvo da operação de busca e apreensão afirmou, em nota, que continua "contestando que na condição de deputado estadual, eu e outros cobrávamos vultosas quantias em troca da defesa do governo. Afirmo que nunca solicitei qualquer quantia ilícita de quem quer que seja em troca da minha atuação no parlamento, tão pouco me foi entregue dinheiro para esse fim", rebate.
O conselheiro Valter Albano, em nota, disse que nunca agiu ou deixou de agir "de forma olítica no exercício das minas funções, nem pessoalmente e nem por pessoa autorizada por mim. Em meus 45 anos de vida pública nunca fui condenado em nenhum processo, de qualquer natureza, especialmente por fatos que denegrissem minha honra e minha integridade. Repudio o afastamento do cargo tão somente com base em delações sem nenhuma prova para corroborá-las. Confio na justiça e tenho a certeza de que o tempo e as investigações irão demonstrar a veracidade dos fatos".
Em instantes, mais detalhes
(Atualizada às 16:48h)
Policiais federais em Sorriso e na Assembleia (fotos: Só Notícias/Bruno Bortolozzo e João Vieira/Gazeta)