A Polícia Judiciária Civil investigou o desaparecimento de 590 pessoas na Grande Cuiabá, em 2011. Deste total, 411 foram localizadas pelo Núcleo de Pessoas Desaparecidas, da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP). O percentual de esclarecimentos é de 69%. Em 2010 foram registrados 704 desaparecimentos (456 homens e 248 mulheres), 114 a mais que no ano passado.
Durante 2011, o Núcleo de Desaparecidos recebeu 374 comunicações de pessoas do sexo masculino que saíram de casa e não voltaram, sendo 261 com idade entre 18 a 64 anos, 83 de zero a 17 anos, 19 acima de 65 anos e 11 com idade ignorada. Já as vítimas femininas, de 216 mulheres, 128 são consideradas adolescentes, com idades até 17 anos e 83 registros foram mulheres entre 18 e 64 anos, 2 casos acima de 65 anos e 3 com idade não revelada.
Entre janeiro a dezembro, 411 pessoas retornaram aos lares em Cuiabá e Várzea Grande. Destas, 225 eram homens e 156 mulheres. Homens de 18 a 64 anos tiveram maior índice de esclarecimento, totalizando 169 casos. Em seguida, com 164 registros vieram crianças e adolescentes entre zero a 17 anos.
Dos muitos casos solucionados está o reencontro de pai e filha, separados há 24 anos. Elizabeth Mata Oliveira, 32, procurou ajuda da Polícia para localizar seu pai Valdeci Pinheiro Duarte, 63, que não via desde os oito anos de idade. A única pista de seu paradeiro, conforme o investigador Auri Nascimento, do Núcleo de Desaparecidos da DHPP, era que ele poderia estar residindo no Estado do Paraná.
Um provável endereço foi repassado à Delegacia da Polícia Civil de Cajuru, no Paraná (PR), que ao averiguar descobriu que havia outros dois endereços. Os investigadores Vinicius Pinto Coelho, Marcos Pedisco Silveira, chefiados pelo chefe de operações, Carlos Alberto do Amaral, diligenciaram pelas três referências e na última moradia encontraram o pai desaparecido. A filha Elizabeth conversou com o pai Valdeci Pinheiro Duarte, por telefone na semana passada. Pai e filha combinaram de se reencontrarem logo.
Duas jovens desaparecidas no ano passado em Cuiabá também foram localizadas pela Polícia Civil no interior do Estado. Em ambos os casos as garotas sumiram de casa deixando os pais desesperados sem notícias e foram descobertas trabalhando em estabelecimentos comerciais. No primeiro, uma jovem de 18 anos foi achada na cidade de Primavera do Leste, depois de ficar 14 dias longe da família. No segundo, uma adolescente de 16 anos, fugiu de casa no dia 28 de outubro de 2011 e foi localizada no dia 17 de novembro em Campo Novo do Parecis.
Ainda em 2011, a delegada Ana Cristina Feldner, adjunta Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), investigou o desaparecimento de uma adolescente de 15 anos, que passou cinco dias fora de casa e foi localizada no Rio de Janeiro.
Antes de viajar, com o cartão de crédito do pai, foi ao shopping comprou bolsas, roupas e uma passagem com destino a cidade do Rio de Janeiro. Ela também fez saques, sendo um de R$ 700. Segundo a delegada, a adolescente depois de brigar com os pais foi atrás de um namorado virtual que conheceu pela internet. Mas chegando ao Rio de Janeiro não o teria achado. Sem dinheiro devido ao bloqueio do cartão, resolveu retornar à Cuiabá, mantendo contato com a mesma agência que comprou a passagem de ida. A agência avisou os policiais que interceptaram a garota, no desembarque do aeroporto.
Para os investigadores que atuam no Núcleo de Desaparecidos, a colaboração dos colegas de outras unidades do interior, de policiais de fora do Estado e da própria população tem sido uma das maiores contribuições para a localização de pessoas desaparecidas. “Os colegas sempre se esforçam para ajudar”, frisam os policiais Lauriane Cristina de Oliveira Lara e Auri Nascimento, que atuam no setor juntamente com a investigadora Magda Maria Costa Souza, que passou a integrar a equipe recentemente.
Dos registros, 179 pessoas ainda estão desaparecidas do seio familiar. Um dos casos emblemáticos é da adolescente Maiana Mariano Vilela, de 16 anos, que teria sido vista pela última vez no dia 21 de dezembro de 2011, quando saiu de casa para ir uma agência bancária descontar um cheque de R$ 500.
Desde então, dezenas de denúncias foram averiguadas, checados amigos, compra de passagens, imagens de câmaras de segurança e até pedido de exame comparativo da arcada dentária de uma mulher encontrada carbonizada na cidade de Várzea Grande. Mas nada disso levou ao esclarecimento do sumiço da garota. A Polícia Civil também não tem elementos de que ela possa estar morta.
Tudo, por enquanto, caminha para o sumiço espontâneo da menina. A adolescente mantinha uma relação conturbada com um homem de 38 anos e segundo as investigações, estava se sentido solitária nos últimos dias de seu desaparecimento.
Para o delegado titular da DHPP, Silas Tadeu Caldeiras, que chefia as investigações, Maiana é um enigma para a Polícia. “Todas as informações foram checadas e todas negativas. O inquérito está grosso e não temos nenhuma pista concreta da adolescente”, disse.
De acordo com o delegado, a adolescente pode estar com medo de ligar para a mãe, devido ao interesse da imprensa em acompanhar todos os passos da investigação. “Se tiver alguém com ela, pode estar com medo. Por isso que a gente guarda, com expectativa, sem fazer muito alarde, algumas informações”, disse.
Os motivos que podem levar uma pessoa a desaparecer são classificados dentro de parâmetros estabelecidos pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), como afastamento ou abandono do lar (316 casos em 2011), cooptação para práticas criminosas (138), desaparecimento enigmático (120), subtração para família (9), evasão de custódia legal (7), sequestro (zero), calamidades/intempéries e acidentes (zero).