O Conselho Estadual de Entorpecentes (Conen) apresenta nesta quarta-feira, na Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), o resultado de uma pesquisa sobre a relação entre homicídios e o uso/abuso de álcool e outras drogas. A idéia é partir deste instrumento de avaliação, para propor políticas públicas.
A partir dos boletins de ocorrências (B.O.), foram realizadas visitas a 41 famílias de vítimas de homicídio. O período compreendido dos crimes foi de 1º de janeiro a 28 de fevereiro de 2005.
Desse universo pesquisado, 28 famílias foram entrevistadas, através do levantamento de dados sócio-econômicos. Treze famílias (das 41) já haviam mudado de endereço, não sendo possível a localização.
A pesquisa do Conen procurou levantar se essas vítimas eram ou não usuários de álcool ou drogas. De acordo com as famílias, 32% das vítimas apresentavam dependência química. Desse universo, 22% começaram a usar drogas na adolescência (dos 11 aos 17 anos), sendo que 14% já haviam passado por algum tratamento e 7% já haviam buscado grupos de ajuda.
O levantamento aponta que a criminalidade e a violência estão relacionadas ao uso abusivo de álcool e outras drogas. Cinqüenta e sete por cento (57%) dos entrevistados disseram não ver mudança no comportamento das vítimas, mas 39% delas faziam uso abusivo de álcool, conforme depoimento dos familiares.
“Na grande maioria das vezes, a família faz diferenciação entre o comportamento da vítima dentro e fora de casa. E a maioria não consegue diagnosticar o uso de drogas ou o uso abusivo de álcool”, aponta a assistente social do Conen, Simone Cordeiro Guedes.
De acordo com as famílias entrevistadas, 49% das mortes ocorreram por conta de briga (11% dentro de bares, na maioria das vezes, próximos às residências), 14% por envolvimento com drogas e 11% vítimas de assalto.
A intenção da pesquisa é a de apontar intervenções que revertam o índice de homicídio, através de ações consistentes em relação ao uso de álcool e drogas, a partir das evidências apontadas na pesquisa.
“Queremos provocar uma interlocução entre a instância governamental (no caso, a Sejusp e o Conen) com as demais esferas governamentais e a sociedade. A idéia é formamos uma comissão, com representação social para apontarmos caminhos”, defende o presidente do Conen, José Antônio Vieira.
Das 28 famílias entrevistadas, 100% das vítimas de homicídio eram do sexo masculino. Mais de 80% (80,8%) com idade entre 17 a 30 anos – 25% com idade entre 17 e 22 anos, 32% na faixa etária de 22 a 27 anos, 25% entre 27 e 32 e 18% entre 32 e 37 anos. Setenta e cinco por cento (75%) eram solteiros.
Quanto à escolaridade, 64% tinham ensino fundamental incompleto. Os dados apontam ainda que 54% dos familiares julgam que quando a vítima estudava tinha um bom desempenho escolar. A renda familiar de 39% das vítimas era de até um salário mínimo (12 das 28 entrevistadas) e 32% até dois salários.
“Setenta e um por cento (71%) das famílias tem renda de até dois salários mínimos, face ao valor do salário mínimo (R$ 300,00) e a quantidade de dependentes por família, constata-se que a grande maioria vive na vulnerabilidade econômica, mas nenhum deles foi contemplado com programas do governo federal, que estão atrelados à pobreza absoluta e não à pobreza relativa”, aponta o relatório feito após a pesquisa.