O advogado Júlio César Rodrigues está prestando depoimento em audiência de instrução e julgamento na 7ª Vara Criminal de Cuiabá, esta tarde. A oitiva faz parte da ação penal decorrente da operação Ventríloquo, deflagrada no ano passado para desmantelar um esquema de desvio de R$ 9,4 milhões da Assembleia Legislativa. Já no início, ele afirmou que omitiu a verdade em seu depoimento anterior prestado à justiça.
Em seguida, declarou que o ex-presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Romoaldo Júnior (PMDB), pediu R$ 500 mil de propina para liberar o pagamento da dívida que o Poder Legislativo tinha com o banco HSBC. Rodrigues disse ter procurado o advogado Joaquim Fábio Mielli e este já estava trabalhando no recebimento desta dívida do banco com o Legislativo.
Rodrigues disse que chegou a ter uma reunião com Romoaldo e negou que tenha feito a proposta ilícita. “Ele [Romoaldo] disse a ‘gente pode resolver isso aqui, mas quero uma parte disso aqui’”, relatou o réu explicando que o deputado pediu o valor de R$ 500 mil.
Em seguida, relatou a situação para Mielli, que teria autorizado o pagamento da propina. Esta reunião entre Rodrigues e Romoaldo teria ocorrido em agosto de 2013. Já o valor teria sido repassado nos meses de fevereiro, março e abril de 2014.
Depois, Rodrigues disse que fez várias reuniões na procuradoria da Assembleia com o intermédio de Romoaldo. Somente depois, o ex-deputado estadual José Riva foi acionado. “Procuramos Riva que nos atendeu em uma sala dos fundos que faz parte da presidência e ali conversamos. Ele disse que tinha interesse em resolver a situação, mas queria a devolução de 50% do valor".
Ele disse a Riva que quem decidia isso era o Joaquim Mielli. Rodrigues ficou de levar a proposta de José Riva ao delator Joaquim Mielli. Foi agendada então uma reunião entre ele, Riva e Mielli. No encontro, segundo o réu, Riva fez rascunhos num papel sobre a divisão dos valores. Houve um impasse sobre os 50% cobrados por Riva e Mielli disse que ia pensar. Depois de fazer cálculos concluiu que era um valor muito alto e mandou Rodrigues voltar e renegociar com Riva para reduzir o valor. “Voltei lá e a gente discutiu, ai ficou por 45%”. Segundo ele, foi então que Riva o orientou a procurar Pommot que era secretário geral da Assembleia Legislativa.
Márcio Pommot pediu a documentação do banco para abrir um processo interno na Assembleia por ser um valor vultuoso. Depois Pommot disse que o pagamento seria feito em três parcelas de mais de R$ 3 milhões cada uma. “A partir dali virou uma corrida por dinheiro na Assembleia. O Joaquim passou a tratar pessoalmente e diretamente com o Pommot. O deputado Romoaldo veio em cima de mim cobrar o dinheiro e passou a me ameaçar de todas as formas. E o Pommot passou a tratar direto com o Riva”. Pommot decidiu distribuir a primeira parcela em vários cheques e ai que começou a fazer uma relação de empresas para depósitos. Pelo primeiro pagamento, Júlio César Rodrigue disse que recebeu R$ 18 mil.
"Depois houve o segundo pagamento e o Mielli viajou para os Estados Unidos. Sumiu. Foi quando o pessoal da Assembleia veio em cima de mim e queriam o dinheiro de qualquer jeito". Ele diz que foi chamado na Assembleia ocasião em que Riva “esculhambou” Mielli dizendo que era “um canalha, um porcaria”.
Quando o Joaquim retornou, foi pessoalmente na Secretaria Geral. Depois, se entenderam e por fim foi feito terceiro pagamento. Rodrigues disse ter recebido mais R$ 150 mil. Ele classificou a situação como um “mar de lama” que ele entrou. Teve varias reuniões com o Romoaldo e com o assessor dele para discutir a situação.