Seis cadáveres supostamente de brasileiros, sendo 5 de homens e 1 de mulher, foram localizados ontem pela polícia boliviana durante escavação em uma fazenda na zona rural de San Matias, na fronteira da Bolívia com o Brasil. Pelo adiantado estágio de decomposição dos corpos, a perícia técnica terá dificuldades para fazer o reconhecimento, que só será possível por intermédio de exame da arcada dentária e DNA. Autoridades brasileiras colocaram seus próprios técnicos à disposição da polícia boliviana, mas ainda não houve qualquer pedido formal sobre o assunto.
Os corpos foram retirados de uma vala comum após 3 dias de buscas intensas no terreno. Informações extra-oficiais dão conta de que os corpos são de brasileiros e que todos trabalhavam para o narcotráfico na região. Mas a investigação do crime ficará sob a responsabilidade da polícia boliviana. A Polícia Federal atuou nesse caso apenas como observadora.
Conforme informações da Polícia Federal, a localização do primeiro cadáver ocorreu na manhã de ontem. Quando foi confirmada a existência dos corpos, um dos agentes da PF, que estava acompanhando a escavação, retornou para a Delegacia da Polícia Federal de Cáceres (225 km a Oeste da Capital), onde é lotado, para informar às autoridades brasileiras. Os trabalhos continuaram no decorrer do dia, com a localização de todos os corpos, que estavam juntos.
A localização dos cadáveres foi dificultada por conta do tamanho da área onde eles estavam enterrados e também porque o local foi aterrado. Muitas escavações foram feitas até que se encontrasse o local da desova. A Polícia Federal precisou levar para o local um trator com escavadeira para poder cavar mais fundo. As máquinas da polícia boliviana não conseguiram realizar o trabalho.
A fazenda onde os corpos foram enterrados pertence a um brasileiro, que não tem, segundo a Polícia Federal, envolvimento com a chacina e colaborou com a polícia.
Hoje, às 10h30, o superintendente regional da Polícia Federal em Mato Grosso, Oslain Campos Santana, concede entrevista coletiva à imprensa para informar sobre a participação da Polícia Federal na descoberta do crime.
Denúncia – O desvio de uma grande quantidade de droga, cerca de 100 kg de cocaína, teria sido o motivo do assassinato dos brasileiros na fronteira entre o Brasil e a Bolívia. O crime teria sido encomendado pelo irmão da maior autoridade do município de San Matias, que seria o chefe do tráfico na região.
Essa informação foi prestada há cerca de 15 dias por uma pessoa que procurou socorro em um dos postos do Grupo Especial de Fronteira (Gefron), da Polícia Militar de Mato Grosso.
Esse homem, cuja identidade não foi revelada, contou que estava fugindo da Bolívia após ter conhecimento da chacina. Todas as declarações dele constam de um relatório sigiloso do Gefron, que após tomar o depoimento dele encaminhou o rapaz para a DPF de Cáceres, já que crimes em terras estrangeiras são de competência da Polícia Federal.
O denunciante contou que ele mesmo trabalhava para o tráfico no país vizinho. Disse que no local poderiam estar enterradas até 11 pessoas, mas não comprovou a informação.
Conforme relatório do Gefron, ele admitiu que chegou a descarregar 500 kg de cocaína para essa autoridade municipal. Foi ele também que afirmou que todos os mortos teriam envolvimento com o narcotráfico e que a chacina teria ocorrido a mando do irmão dessa autoridade.
O denunciante contou que ele e outros brasileiros atuavam no tráfico internacional de drogas, vindas da Bolívia e destinadas aos grandes centros consumidores do país, como São Paulo e Rio de Janeiro, e que usavam o Estado de Mato Grosso como rota de escoamento da droga.
Como ele, outros envolvidos no crime teriam conseguido sair da Bolívia antes de serem executados. Eles teriam se estabelecido em municípios próximos da fronteira, como Cáceres, Pontes e Lacerda e São José dos Quatro Marcos. Temendo represálias, eles continuam escondidos.
Conduzido à DPF de Cáceres, o denunciante confirmou a mesma versão dada ao Gefron e auxiliou os policiais federais na localização dos corpos.
A informação sobre as mortes chegou logo após a PF ter conhecimento do assassinato de uma brasileira naquela região. Trata-se de uma ambulante vendedora de colchões conhecida como “Cleonice Gaúcha”. Ela foi executada a tiros, mas a polícia não pode ainda informar se os crimes têm relação.
O trabalho em conjunto da Polícia Federal com os policiais bolivianos só foi possível em decorrência de um acordo de parceria entre os 2 países, assinado para o combate ao tráfico de drogas na fronteira.