O deputado federal Carlos Abicalil e a senadora Serys Marly mantiveram ontem, no gabinete dela em Brasília, uma conversa que pode ser o prenúncio de uma crise sem precedentes no Partido dos Trabalhadores (PT) de Mato Grosso. Abicalil procurou Serys para confirmar que ele é pré-candidato ao Senado, e ouviu dela a resposta firme de que não abre mão do projeto de reeleição.
Serys afirmou que, se não for candidata ao Senado, não disputará cargo eletivo neste pleito, o que pode trazer grandes prejuízos à candidatura de ministra Dilma Rouseff à presidência da Republica. Durante uma hora e meia, Abicalil tentou convencer a senadora. "Fiz apelo por três vezes de que ela pudesse reconsiderar a possibilidade de figurar na chapa a federal junto com o deputado Ságuas Moraes", disse.
As duas maiores lideranças do PT no Estado disputam agora o mesmo projeto político e a discussão deve chegar ao gabinete do presidente Lula. Uma fonte ligada ao governador Blairo Maggi, que mantém frequentes conversas com o presidente, disse que Lula já se definiu pela candidatura de Serys à reeleição, a fim de evitar possível racha no partido e preservar o palanque de Dilma Rouseff em Mato Grosso, estado onde o PT teve maior dificuldade nas eleições gerais de 2006.
Tanto Carlos Abicalil quanto Serys querem evitar uma discussão mais ampla do assunto, com consulta a todos os filiados. De acordo com eles, a decisão deverá ser tomada no âmbito do diretório e deve sair até março deste ano.
Durante a reunião com a senadora, Carlos Abicalil propôs uma troca de posições, na qual ela seria candidata a deputada federal e ele candidato ao Senado. Conforme Abicalil, esta seria a saída para ampliar a bancada do PT no Congresso Nacional. "A senadora Serys e o deputado Ságuas Moraes tem patamar de representação que, somados, dão essa possibilidade real ao partido", opinou o deputado.
A senadora discordou prontamente, e, por telefone, explicou seus motivos ao jornal A Gazeta. "Eu disse a ele que discordo, porque acho que ele tem total condições de puxar a bancada federal. Fiz o meu mandato por inteiro, tive meu trabalho reconhecido e acho que estou mais preparada do que nunca para disputar novamente o Senado".
Abicalil assume amanhã o diretório estadual do PT. Em novembro passado ele foi reeleito presidente do partido com 63% dos votos válidos, em uma demonstração de força contra o grupo da senadora. Ela tem o apoio do presidente municipal do PT em Cuiabá, Vilson Aguiar. Já o deputado tem o apoio do deputado estadual Alexandre César e do deputado estadual Ságuas Moraes, que só disputará vaga a federal caso Abicalil saia candidato ao Senado.