No mês de outubro do ano passado, tive a oportunidade de participar da viagem de prospecção de negócios na China, promovida pela Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso, comandada pelo presidente Mauro Mendes. Não saberia dizer exatamente quais eram as minhas expectativas e sobre o que encontraria num país tão distante, misterioso, e com uma cultura avançada com mais de cinco mil anos.
Confesso o choque que tive. Saí do Brasil pensando, com a minha cabeça de empresária da área de confecções, que os chineses estão blefando diante do mundo com preços tão baixos. Imaginava que eles deveriam quebrar logo, logo e que nós estaríamos rigorosamente certos com as nossas políticas nacionais, animados com a nossa produtividade e competitividade diante dos mercados mundiais.
Daí veio o choque. Os chineses produzem e vão continuar produzindo barato porque têm uma produtividade muito alta, os operários trabalham 12 horas por dia, têm uma visão coletiva do trabalho, da sua vida e da vida do país. Talvez seja uma herança do socialismo que hoje é uma mistura de socialismo-capitalismo. O operário chinês não tem ambições materiais como nós ocidentais, de adquirir bens sucessivamente. A grande preocupação deles e que centraliza os seus esforços, é com a sua poupança pessoal, para garantir-lhes uma velhice protegida.
A minha visão de que o operariado chinês é escravizado não era verdadeira. Eles são dóceis, meigos e educados, profundamente envolvidos com o seu país. Porém, a renda do salário mínimo deles equivale a 400 reais, maior do que o nosso e numa economia de custos muito baixos, creio que eles têm maior poder de compra do que os nossos operários. A alimentação, por exemplo, para os chineses tem outro sentido.
Ela é meramente nutricional. Por isso, come-se qualquer coisa que for necessário sem ansiedades ou a glutonice ocidental. É um mundo muito, muito diferente que nos faz pensar se no futuro próximo suportaremos a sua concorrência e a sua capacidade de produzir a custos cada vez mais baixos, e com crescentes avanços tecnológicos. Fiquei muito preocupada com a China que imaginava e com a China que vi. Mas essa visão, a gente tem só mesmo indo lá e olhar com atenção o que eles estão fazendo. E o que vimos foi muito pouco.
Eles não vão parar. Vão produzir cada vez mais, diversificar cada vez mais e a custos menores. Antes eles copiavam produtos prontos. Agora estão inovando, com seus 300 mil engenheiros que estudam no Ocidente a cada ano e, quando voltam, passam por seleções e são direcionados para áreas de produção e trabalho do planejamento previsto. Claro que eles produzem produtos ruins, médios e bons. Mas tenho a impressão de que a China poderá se tornar, se mantiver o ritmo atual, no maior parque fabril do mundo.
Vejo a China como uma enorme incógnita que o mundo terá que aprender a respeitar e conviver. Uma incógnita em nossa vida. Temos que olhar a China e agir, tanto nos governos, como nos setores privados para acompanharmos o estilo chinês, descomplicado e centralizado. Nós com uma legislação trabalhista antiquada que joga empregado contra patrão, com a carga tributária irresponsável que temos, temos que compreender: é preciso provocar e realizar mudanças sociais, econômicas, educacionais, e preparar a nossa sociedade para o futuro.
De qualquer forma, voltei de lá com a certeza de que, apesar de tudo, a China tem muito mais para nos ensinar do que para ameaçar. O resto é conosco mesmo!
Claudia Fagotti é presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário (Sinvest-MT) e presidente em exercício do Sistema Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Sistema Fiemt)