sexta-feira, 20/setembro/2024
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Seguranças confessam chutes, socos e tortura de vendedor

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Os seguranças do Shopping Goiabeiras confessaram que agrediram o vendedor ambulante Reginaldo Donnan dos Santos Queiroz, 31. O espancamento foi feito por Ednaldo Rodrigues Belo e, principalmente, por Jefferson Luis Lima Medeiros, que continua foragido e promete se entregar na segunda-feira de manhã. Em novos interrogatórios, Ednaldo Belo e Valdenor de Moraes contaram que os primeiros golpes foram feitos por Jefferson Medeiros e que as agressões contra Reginaldo Queiroz tiveram início com a vítima ainda de pé, com socos e pontapés. Em seguida, ao cair, ficou sentando e o vendedor ambulante continuou sendo agredido pelo segurança Medeiros, sendo que os golpes atingiram principalmente a cabeça dele.

Dentro da sala de seguranças do shopping, Moraes apenas assistiu a sessão de espancamento ao trabalhador e, vendo o rapaz implorar "pelo amor de Deus" para que os funcionários cessassem os golpes, pediu para que os colegas parassem, mas apenas Belo atendeu o apelo. Jefferson Medeiros continuou a tortura.

Também preso desde quinta-feira, o segurança Jorge Dourado Neri, em entrevista informal, porque não houve tempo para que ele fosse interrogado na manhã de ontem, a exemplo dos colegas de trabalho também mudou completamente a versão apresentada anteriormente à delegada Ana Cristina Feldner e admitiu que escutou barulhos dentro da sala de segurança. Durante a tortura contra Reginaldo, Neri permaneceu do lado de fora, vigiando a porta para que ninguém entrasse no local. A delegada informou que a entrevista do suspeito serve apenas como informação, já que por ser informal não será anexada ao inquérito. O tempo de duração da agressão ao vendedor ambulante ainda não foi revelado.

Os seguranças do Goiabeiras descreveram que Reginaldo foi retirado da sala dos seguranças para ser colocado no contêiner de lixo "impactado", zonzo, com os olhos semiabertos e sem reação, comprovando o que as imagens do circuito interno de televisão já haviam revelado. Do segundo piso, onde fica a sala dos seguranças, até o terceiro subsolo, eles desceram pelo elevador. Do contêiner, o rapaz foi retirado apenas para entrar na viatura da Polícia Militar e ser encaminhado para o Centro Integrado de Segurança e Cidadania (Cisc) Verdão. Em entrevista, Medeiros justificou que o transporte pelo contêiner foi ideia dele, porque Reginaldo estava envergonhado e não queria sair do local algemado pela Polícia.

Durante o tempo em que permaneceram na sala, foi solicitada água e gelo, possivelmente para lavar os ferimentos da vítima. A sala onde ocorreu o espancamento ficou completamente ensanguentada e foi lavada por faxineiras do shopping. Apesar da limpeza, a presença de sangue foi confirmada por perícia.

Em depoimento à Polícia Civil, a ascensorista que estava no elevador por onde desceu o contêiner com Reginaldo, detalhou que Ednaldo Belo perguntou a ela se queria "ver o valentão" e neste momento abriu a tampa do carrinho. Ela contou que viu o vendedor "praticamente morto" e que a visão foi tão chocante que ela chegou a passar mal, inclusive vomitando. Imagens do circuito interno de televisão revelam que em cima do corpo de Reginaldo foram jogados sacos de lixo.

Preconceito – Para a família, o motivo das agressões contra Reginaldo Queiroz foi preconceito e discriminação devido a forma simples que estava vestido e um chapéu de palha com abas largas, estilo mexicano, considerada sua marca registrada. Em depoimentos, funcionários revelaram que desde que entrou no Shopping Goiabeiras por volta das 16h30 do sábado (29/08), Reginaldo foi tratado pela equipe de seguranças por QRU, sigla que significa "problema".

O próprio Jefferson Medeiros, em entrevista, confirmou que foram feitas diversas abordagens ao trabalhador, que levava sacolas com vários objetos que costumava comercializar nas ruas da Capital, como porta-latas e apostilas para concursos. Uma das abordagens aconteceu na praça de alimentação do shopping, no momento em que Reginaldo estava sentado ao lado de 2 mulheres, sendo uma senhora e uma moça, que até o momento não foram identificadas pela Polícia. No entanto, a alegação era de que a abordagem teria ocorrido apenas como uma orientação de que dentro do estabelecimento era proibida qualquer tipo de comercialização.

A última e definitiva abordagem ocorreu dentro da loja Beto Esportes, no primeiro piso, onde o rapaz refugiou-se para pedir socorro e chegou a escrever uma carta, denunciando a perseguição e a humilhação sofridas. Às funcionárias, ele pediu para continuar no local até o fechamento do shopping e para ganhar tempo pediu para que fossem feitos orçamentos de vários produtos. Sem que fosse feita qualquer solicitação à equipe de seguranças, Medeiros foi até a porta, onde permaneceu por cerca de 40 minutos. Uma funcionária relatou que o segurança disse a ela para que simulasse uma pane na loja para que ele pudesse entrar. Como negou-se a atender o pedido, ele e Belo entraram na loja e retiraram Reginaldo a força. As imagens de câmeras do corredor confirmam que o rapaz saiu segurado pelos 2 seguranças, um de cada lado.

Do primeiro piso para o segundo, Belo e Medeiros contaram com a ajuda de Jorge Neri e um outro funcionário do shopping para arrastar a vítima pela escada de serviço. Inicialmente, os seguranças disseram que foi durante este percurso, onde não têm câmeras, que Reginaldo teria caído e se machucado. No entanto, o depoimento do quarto rapaz foi fundamental para que esta versão fosse desmentida porque ele garantiu à Polícia que Reginaldo não caiu em nenhum momento.

Investigação – Os 4 seguranças acusados de espancarem Reginaldo vão responder por homicídio triplamente qualificado (tortura, motivo fútil, meios que impossibilitaram defesa da vítima) e furto qualificado, por terem subtraído R$ 1 mil do trabalhador. Para a delegada Ana Cristina Feldner o crime foi doloso (com intenção) tendo em vista que os seguranças possuem conhecimentos de artes marciais e tinham consciência do que os golpes feitos contra a vítima poderiam provocar.

Reginaldo Donnan deu entrada às 21h20 de sábado no Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá vivo e teve morte cerebral na madrugada de domingo. Os aparelhos foram desligados na terça-feira (1/09) e o caso provocou grande comoção social.

Responsabilização – Conforme a delegada, os policiais militares do 10º Batalhão PM, que atenderam a ocorrência no shopping e registraram boletim de ocorrência em que Reginaldo figurou como suspeito de tentativa de homicídio e os seguranças como vítimas, poderão ser responsabilizados no final do inquérito. O comandante-geral da PM, coronel Benedito Campos Filho, informou que foi aberto um procedimento administrativo para apurar a participação dos policiais no caso, inclusive o motivo pelo qual eles entraram na sala de seguranças onde houve o espancamento, fato revelado pelas imagens do circuito de TV e se houve omissão de socorro.

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