Dos 952 óbitos violentos registrados no ano passado em Mato Grosso, 714 são referentes aos assassinatos de pessoas negras, ou seja, 75% de pretos e pardos, conforme classifica o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram mortos com tiros, facadas e outras agressões.
Os dados, que foram divulgados pelo Instituto Sangari, por meio da pesquisa Mapa da Violência 2012, revelou ainda que entre os anos de 2002 e 2010, as mortes de pessoas negras aumentaram 16%, saltando de 613 óbitos para 714 assassinatos.
Nacionalmente, os dados não são diferentes. Dos 46.932 homicídios registrados no país, 70,8% (33.264) envolveram pessoas negras. Em relação às outras mortes, Mato Grosso contabilizou o assassinato de 238 brancos (25% dos óbitos do ano passado). Se com- parados os dados de homicídios de caucasianos registrados entre 2002 e 2010, as estatísticas mostram uma queda de 25,8%.
De acordo com o professor e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Naldson Ramos, o alto índice de mortes brutais envolvendo negros ainda está relacionado à marginalidade dos diretos sociais. Segundo ele, os pretos e pardos ainda são aqueles que possuem menor acesso à educação, trabalho, saúde e lazer, e acabam ficando às margens da sociedade.
Ramos diz que a relação entre violência e pobreza não é direta, mas um fator acaba complementando o outro. Conforme o estudioso, pesquisas nacionais revelam que 70% da população brasileira que sobrevive nas periferias ainda é parda e preta, e que devido a este fator o acesso às políticas sociais perde para o alto índice da violência.
Para Carlos Alberto Caetano, representante do Conselho Estadual do Negro, os números da violência contra os pretos e pardos é reflexo ainda de uma sociedade racista e que resiste à aplicação de políticas afirmativas. "Não se resolve pobreza e violência com polícia, mas sim com política social". Segundo Caetano, o
fato de ser uma pessoa negra no país ainda desperta certas atitudes na sociedade. Como exemplo, o membro do movimento destacou as abordagens policiais. Conforme ele, o fato da pessoa ser negra já seria motivo para que revistas sejam realizadas. "A sociedade ainda não amadureceu".
A Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso (Sesp/MT) informou, por meio da assessoria de imprensa, que o órgão tem desenvolvido ações que compreendem o Plano Estadual de Segurança Pública e que entre as metas estaria a redução dos homicídios no Estado. A Sesp declarou que o número de policiais e de ações ostensivas será intensificado para o próximo ano. Além disso, um fórum estadual já estaria programado para iniciar em março de 2012, com objetivo de discutir políticas voltadas à redução dos assassinatos.