A Polícia Judiciária Civil informa que está em andamento investigação para apurar desvio de dinheiro na Associação dos Amigos da Criança com Câncer de Mato Grosso (AACC-MT). O trabalho começou depois que a diretoria da instituição procurou o Ministério Público Estadual e a Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), em outubro de 2015, por suspeita de que a presidente, à época, Telen Aparecida da Costa, estaria desviando recursos da Associação.
A presidente esteve à frente da instituição de 2009 até outubro de 2015, quando foi afastada em razão da diretoria desconfiar das fraudes. As investigações iniciaram com a disponibilização de documentos fornecidos pela AACC e depois de realizadas diversas diligências, foi detectado fraude em relação a uma nota fiscal referente a serviços de informática. O valor original da nota fiscal seria de R$ 2.150,00 e tinha sido adulterada para R$ 500 mil.
Os diretores também informaram à Polícia Civil que desconfiavam de outras fraudes com notas fiscais e adulteração de extratos bancários da AACC. Segundo eles, as notas, quando apresentadas ao corpo de diretores, omitiam transferências da conta da Associação para conta da empresa da presidente e também para conta particular dela.
Nas investigações foram levantados cerca de R$ 1 milhão em desvios da AACC. Mas os trabalhos ainda não foram finalizados e uma auditoria na movimentação financeira da Associação, dos últimos cinco anos, podem revelar valor ainda maior.
No dia 17 de dezembro, sob o comando do delegado Mario Dermeval Aravechia de Resende, que atualmente está na Diretoria Geral da Polícia Civil, foi deflagrada a operação “Cupititas” (cobiça em latim), cumprindo-se as prisões temporárias (cinco dias) da presidente, Telen Aparecida da Costa, seu marido, Willian Cesar Batista de Jesus, ambos donos da empresa Brothen, que recebeu diversas transferências em valores da AACC; da mãe de Telen, Edite Gonçalves de Arruda, também sócia de Telen; e Luciano Gledson, dono da empresa Simples Contábil, usada como “laranja” pela empresa Brothen, nos negócios suspeitos, envolvendo serviços prestados junto à AACC.
Também foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão nas empresas e residências dos investigados. As ordens judiciais foram decretadas pela 7ª Vara Criminal de Cuiabá.
A presidente Telen e o marido, no dia da operação, estavam em Florianópolis (SC) e se apresentaram na noite do mesmo dia no GCCO, para prestarem interrogatórios. A presidente assumiu as práticas ilícitas bem como detalhou a forma como vinha cometendo as fraudes. Ela se comprometeu a restituir os valores desviados à entidade.
Todos os suspeitos nas fraudes foram ouvidos, indiciados e postos em liberdade, logo em seguida, por terem cooperados com as investigações, que devem ser finalizadas em cerca de 80 dias. Eles irão responder nos crimes, já comprovados, de apropriação indébita, falsidade ideológica, formação de quadrilha, e possivelmente crimes contra administração, na forma de peculato, uma vez que a entidade recebeu dinheiro público de convênios, podendo ainda surgirem novos delitos a serem tipificados.
O delegado Mario Dermeval Aravechia, que trabalhou em conjunto com a Diretoria de Inteligência, por meio do delegado Gerson Vinicius Pereira, destacou que os próprios diretores da entidade foram os responsáveis pelo sucesso da investigação. “Só chegamos a esse resultado positivo tendo em vista o interesse e a disponibilidade de todos no fornecimento de informações e documentos à Polícia”, disse.
Conforme o delegado ficou claro na investigação que os membros da diretoria da AACC, sem exceção, foram todos induzidos a erro e enganados pela presidente durante anos, sendo ela, o único membro da AACC, juntamente com os comparsas, a serem responsabilizados pelos crimes investigados.
Para a Polícia Civil, a Associação dos Amigos das Crianças com Câncer é uma entidade de extrema importância na sociedade, prestando atendimento digno e humanizado às crianças em tratamento com câncer. “Cenário este que jamais poderia ser afetado por conta dos desmandos da presidente”, afirmam os delegados que coordenaram as investigações.
As investigações correram em sigilo, até então, visando à preservação da imagem da AACC.