Em outubro do ano passado, quando no exercício do mandato de deputado federal, cobrindo licença do nosso líder, deputado Carlos Bezerra, ocupei a tribuna da Câmara para sugerir ao governo federal que doasse geladeiras às famílias de menor poder aquisitivo, dentro do programa Luz para Todos.
A proposta, que mesmo vista por algumas pessoas como ingênua, diante de sua tamanha simplicidade, mereceu um bom espaço de tempo no programa A Voz do Brasil. Mas enquanto fui criticado por uns, recebi elogios de muita gente. E, pelo visto, o presidente Lula captou a amplitude da idéia.
Pois bem. Recentemente, conforme toda a imprensa noticiou, o governo federal anunciou que lançará o programa “bolsa geladeira”. A proposta é trocar dez milhões de unidades em todo o País. É pouco, mas já é um bom começo.
A diferença é que o governo pretende subsidiar a venda do eletrodoméstico a famílias de baixa renda, enquanto que minha sugestão é pela doação, pura e simples, recolhendo os aparelhos antigos. Isto sem falar nos muitos lares de famílias carentes que não possuem geladeira, principalmente no interior do País.
Levei a proposta à tribuna da Câmara atendendo a reivindicações de trabalhadores rurais de Mato Grosso, feitas a mim, pessoalmente, em viagens que fiz pelo interior do Estado, quando da visita a alguns locais beneficiados com o programa Luz para Todos.
Nessas viagens percebi que muitas famílias não têm condições sequer de instalar iluminação adequada em suas casas, devido aos custos gerados. Essa é a realidade, o que comprova que a simples chegada da energia com o Luz para Todos nem sempre traz os benefícios desejados.
Após receber a instalação elétrica, muitas famílias não têm acesso a esse que é um dos principais itens na vida da maioria do povo brasileiro. Sem uma geladeira não é possível estocar alimentos, coisa que deveria ser prioridade num país que está buscando erradicar a fome.
Outro aspecto fundamental é a conservação de medicamentos, por vezes comprados pelo cidadão ou fornecidos pelo governo, que acabam por se perder frente à falta adequada de armazenagem. Isso é comum no meio rural.
Ao anunciar o “bolsa geladeira”, o governo federal usa como principal argumento a economia de energia elétrica que resultará com a troca de aparelhos modernos e econômicos pelos antigos e danificados. Pesquisas apontam que as geladeiras representam 20% do consumo médio das residências brasileiras. Nas famílias de baixa renda o percentual sobe para 34%.
Economia à parte, vejo o lado da cidadania como prioritário. Assim, acredito firmemente que o governo federal tem total condição de doar essas geladeiras, em vez de vendê-las, mesmo que subsidiadas.
A proposta pode fomentar a indústria nacional, com a produção em larga escala. A redução de impostos vai gerar preços mais em conta, compatíveis com aquilo que os cofres públicos podem gastar em investimentos para o combate à fome.
Portanto, o governo federal deveria estudar melhor a possibilidade de atender a essa parcela da população. A venda, mesmo subsidiada, não dará o estímulo necessário, porque são brasileiros que, comprovadamente, não possuem condições financeiras para adquirir o bem.
Um programa federal nessa amplitude contribuiria para eliminarmos essa barreira ridícula das desigualdades. Resultaria na evolução da qualidade de vida de milhões de compatriotas. Uma presença de governo relevante para a saúde das nossas crianças, seus humildes pais e avós.
Uma geladeira, modelo que atenda às necessidades básicas do povo pobre, pode ter seu custo calculado pela importância social que o produto representa. Ou seja: não tem preço!
Victório Galli é primeiro suplente de deputado federal do PMDB-MT, é professor em Cuiabá.