É recorrente prever que as cadeias produtivas mato-grossenses deverão se multiplicar em escala geométrica no futuro próximo, objetivando prioritariamente a agregação de valor à enorme produção primária de nosso Estado. Na realidade, a palavra-chave do nosso futuro próximo é a agregação de valor.
A assessoria econômica da Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Fiemt) levantou o perfil aproximado da agregação de valor previsível, a partir do conhecimento que vem acontecendo nos últimos anos. Um exemplo é profundamente significativo. Na segunda metade da década de 90, algumas algodoeiras aportaram em Mato Grosso atraídas pelo começo da produção de algodão. Trouxeram do Nordeste, velhas descaroçadeiras de algodão que produziam a pluma e o caroço. Hoje algumas – aquelas mesmas pequenas empresas – já esmagam o caroço e produzem óleo e iniciam com o biodiesel. Como resíduo, a torta é insumo para a pecuária de leite. Mas a mesma pluma já se encaminha para a fiação, e dela para a tecelagem, com o último estágio na confecção.
É só um exemplo, que pode ser multiplicado e compreendido como a o desdobramento das cadeias produtivas de todos os outros setores produtivos. A compreensão dessas possibilidades é difícil, porque não há limites. Haverá sempre uma possibilidade de agregação de valor às matérias-primas quanto aos seus sucessivos sub-produtos. Porém, é preciso que o Estado tenha uma política industrial objetiva que corra atrás disso, sob pena de continuarmos com a sina de meros produtores de commodities.
A fase de Mato Grosso neste momento está bem clara: é a verticalização da produção mediante a agregação de valor pelo caminho da industrialização. Hoje a denominação moderna desse processo de agregação de valor nas cadeias produtivas é ‘clusterização’ – que é o desenvolvimento de núcleos da produção – e ainda mais modernamente, para o nosso caso estadual, de rede de cooperação empresarial. Esse é o novo conceito de cadeia produtiva. É a seqüência ordenada das possibilidades industriais da produção no processo de verticalização e de agregação de valor.
A rede de cooperação empresarial, melhor explicada, seria imaginar a indústria de móveis em Mato Grosso e a loja de vendas nos Estados Unidos. Seria o processo de ponta a ponta na sua completa abrangência. A rede representa a soma de esforços em cooperação com objetivos semelhantes em busca da ocupação de espaços nos mercados.
O caso da soja, que tem elevada importância na economia de Mato Grosso, também pode ser emblemático para ilustrar o nosso raciocínio. Neste momento, quatro grandes esmagadoras se implantam no Estado, todas com planta anexa para o biodiesel, além de todas as possibilidades da rede de cooperação que a verticalização pode oferecer. Outra vertente pouco conhecida neste momento é o dos alimentos funcionais. Pode ser a soja para a alimentação humana, ou animal, ou ainda como alimento-remédio via processamento biogenético.
A soja permite uma rede assustadora de cooperação industrial na sua agregação de valor. Mas o etanol também abre um universo de cooperação ainda desconhecido que vai da destilaria até a química fina. A madeira é imprevisível também. Mas as carnes bovina, suína, de aves, de peixe e ovina possuem imensas cadeias sucessivas. O boi, por exemplo, vai da carne ao couro, passando por fases intermediárias e terminando em verticalizações enormes.
Só a título de registro, porque ainda pretendo voltar ao assunto, a rede de cooperação empresarial de tudo isso que foi dito, no campo ambiental abre outras vertentes inimagináveis de verticalização de valores diferenciados pelas demandas subjetivas do mundo moderno.
Mauro Mendes é presidente do Sistema Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Sistema Fiemt)