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VLT: entre a cruz e a espada, ou melhor, entre o “roubo” e o “estelionato”

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Nunca me enganei com relação ao VLT estar pronto para a Copa do mundo de 2014 (que já ficou para trás há quase um ano). Sempre soube que ficaria pronto a posterior e não acho que isso seja o fim do mundo. O que vale é o modal enquanto legado, e como ele revolucionará o transporte coletivo da capital.

Mas, os últimos posicionamentos do novo governo de Mato Grosso e daqueles que sustentam suas posições na grande mídia cuiabana me deixam preocupado. Explico. Há em curso um grande movimento de lavagem cerebral e formação da opinião pública contra o VLT. Quase uma satanização mesmo.

Dizem que as obras estão muito atrasadas e que isso traz prejuízos irreparáveis ao erário. Afirmam que as obras foram mal executadas e que corrigi-las sairia muito caro. Alegam que ao finalizar o VLT a tarifa, ou seja a passagem, ficaria muito cara, impraticável, entre 10 e 12 reais. Aduzem que o BRT é mais barato, mais viável e mais fácil de realizar, deixando a tarifa no mesmo patamar dos ônibus. Agora, a Assembléia Legislativa cria uma CPI das obras da Copa, foco: VLT.

O atual governador prometeu a Cuiabá, durante a campanha, a conclusão do VLT. Mas eram outros tempos, era época de eleição havia votos a disputar e nessas horas fala-se o que o povo quer ouvir e não o que se pensa de fato.

Eleição ganha, hora de colocar em prática o próprio projeto pessoal de governo e aí, não há espaço para o VLT. Destaca-se que houve muito roubo, que muito dinheiro público foi desviado. Que é preciso apurar. Concordo em gênero, número e grau nesse ponto. Somente nesse. Por outro lado, prometer concluir o VLT e não fazer isso, aliás, promover o desacreditamento no modal é um estelionato eleitoral. Eis aqui as razões que dão título a este artigo.

A obra do VLT já está concluída em pelo menos 60%, somando-se o parque de máquinas, os 44 vagões, já entregues e os trechos de trilhos já  finalizados. Se o custo é de R$ 1.5 bilhão, há que se ter dois terços da obra concluída e os outros R$ 500 milhões devem ser o suficientes para sua conclusão e entrega.

O BRT é um modelo complementar ao atual modal de transporte coletivo da capital, 100% feito pelos ônibus movidos à combustível fóssil, indo na contramão do mundo, que busca veículos mais ágeis, econômicos, ecoeficientes e confortáveis para os usuário (caso do VLT).

Instalar o BRT não resolve em nada o caos no trânsito já saturado da capital, aliás, aumentará ainda mais o estrangulamento das vias públicas. O BRT necessita de faixas de rodagem exclusivas. o VLT também, mas, para os ônibus rodarem, seria necessário um espaço maior, pois os ônibus são quase o dobro mais largos que os vagões do VLT.

A energia elétrica gasta pelo VLT é muito mais barata que os milhões de litros de óleo diesel que seriam utilizados no BRT.

Todos os vagões do VLT são climatizados, seguros e confortáveis. Com os ônibus já sabemos o que acontece. Quem utiliza qualquer viação da capital sabe do que estou falando.

Sendo o mais moderno em fabricação no mundo, o VLT de Cuiabá terá com toda certeza uma vida útil de 30, 40 anos. Quanto tempo de vida útil com qualidade para os usuários têm os ônibus mesmo?

O VLT corre sobre trilhos, tem um trafegar suave. No BRT, o cidadão estará sujeito à qualidade das pistas de rodagem de Cuiabá. E por mais que se faça, o asfalto sempre estraga, os buracos surgem e quem aguenta os socos e solavancos é o usuário. Governador, prefeito, secretários, deputados, esses só pegam ônibus em período de campanha… e olhe lá!

BRT em Cuiabá seria, primeiro: satisfazer ao ego do então candidato e agora governador que sempre foi contra o VLT, por razões ainda carentes de justificativas convincentes. Segundo: beneficiar o grupo de empresas que explora o transporte coletivo da capital e que colocar o povo em último lugar nas prioridades do serviço. Terceiro: beneficiar aqueles que faturam alto com a venda do combustível. Quarto: beneficiar dois segmentos econômicos que, via de regra, são financiadores de campanha. Ou não?

Ah! Mas, o preço da passagem do busão é de R$3,10, talvez um pouco mais. O VLT vai passar de R$ 10,00!

Quem disse que tem quer ser assim? Haveria motivos mais nobre para um subsídio governamental (União, estado e município) que o transporte coletivo de qualidade para os trabalhadores?

Oferece-se incentivos ficais aos borbotões para a iniciativa privada. Mas, nega-se qualquer benefício que seja ao trabalhador. O TRANSPORTE COLETIVO, em caixa alta mesmo, para destacar, é um serviço público e tem de ser entendido pelo governo como tal. Não foi criado para dar lucro aos empresários, mas para atender ao cidadão. Porque não criar uma empresa pública de transporte metropolitano?  Porque não garantir passagem ao custo universal de R$3,00, o que já não é barato, mas aceitável? Porque não?

Que o estado pague pelo transporte coletivo se for o caso. Até porque, em última instância, quem paga esta conta é o povo e não o governador ou o prefeito da ocasião.

Para finalizar, afirmo com convicção: não apurar os "roubos" nas Obras da Copa em Cuiabá é tão grave quando não concluir estas obras. Aliás, deixá-las paradas é uma irresponsabilidade ainda maior, um crime contra o dinheiro público e contra a população, um crime contra o futuro da capital.

Que se apure. Que se puna. Que se ressarça os cofres públicos. Mas que se finalize o VLT. Que o coloque para andar. É isso que o povo espera. É isso que o povo quer.

Wagner Zanan é jornalista em Cuiabá e, nas horas vagas, apresenta seus pontos de vista sobre os assuntos de interesse da sociedade matogrossense.

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