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Zumbi de vilão a herói. (I)

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A Europa se organiza, no século XVII, para extrair de suas colônias matéria-prima para suas manufaturas e artigos comerciais altamente lucrativos.
No Brasil, segundo historiador Joel Zito é estimulado o cultivo da monocultura extensiva da cana-de-açúcar, com o fim de exportar, o açúcar para o velho mundo em larga escala.
Para o colonizador, uma exploração agrícola desse porte requeria mão-de-obra barata, para ser viável.
Para obter esses trabalhadores, várias nações européias impõem a diversos povos da áfrica a escravidão, um negócio altamente lucrativo, em que seres humanos são reduzidos a mercadoria, coisas, seres sem alma, e forçados a trabalhar até o fim das suas energias.
Os nossos ancestrais que fundaram palmares não tinham consciência da complexidade do sistema econômico que estavam afrontando com sua fuga.
Em seu livro Zumbi, Joel Zito, afirma: nem o próprio Zumbi consegueria compreender a sofisticação da maquina colonial na qual ele e seus companheiros haviam se tornado peças soltas, que comprometiam o funcionamento desse mecanismo engenhoso.
Como líder e guerreiro, Zumbi sabia que Palmares e a administração colonial haveriam de se confrontar. Por isso, preparam-se para enfrentar uma guerra, e impôs ao inimigo a mais larga resistência armada que o Brasil já conheceu.
Palmares caiu após quase um século de luta, destruído por fogo de artilharia pesada.
Zumbi foi cassado, traído e assassinado, e seu corpo esquartejado e exposto nas praças de Olinda. Mas a memória dos eventos de que foi protagonista perdura ate hoje, impondo uma revisão histórica, econômica e social do Brasil.
A historia do quilombo dos palmares começou há mais de cem anos numa noite de 1597; quarenta escravos fugiram de um engenho no sul de Pernambuco, armados de foices, chuços e cacetes massacraram a população livre da fazenda. Havia poucas mulheres, um que outro velho e varias crianças, porém o grosso eram pretos fortes, canelas finas e dentes bons.
Na vigésima noite após contornarem brejos, grotões, penhascos, precipícios, sentiram-se seguros. De onde estavam podiam ver quem viesse dos quatro cantos, com boa vista podiam vislumbrar o mar e a fumaça branca dos engenhos procurando o céu azul, o mundo do açúcar… A terra vermelha escura, águas límpidas correndo pelas pedras. E havia palmeiras, muitas palmeiras.
Foi difícil a vida daqueles pioneiros palmarinos, apesar de solo fecundado, clima agradável, água em abundância, e muitíssimo verde.
Viviam inicialmente de caça e colheita nativos por serem inseguros e provisórios.
Aconteceram cinco anos depois daquela noite de sangue.
D. Diogo Botelho, governador-geral, ordenou a um tal Bartolomeu Bezerra que marchasse contra “os negros alevantados de palmares”.
Bartolomeu reuniu militares, senhores de engenho e uma pequena multidão de “pobres diabos”. Cada qual tinha seus motivos para marchar contra os fujões. Não logrou êxito essa primeira expedição e mais de quarenta se seguira a ela em cem anos de guerra. Os palmarinos eram poucos. O comandante Bartolomeu retornou a Olinda com alguns presos, arrotando vitória, e por alguns anos as autoridades esqueceram aqueles negros, afinal havia muitos outros problemas.
Estava começando ali o mais notável episódio da historia brasileira, cem anos de guerra.
Durante dois séculos o Brasil foi o açúcar. O açúcar tinha uma voraz fome de terras e trabalhadores. Terra era o que não faltava aqui.
Com relação a trabalhadores, era o contrário: faltavam. É certo que quando Pedro Alvares Cabral pisou em nossas praias, havia cerca de três milhões de índios, estes, porém, não era o tipo de trabalhador que o açúcar carecia.
O açúcar precisava de trabalhadores treinados em grandes plantações, resistentes e baratos.
Qualquer europeu sabia muito bem que na África e só na África, encontrariam trabalhadores assim.
Porque o açúcar e outras poucas lavouras exigiam que esses trabalhadores africanos fossem escravizados?
Para começar; a escravidão afro-americana desempenhou importante papel no desenvolvimento do sistema econômico capitalista mundial. Foi o negro escravizado que criou com seu trabalho quase que sozinho a fabulosa produção de artigos tropicais que abasteceu o mercado europeu durante três séculos, enriquecendo as classes dominantes de lá e de cá. Com seu trabalho e com sua pessoa, pois a compra e venda de africanos, também por três séculos, foi umas das principais fontes de acumulações de capital que pôs o velho mundo na dianteira da civilização ocidental.
Entregávamos açúcar, recebíamos escravos. Houve outras razões para a escravidão brasileira, a crença num absurdo: “os pretos africanos seriam, pela própria natureza inferior, destinados pela providência a serem escravos dos brancos europeus”.
Os compradores de açúcar brasileiro eram quase sempre os vendedores de escravos ao Brasil. Por que Zumbi dos Palmares passa de vilão a herói?

Rinaldo Ribeiro de Almeida
Presidente do Grupo de União e Consciência Negra. GRUCON
Membro do Conselho Estadual do Direito do Negro. CEDN
Ex-diretor da DIGAP/SMEDEL: um dos pioneiros na implementação da Lei 10.639/03
Ex-vereador de Cuiabá: autor da Lei municipal que estabelece feriado o dia 20 de novembro

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