Pelo menos quatro empresas foram alvos da Polícia Federal, que hoje deflagrou a quarta etapa da operação Ararath. Em comum, os donos destes grupos empresariais negociaram recentemente com o também empresário Gércio Marcelino Mendonça Júnior, o Júnior Mendonça, investigado desde a primeira fase da operação.
Além das empresas, os 24 mandados de busca e apreensão, expedidos pela 5ª Vara Federal de Mato Grosso, atingiram o ex-secretário de Estado, Eder Moraes, Fernando Mendonça, que foi um dos tesoureiros da campanha do senador Pedro Taques (PDT), e Sérgio Braga de Campos, sobrinho do senador Jayme Campos e do deputado federal Júlio Campos, ambos do DEM.
Durante toda a manhã, as equipes da PF chegavam à sede do órgão, em Cuiabá, com materiais apreendidos. Um levantamento parcial aponta que dezenas de computadores, notebooks, smartphones, além de documentos e folhas de cheques foram recolhidos pelos agentes.
O empresário Jorge Pires de Miranda e Éder Moraes estiveram na sede da PF e já prestaram esclarecimentos aos delegados responsáveis pelo caso. O ex-secretário confirmou a ação e disse que não acompanhou o cumprimento do mandado. A reportagem apurou que da casa dele foram levados diversos documentos e folhas de cheque.
Moraes disse acreditar ter sido envolvido na investigação, que apura crimes contra o sistema financeiro, por conta dos cargos que ocupou, durante 12 anos, no governo. “Estou tranquilo quanto a isso e estarei aqui para prestar esclarecimentos quantas vezes forem necessárias”.
O advogado de Valdir Piran, proprietário do Grupo Piran, Paulo Budóia salientou que é prematuro afirmar qual a ligação entre o grupo e Mendonça. “Muito pouco foi levado da empresa. Pelo que sei, há um contrato de locação de um prédio onde funciona um posto de combustíveis de Mendonça. Talvez isso tenha ligado um ao outro e motivado o mandado”.
Dos 24 mandados expedidos, 16 foram cumpridos em Cuiabá. O restante teve como alvo unidades comerciais nos estados de Goiás e São Paulo, além do Distrito Federal.
Segundo a Polícia Federal, após a deflagração das primeiras fases da operação e da análise de grande parte do material apreendido, foram obtidos elementos que, além de reforçarem os indícios de crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro, indicaram o envolvimento de outras pessoas e empresas.
Apurou-se que o grupo criminoso possuía uma intensa e vultosa movimentação financeira, por intermédio de recursos de terceiros e empréstimos, com atuação análoga a de uma verdadeira instituição financeira. Averiguou-se, ainda, que esse fluxo de altos valores vai além do uso das empresas de factoring, com a utilização de outras pessoas jurídicas, entre as quais, empresas “fachada”.
A pena para o crime de operação ilegal de instituição (art. 16 da Lei 7.492/86) é de um a quatro anos de reclusão e multa. Já para o crime de lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei 9.613/98), a pena varia entre três e dez anos de reclusão e multa.
Os trabalhos da operação foram iniciados em 12 de novembro do ano passado, quando 11 mandados de busca e apreensão foram cumpridos. O principal alvo à época era o empresário Júnior Mendonça. Embora o processo corra sob segredo de Justiça, a Polícia Federal afirmou que a investigação apura supostos crimes financeiros.
No final do mesmo mês, outros 7 mandados foram cumpridos, entre eles contra o então presidente do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso (Detran-MT), Gian Castrillon e o juiz federal Julier Sebastião da Silva.
Já em dezembro, na 3ª fase da operação, outros 7 mandados foram cumpridos em 3 municípios.