Localizada a 104 Km de Cuiabá e com 31,7 mil habitantes, Poconé vive uma onda sem precedentes de violência extrema com vários registros nos últimos meses de roubos, furtos, homicídios e latrocínios (roubo seguido de morte) praticados em grande parte por menores, que sabem que vão continuar impunes já que os cinco pólos de centros socioeducativos do Estado dizem não ter vagas para recebê-los. A promotora de Justiça do município, Taiana Castrillon Dionello, acredita que é uma questão de tempo para a população começar a fazer "justiça com as próprias mãos" caso o judiciário mato-grossense não interceda nessa situação para que os juízes da varas da infância disponibilizem vagas de internação para esses menores infratores que segundo ela, não podem ficar livres cometendo mais crimes pela cidade.
Para se ter uma noção da gravidade do problema, até esta segunda-feira (23) haviam cinco adolescentes acusados de roubo qualificado e latrocínio, detidos na delegacia da cidade esperando uma resposta do judiciário para saber se seriam disponibilizadas vagas para internação. Caso contrário, acabam soltos assim como ocorreu com um adolescente, de 17 anos, réu confesso do assassinato do idoso Silvando Joaquim de Souza, 68 anos, no dia 1º de dezembro de 2011 para roubar R$ 320 da aposentadoria. Até hoje ele continua solto por falta de vaga para internação. O Centro de Ressocialização de Cuiabá informou que não tinha vaga, mas o de Cáceres até hoje não respondeu ao ofício encaminhado pela promotora.
Delegado Rodrigo Bastos lembra que além dos cinco, existem ainda outros dois menores apreendidos na delegacia, acusados de furto qualificado no último final de semana, período em que o município estava em festa completando 231 anos de sua emancipação político-administrativa. Ambos já têm outras passagens pela Polícia e mesmo assim, devem ganhar a liberdade caso a promotora não represente pela internação deles. O problema é que diante da falta de vagas é preciso dar prioridade para internação dos acusados de crimes mais graves.
A promotora relata que ela e o juiz titular da Vara Única de Poconé, Cássio Luís Furim, estão de braços atados. "É um jogo de empurra-empurra. A Secretaria de Segurança diz que o gestor dos centros socioeducativos é o juiz da vara responsável, que por sua vez, dizem não ter vagas. O problema é que eles (juízes) não oficiam essa falta de vagas no papel. Quero isso relatado em ofício" desabafa a promotora explicando que familiares de um dos menores implorou para que ele ficasse apreendido, pois solto oferece riscos para a sociedade. "Um dos grandes problemas é a falta de vaga no socieducativo e os menores infratores sabem disso e aproveitam para cometer crimes já que não vão ser punidos". Ela acredita ainda que pelo fato dos diretores das unidades não responderem aos ofícios, é possível que existam vagas em alguma unidade do Estado, enquanto menores de alta periculosidade continuam soltos pelas ruas de Poconé.
Desta vez, a promotora oficiou os cinco pólos socieducativos que ficam em Cuiabá, Cáceres, Rondonópolis, Barra do Garças e Sinop que informem se autorizam em suas unidades de internação a vaga e permanência dos adolescentes infratores. Diante do prazo final permitido para a detenção de dois adolescentes acusados de três roubos qualificados nos últimos dias, que terminava nesta terça-feira, o juiz Cássio Luís Furim, telefonou para todos os centros socieducativos e conseguiu vaga em Cáceres. Os dois menores foram transferidos nesta tarde de terça-feira (24).