A pergunta pode parecer retórica, mas providencial: Você está contente com tudo que está aí? Do último mês de junho, mais precisamente entre os dias 17 a 20, quando se deu o mais retumbante eco popular dos últimos 20 anos, vem a resposta: Não! Você não está contente, eu não estou contente e a maioria esmagadora da população também não.
Mas a profilaxia social não permite apenas uma resposta dialética, por mais reveladoras que tenham sido as manifestações – ainda que não orgânicas – ou com base em surtos sazonais de mobilizações que vem do acúmulo do descontentamento geral. Ao passo que os números consolidam essa resposta. Segundo pesquisa CNT/Sensus: 83% da população brasileira aprovaram os protestos. Dos participantes, 80% não têm preferência partidária e 73% dos que saíram as ruas, participaram pela primeira vez de um manifesto.
Forçoso dizer que o contexto nacional não se dissocia do que foi visto e posto em Mato Grosso no engrossar das fileiras do maior manifesto espontâneo da história do país com nada menos que 50 mil pessoas saindo às ruas da capital mato-grossense e outras dezenas de milhares em outras cidades do estado. Embora com bandeiras dispares, chegamos ao consenso de que a maioria protestava por melhoria nas condições de saúde, educação, moradia, além claro contra o aumento nas passagens, bem como tantas outras bandeiras essas marteladas durante anos por movimentos sociais, somado a indignação geral contra a corrupção que grassa em todos os quadrantes de poder do estado, não bastasse, um inconteste descontentamento com os atuais políticos que aí estão.
Boa foi a notícia, melhor ainda o resultado da pressão popular que forçou a tomada de algumas medidas importantes por parte do poder publico para com a população, tanto ainda melhor a perspectiva que, com as eleições vindouras, teremos a oportunidade de dar o mesmo grito das ruas no alto-falante soberano das urnas, com uma resposta mais ou menos assim:
Temos um estado discrepante, tido como panacéia do agronegócio, celeiro da produção primária de commodities, no entanto estamos entalados no desvão da pior posição de desenvolvimento humano do Centro-oeste. Isso quer dizer que temos uma minoria próspera e uma maioria esmagadora à margem dessa prosperidade, sem acesso sequer às condições básicas de cidadania observadas na Constituição. O nome disso é concentração de renda e o resultado é um sistema perverso onde os de cima sobem cada vez mais esmagando os de baixo.
É preciso inverter prioridades, o agronegócio não sustenta nossas mesas, a hortaliça que você come no almoço vem dos pequenos produtores, da agricultura familiar, dos cinturões produtivos espalhados pelos rincões do estado. Por outro lado, o perdão das dívidas dos grandes produtores que correm para Brasília atrás de anistia quando o cinto aperta, acaba caindo nas costas do pequeno comerciante e do pagador de imposto em geral, pessoas simples, como eu e vocês, na conta de quem se depositam os custos dessa ficção.
De Rondolândia a Alto Taquari, no entanto, não se tem notícia de que pequenos comerciantes se sintam representados, tanto no congresso como no executivo. A bancada é ruralista, os governadores que por aí passaram nos últimos 30 anos são financiados, grosso modo, pelo agronegócio – quando não é o seu próprio ícone o eleito. Os industriais têm seus incentivos fiscais, e não vislumbramos nesse desalentador norte quem realmente proteja o trabalhador, o pequeno comerciante, o vendedor de lanche, aqueles que praticam atividades meramente de subsistência, o cidadão comum que necessita de ofertas de serviços públicos de qualidade. A estes, sobra apenas a mão pesada do estado e a escorchante taxação de impostos que carcome predatoriamente 35% dos seus ganhos, isso quando parte dessa "facada" não escoa para o ralo da corrupção.
Para uma plantação de 5 hectares de soja, com a mecanização, são necessários apenas 5 funcionários. Já para qualquer loja de esquina facilmente se emprega 10 a 20 pessoas, e é sobre essas empresas e pessoas que recaem a maior pressão, somos nós, os trabalhadores que pagamos, proporcionalmente, a maior taxa de imposto ao estado, ao município e a união, retroalimentando esse sistema perverso de concentração de renda e escravizando 4 meses de trabalho do cidadão para cobrir a conta que foi perdoada dos gigantes protegidos do poder político anódino ao povo.
Entretanto, o pai de família que atrasa o pagamento da prestação do carro popular ou da TV de plasma tem o nome negativado e nada se fala sobre o perdão de dívidas ou anistia. Enquanto os grandes marcham em caminhonetes importadas para Brasília e retornam, via de regra, com uma belo perdão e/ou renegociação das suas dívidas, o sorriso largo e toda a bancada política satisfeita por ter retribuído os favores financeiro-eleitorais.
É isso mesmo! O agronegócio é o braço financeiro de todos os candidatos que se apresentaram até o momento aos cargos majoritários, todas as correntes políticas têm o laço do agronegócio amarrado nos pés. Eles, unidos, controlam a política e tudo que dela advém, sobrando ao povo somente as migalhas que caem da mesa. É um anacronismo sórdido e facilmente visível a quem queira enxergar.
É esse sistema que desonera os grandes latifundiários que produz soja para engordar gado em países asiáticos, que não agrega valor, não gera empregos significativos, não soma dividendos na balança fiscal e acaba faltando na ponta, exatamente onde há mais necessidade da presença do estado é o que está instalado há décadas em nosso estado sob diversas gangs comandadas por caciques que por ai ditam as regras do jogo. Sem contar que o dinheiro do imposto que os grandes produtores deixam de pagar é aquele que falta para construir hospitais e escolas, no prato da merenda ou no aumento salarial dos funcionários públicos que mais precisam dar resposta e atendimento à população, como policiais, médicos e professores. Sequer as perdas salariais são recompostas.
O jogo dialético proposto como uma alternativa de poder vai ao encontro dessas idéias, entre tantas outras de caráter paradigmático, sem a pretensão de se apresentar como revolucionárias, mas com o ímpeto de mudança que pode reacender na população a esperança por dias melhores e um destino menos marginal ao processo de desenvolvimento por qual passamos. Sai aqui a figura do representante das elites que quer falar em nome do povo, e entra a alternativa, alguém do próprio povo, que conhece suas agruras e lutas, que trafega nas batalhas comunitárias, sociais, estudantis e movimentos populares com a desenvoltura de quem de lá saiu, como proponente de ser não porta-voz dessas pessoas, mas de suas aspirações.
Como militante de causas populares desde os tempos juvenis, tenho a clareza daquilo que a classe popular deseja e precisa, somado as demandas atuais que serão catalogadas em encontros que faremos em cada gueto da micro-física de poder no estado, especialmente nos lares e organizações civis, é que o Partido Humanista da Solidariedade criará uma plataforma para apresentar a sociedade nas eleições de 2014.
Não estamos apresentando a sociedade um nome ou personagem, mas uma proposta, cujo núcleo é a vontade extremada de mudar as coisas como estão postas, e para isso o desafio se torna tão maior quanto nossos poderosos adversários, mas rebate na crença fecunda de que um outro modelo econômico e político é possível, baseado na defesa das minorias, dos fracos e oprimidos, daqueles que realmente necessitam e clamam, neste momento explosivo de reivindicações das ruas. Governar é fazer escolhas, e nossa escolha será sempre por aqueles para quem o estado insiste em voltar às costas.
Rico não precisa do estado, quem precisa é o pobre, e é por eles que construiremos esta alternativa real de poder. Os pequenos e médios empresários, os comerciantes em geral também precisam de incentivos, e o maior deles seria deixá-los trabalhar em paz, diminuindo, sem meios termos, a carga tributária que solapa a vida dos quase 3 milhões de habitantes do nosso rico Mato Grosso, marginalizados pelo processo de concentração de riqueza que vigora há quase 300 anos.
O germe da mudança foi instalado no sistema à partir da colocação da nossa pré-disposição em mudar o que esta aí, se apresentando como uma alternativa proposta, numa dialética que reside na necessidade imperiosa de eu, você e todos nós querermos mudar e acreditarmos nessas mudanças.
Sim, um outro Mato Grosso e possível!
José Marcondes "Muvuca" é ativista político, jornalista e pré-candidato ao governo do estado de MT pelo PHS.