Ainda pairava nos ares do brasil, em todas as regiões desenvovidas, uma sombra de melancolia, quando os homens de "verde oliva" decretavam quem deveria se sobressair financeiramente e quem seriam os "dalits" brasileiros, ou aqueles que deveriam trabalhar para dar riquezas à nação. E não foi difícil encontrá-los: no Paraguai, os "brasiguaios" se desesperavam com a ameaça ou até mesmo com a realidade de verem suas terras confiscadas por políticos corruptos, também, na grande maioria, de uniformes soberanos e fuzís da segunda guerra mundial.
No sul os índios e as usinas hidrelétricas que se instalavam, precisavam de terras, e como os menos favorecidos com a sorte tinham que desocupar suas áreas, rapidamente se encontrou um pretexto para resolver o problema da nova colonização amazônica. Surge um lema que mudaria o rumo do novo brasil: "Integrar para não entregar".
A Amazônia poderia ser invadida por estrangeiros e antes que isso viesse acontecer foi praticamente empurrado para lá uma leva de brasileiros para essa missão. cooperativas e corretores de terras, ou como eram chamados "os picaretas" juntavam vilas inteiras de colonos indenizados pelas construtoras de barragens e os transportavam nas antigas jardineiras (ônibus velho) rumo às terras do "leite e do mel". Duas estradas foram rasgadas rumo à "integração" e por elas transitavam, como se fossem animais, aqueles "retirantes" da desilusão do vizinho país e os "espurgados de suas terras em sua própria pátria".
A BR-364 levou uma parte para Rondônia e a BR-163 se encarregou de jogar a outra maratona em suas margens, onde marginalizados se encontram até os dias amargos da "nova república". No Norte de Mato Grosso foram assentadas milhares de famílias por um órgão mal criado e mal administrado que após desperdiçar milhões de cruzeiros com estradas numa região que não levava a lugar algum, as abandonaram sujeitas a todos os tipos de sofrimento, com as terríveis febre-amarelas, malária e muitas outras epidemias.
Pobres "sem-terra da era da ditadura", jogados nas masmorras verdes de uma floresta esquecida, onde muitos se viam obrigados a abandonar tudo e caminhar de volta por uma rodovia abandonada, com 800 km de mata, buracos e atoleiros que tomavam conta de seus leitos.
Enquanto isso as redes de televisão do país inteiro se estrebuchavam de tato ganhar dinheiro com as propagandas que faziam do novo eldorado, à custa do dinheiro do contribuinte. Como a situação estava ficando crítica o governo decidiu entregar nas mãos de grandes empreendedores ou de grandes amigos, as terras da transição de florestas na Amazônia, e do Cerrado. Juntos, floresta e cerrado, tiveram ali sua sentença de morte.
Grandes latifundiários se instalaram, criando, com o dinheiro do projeto Sudam (que foi uma "teta farta"), imensas áreas de colonização. Dentre elas: Sinop, Terra Nova, Alta Floresta, Matupá e muitas outras. Atraídos pelas grandes divulgações da mídia, vieram comprar terras, homens de todos os cantos do país, mas como as colonizadoras só venderam o que lhes interessava e ficaram com o restante das terras, as quais tiveram suas divisas medidas por avião, faltou espaço "legalizado" para ali se instalar os últimos aventureiros a chegar à terra prometida. O que fazer?
Se não tem mais terras de colonizadoras o remédio estava bem ali nas prateleiras do governo: as terras devolutas ou da união. Em todos os já criados municípios, sobraram imensas áreas dessas preciosidades de florestas ricas em madeira, solo plano e…ouro!
Das encostas da milenar Serra do Cachimbo, parecia ter escorrido rios do metal amarelo, que drasticamente viria a ser sugado das profundezas da terra preta; e essa seiva reluzente teve seu curso interrompido justamente na bacia do rio Peixoto, parte do chamado vale do Teles Pires. Milhares de aventureiros se embrenharam nas florestas, com machados, motosserras e tratores de esteira, criando uma mancha negra na floresta verde, ferindo de morte aquela que por milhares de anos fora a mãe de uma grande tribo indígena chamada Xingu.
Como não só feriram a "mãe natureza", feriram também seus próprios irmãos de cara-pintadas, obrigando-os a abandonar suas aldeias e irem morrendo aos poucos em outras regiões. Mas como a maldição do tesouro não mora só no famoso velho oeste, também aqui no novo continente foi um fantasma, ainda vivo, que devastou essa famosa era do ouro. Seu nome: vocês devem se lembrar, segundo ele "tinha aquilo roxo", e com bombas de guerra desalojou todos os garimpeiros que viviam nas regiões da terra dos pobres "povos sem roupas".
Mais uma desilusão para aqueles hebreus brasileiros que sem ouro e sem terras se viram obrigados a também "grilar" propriedades do governo…
que governo? Se não cuida do povo e ainda os batizam de bandidos, que mais se pode esperar? Invadiram sim terras que, se eram da União, eram do povo.
E como ninguém os amparou nesse vale de lágrimas, criaram uma "bolsa mercantil", fazendo dessas imensas áreas devolutas a moeda principal das "terras de niguém"!
Os mais fracos vendiam e os mais ricos viravam fazendeiros. Se em Novo Mundo, Guarantã do Norte, Peixoto de Azevedo e outros municípios, milhares de famílias se tornaram assentados, não podemos dizer que foram pela burocrática reforma agrária, mas sim pela necessidade de um povo sem rumo que já caminhava há quase quarenta anos, assim como os conduzidos por Moisés.
E finalmente após terem encontrado sua terra prometida, parece que novamente estão na contramão da história. Se desmataram para garimpar, destruíram; se derrubaram para plantar numa terra onde produz até 100 sacas de arroz da melhor qualidade por hectare, são destruídores da floresta.
Quem os quer de volta no Sul ou no Sudeste? Aqui ainda não são favelados.
S voltarem certamente engrossarão aquela outra subnação de flagelados.
Deixem-os ali mesmo onde estão, legalizem suas terras, financiem seus investimentos, forneçam-lhes escolas e remédios, o restante eles próprios saberão tirar da terra onde muitos já enterraram seus pais, filhos e irmãos, e com certeza respeitarão a lei de preservação ambiental.
Tiago de Lima é contabilista e produtor rural em Matupá.