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Cuiabá: polícia investiga se mãe enterrou bebê vivo

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Um bebê do sexo feminino, aparentando ter entre 8 e 9 meses de formação, foi encontrado enterrado nos fundos de um sítio na comunidade quilombola Mutuca, localizada a 17 km do centro do município de Nossa Senhora do Livramento (42 km ao sul de Cuiabá). A suspeita é de que a criança tenha sido enterrado ainda com vida, logo depois de nascer, pela própria mãe, uma adolescente de 17 anos, segundo boletim de ocorrência registrado na delegacia da cidade. O pai da jovem, Arlindo Martins dos Santos, 43, que sabia onde a criança estava enterrada e foi detido para esclarecimentos.

O bebê nasceu no último domingo (13), por volta das 15h30. Sem ajuda, a jovem deu a luz sozinha, no meio da mata fechada e logo depois entregou a criança a Arlindo, que ajudou a enterrá-la, segundo informações do sargento PM Pedro Camilo de Godoi. “Recebemos uma denúncia anônima de que a criança nasceu viva e a mãe a sufocou com um pano para depois enterrar”.

Ao ser questionado pelo sargento, o pai da adolescente confirmou que sabia a localização do cadáver.

À reportagem, o lavrador Arlindo dos Santos disse que foi a filha quem enterrou a criança sozinha, sem a ajuda dele. “Ela me contou depois onde era o lugar, chegou nervosa e tremendo”.

O lavrador afirmou ainda que não sabia que a filha estava grávida. Ela mora com o pai, assim como os outros 3 irmãos, desde que a mãe se separou dele. “Eu perguntava e ela dizia que não estava gestante. Foi assim com o primeiro filho dela”. D.P.S. já é mãe de uma menina de 1 ano e 4 meses.

Todos os familiares se espantaram com a presença da polícia na comunidade. Prima da adolescente, Neuza Ferreira dos Santos afirmou que toda a família desconfiou da gestação de D.P.S., mas ela sempre negou o fato. “Como ela é meio cheinha e só andava de camisetão, não deu para notar a barriga, mas ela sempre negava quando perguntávamos sobre o assunto”.

Neuza afirmou que a prima continuava frequentando a escola normalmente, onde ela cursa a 6ª série. “Ela sempre foi reservada e nunca falou nem mesmo quem era o pai do primeiro filho dela”.

Assustado, Arlindo teve de cavar o local onde estava o neto e levá-lo até o carro do Instituto Médico Legal (IML), responsável pela perícia do cadáver. Familiares afirmaram que, desde domingo, ele andava depressivo e sempre era encontrado chorando pelos cantos.

“Nasci e criei aqui, assim como ele e todos os nossos parentes. Não é por que é meu sangue, mas presenciei esse homem dia e noite trabalhando para dar conta do sustento dos filhos”, afirmou o primo de Arlindo, Germano Ferreira de Jesus.

Durante 3 anos, o lavrador se revezou entre a roça e o trabalho noturno em um frigorífico em Várzea Grande. “Ele vinha de bicicleta, apenas para deixar mantimentos para as crianças. E agora? Quem vai sustentar a família?”.

Além dos 4 filhos, Arlindo criava outros 2 netos. Em seu sítio, ele cultiva principalmente milho, mandioca e banana. Sua filha mais velha, de 18 anos, tem uma menina de 2. A filha mais nova, de 15 anos, está casada, mas mora com o pai. De acordo com Germano, nem mesmo a agente de saúde responsável pelas famílias da região sabia da gestação da adolescente.

Na comunidade formada por cerca de 30 famílias, onde todos se conhecem, a prisão do lavrador causou comoção geral. Netos, primos, sobrinhos e irmãos, choraram inconformados. “Ele sempre foi trabalhador. Eu que o criei. Assumi a criação dos meus 8 irmãos quando a nossa mãe morreu, durante o parto de Arlindo. Eu tinha 12 anos”, contou a irmã mais velha da família, Paulina Martinha de Jesus, 59. “Ele é muito simples, acostumado com coisas antigas. Para ele é natural enterrar uma pessoa quando morre, não sabe que agora as coisas são diferentes”.

Até que o laudo do IML fique pronto, Arlindo e sua filha são suspeitos do crime de ocultação de cadáver, segundo o sargento Pedro Godoi. A perícia vai analisar se houve respiração dentro do pulmão do bebê. “Se for positivo, teremos de analisar duas possibilidades de crime: a de homicídio ou a de aborto”, explicou o perito criminal Messias Pereira. Somente não haverá crime, segundo ele, se o bebê, que ainda estava com o cordão umbilical, tiver nascido morto. “O cordão indica que a criança pode ter sido arrancada brutalmente do útero”.

Os 5 conselheiros tutelares do município estão acompanhando a adolescente. Em depoimento inicial para duas representantes da instituição, a jovem afirmou que estava gestante de 4 meses e que sofreu aborto espontâneo. Ela não revelou quem era o pai das crianças e aparentava muito nervosismo. Horas depois, ela afirmou à polícia que o bebê nasceu chorando, o que já configura crime. “Diante disso, ela também poderá ser detida”, afirmou o sargento Pedro Godoi.

Todos foram encaminhados ao Centro Integrado de Segurança e Cidadania (Cisc) Parque do Lago, em Várzea Grande. Uma espingarda velha também foi apreendida e, por não ter a documentação do armamento, Arlindo vai responder também por posse ilegal de arma. O lavrador foi liberado no início da noite de ontem. De acordo com o advogado dele, Carlos Magno, não ficou comprovada nenhuma participação dele no fato, uma vez que não houve flagrante. Arlindo também não ofereceu resistência em prestar esclarecimentos à polícia.

 

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