"Um povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la." Concordo e fundamento a retórica de George Santayana, insigne filósofo espanhol. No ano passado conheci a "Cidade Eterna", tive sorte em pegar um clima ameno do mês de março. Entre tantas maravilhas que visitei, a arquitetura romana foi uma das mais marcantes. Contemplei vários monumentos milenares, construídos apenas com pedras e argamassa. O Coliseu, inaugurado por volta dos anos 90 d.C., desafia as intempéries e se mantém imponente até os nossos dias. E as estradas romanas? Estas, sem dúvida, são as mais magníficas lições da engenharia para a Idade Contemporânea. A Via Ápia, construída a partir de 312 a.C. pelo político Ápio Cego (340 – 273 a.C.), liga a capital napolitana até a Brindsi, no "calcanhar da bota", às
margens do Adriático e serve de modelo de obra pública até hoje. Sem apresentar uma avaria sequer em sua modesta extensão de quase 500 km, faz sentirmos vergonha das rodovias brasileiras, recheadas de crateras e bem
menos idosas. Qual seria o segredo dos Césares? Onde estaria o nosso problema? Será que os romanos cobravam pedágio para mantê-las? Será que eram mais inteligentes… Será que será?…
E nem precisamos ir tão longe na história ou Geografia. O Chile e a Argentina dão um banho em termos de cidadania ao Brasil. Comparemos a organização político-administrativa de Santiago com a de São Paulo. Salvador, pela propaganda televisiva estupenda que promove deveria ser um exemplo de profissionalismo turístico, mas eu asseguro que usufruir do elevador Lacerda foi uma das minhas piores experiências pitorescas…
Caro, feio e sujo, que decepção! A nossa cultura deve ser rediscutida.
Preservar o quê e para quê?
Quero agora lembrar das vielas cuiabanas. Que tristeza!
Estagnamos no tempo. Andamos por becos que já deveriam parecer inadequados para os primeiros provincianos! Prainha, Mato Grosso, Fernando Correa, Miguel Sutil, nem quero citar a Avenida das Torres… todas me confirmariam
a propositura. Penso que se trata de falta de visão futurística. O imediatismo impede nosso desenvolvimento. Pela Getúlio Vargas, em 6 de agosto de 1941, desfilava o Presidente de mesmo nome com toda a comitiva cinematográfica. Hoje, qualquer veículo de pequeno porte tem dificuldade de por ali transitar. Alguém se lembra de uma rodovia conhecida como Estrada Velha da Guia? Oficialmente identificada como MT 400, uma via estadual que, por se tratar de um patrimônio histórico, teve sua manutenção legada aos encargos da Prefeitura. Está no completo abandono! Filha sem pai, agoniza… mesmo sendo indispensável a centenas de famílias e eleitores que a margeiam, continua como nos primórdios, só poeira! Em ano eleitoral, ressurgem os boatos do pixe, fincam estacas e realizam-se medições, parece até trabalho sério, daí então… só frustração, buraco e "costela de vaca".
Talvez os cidadãos da região não mereçam respeito dos seus representantes… Ou seria somente falta de gestão?
E a duplicação da Serra de São Vicente, que se arrasta há mais de uma década? Teria sido levada pela "cachoeira"? A novela dramática e infinita das Ferrovias que anuncia a sua chegada à capital, mas em pleno século XXI ainda não escoa a produção de um Estado tão pujante como o Mato Grosso? Os Estados Unidos possuem a maior rede destes trilhos no mundo.
Desde 1829, despertaram para o sucesso econômico deste meio de transporte. Só nossas ilustres autoridades não descobriram, ou se fazem não descobrir…
"Cada povo tem o governo que merece", dizia Joseph-Marie Maistre (1753-1821).
Esta premissa, se nos conscientizarmos, transformaremos esta nação condenada pela corrupção, desigualdade social e subordinação aos Fundos Monetários Internacionais em uma superpotência em médio prazo. Recursos naturais nos sobejam. Basta que saibamos escolher representantes e administradores à altura da nossa querida pátria.
Certamente, há quem se interesse pelo berço esplêndido onde dormimos como múmias, enquanto norte-americanos e chineses ditam as regras da nova era mundial.
Estes preferem que permaneçamos "tupiniquins". Para o povo brasileiro, do Bauxi às grandes metrópoles, contudo, o progresso é bem-vindo! Sem esquecer a nossa história pregressa, podemos alavancar a construção de uma nova
epopeia, em busca da excelência, novos parâmetros, novos valores.
É questão de cultura!
Ézio Ojeda é médico e advogado militante em Cuiabá, Mato Grosso.