A Polícia Civil indiciou 15 pessoas, entre presos da cadeia de Primavera do Leste, o diretor da unidade e ‘laranjas’ que atuavam como testas de ferro do líder, no esquema criado pelo criminoso para lavagem de dinheiro do tráfico de droga e obtenção de regalias dentro da cadeia. Os 15 foram indiciados por delitos como associação criminosa, corrupção passiva e ativa e lavagem de capitais.
Conforme a investigação da Delegacia de Roubos e Furtos de Primavera do Leste, que originou a Operação La Catedral, deflagrada em maio, o diretor da unidade prisional “se associou a presos e pessoas externas para montar o esquema que incluía, entre outras atividades ilegais, o pagamento de propinas para a concessão de regalias aos reclusos da cadeia”.
O condenado a 39 anos no regime fechado por tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, fruto de outras duas operações anteriores da Polícia Civil, foi transferido da Penitenciária Central do Estado para a cadeia de Primavera e, poucos meses depois, indicado para o trabalho externo. Contudo, de acordo com a investigação, ele não cumpria a escala de trabalho extramuros e agia com total liberdade, inclusive, viajando para fora de Primavera e administrando seu patrimônio adquirido ilicitamente.
O diretor da cadeia mantinha com acusado uma relação de proximidade. Os dois foram vistos em uma via pública da cidade, na frente de uma garagem de veículos frequentada por ambos.
Outro preso, também tinha regalias mediante o pagamento de propina, saindo da cadeia para ir em sua residência, até levando café da manhã, e em sua empresa, que fica no Distrito Industrial de Primavera do Leste. A investigação apontou ainda que, após ser beneficiado, ele intermediou a compra de vagas para outros presos que estavam em unidades com mais rigor prisional. Para tanto, negociou a compra de uma vaga na cadeia de Primavera do Leste por R$ 100 mil, sendo que o preso que seria beneficiado depositou R$ 50 mil em espécie na conta da empresa do segundo preso e, depois transferiu outros R$ 50 mil, em dois PIX de R$ 20 e R$ 30 mil.
O outro acusado tem 55 anos de condenação por roubo qualificado, em processos pela Comarca de Rondonópolis. Em outubro do ano passado, foi alvo de outra operação da Polícia Civil, em Paranatinga, quando foi preso no barracão de sua empresa junto com outros dois reeducandos. Todos estavam em cumprimento de prisão em regime fechado, porém, naquele momento da operação foram localizados pelas equipes policiais na empresa do investigado, sendo que nenhum deles tinha autorização para o trabalho externo.
Dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras analisados pela Polícia Civil apontaram que, pelo menos, 30 presos da cadeia pagaram propina ao grupo criminoso liderado por Janderson, para obter as regalias. Os pagamentos eram feitos pelos próprios presos ou familiares, em conta indicadas pelo diretor da cadeia, como a de uma loja de venda de tênis.
Outra ação ilegal era o uso de mão de obra de presos dos regimes fechado e semiaberto para obras particulares e manutenção em imóveis de Janderson e do diretor da unidade prisional.
O servidor público ostentava uma vida incompatível com seu rendimento e, no período investigado, movimentou mais de R$ 2 milhões em suas contas bancárias. Para ocultar os valores, ele usou outras pessoas, inclusive um familiar, para receber as transferências de valores de presos, egressos e de pessoas jurídicas ligadas a presos.
Entre outros indiciados na Operação La Catedral está um advogado. A investigação apurou que em dezembro de 2022, um acusado transferiu 25 mil para a conta de um familiar do diretor da cadeia, intermediando a indicação de seu cliente para o trabalho extramuros.
Um ex-vereador pelo município de General Carneiro também fez transferências para contas do servidor público e de seu irmão, totalizando R$ 13,8 mil. Ele ficou preso na cadeia de Primavera por seis meses, em 2022, e foi constatado que também fez transferências bancárias, por meio de uma empresa, para o principal acusado.
A informação é da assessoria da Polícia Civil.