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Um bando de idiotas chatos

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Julio Campos, Deputado Federal por Mato Grosso, em reunião da bancada do seu partido, se referiu ao Ministro Joaquim Barbosa do Supremo Tribunal Federal como aquele "moreno escuro do Supremo". Está levando paulada de todo lado. A repercussão do caso está exagerada. O patrulhamento está incontrolável. O Deputado alega que na hora se esqueceu do nome do Ministro e por isso o chamou daquela maneira. Quem conhece Julinho sabe que não houve maldade. Que é próprio de sua espontaneidade, de seu linguajar regional. Segundo consta até pedir desculpas, já pediu. Por quê? Onde errou o Deputado Julio Campos para sofrer tamanho patrulhamento? Será que se tivesse se referido ao nobre ministro como "aquele negro do Supremo", sofreria menos crítica? Em outras palavras: teria sido politicamente mais correto? Que coisa chata é a intolerância. Os negros já foram chamados de pretos, afro-descendentes, mas parece que agora tudo é discriminação. Alegam que preto é cor, a raça é negra e, portanto, o politicamente correto é negro. Será?
A professora Deise Maria dos Santos Aguiar, FCT/UNESP, na sua dissertação de mestrado, denominada "O olhar das crianças sobre a diferença e a desigualdade: pobreza, gênero e raça nas relações escolares", conclui que para algumas crianças os termos preto e negro são entendidos como formas negativas de classificação, sendo, portanto, desvalorizados. Informa a professora que Diogo, um garoto que se auto-classifica como moreno escuro, ao ser indagado se havia alguém negro e/ou preto na sua classe responde: "Ninguém… Assim, tem gente morena que nem eu. Eu não sou negro, sou moreno. Tem gente morena. A Tânia é morena. Chamar alguém de negro é muito feio né? Tem gente que não fala negro, fala preto. Eu acho que é uma falta de educação, por causa que tem gente que chama a Adriana, a Tânia e até eu de preto, né? Tem pessoa que fala: sai daqui seu preto, seu neguinho saravá. Só que nóis (sic) fala pra professora e a professora fala pra nóis (sic) ir na delegacia dar parte. (Entrevista, agos/07)".

Pobre criança. Como é que ela vai entender que no Brasil não existe oficialmente a raça morena? A Declaração de Nascido Vivo, documento obrigatório em todos os hospitais brasileiros, apresenta cinco opções de raça do bebê: branco, preto, pardo, indígena e amarelo. Pardo? Sim, é isso mesmo leitor. Pardo é oficialmente raça no Brasil. Será que pardo é o mesmo que moreno? Se o Deputado tivesse chamado o ministro de pardo escuro, seria politicamente mais correto?
Toda discriminação é intolerável, porém o que está havendo no Brasil é intolerância. Tudo passou a ser visto como discriminação seja ela racial, regional, sexista, de costumes, etc.. Qualquer referência que venha assinalar uma característica individual da pessoa passou a ser discriminação. Criou-se até um neologismo: o politicamente correto. Por exemplo: chamar alguém de baixinho é discriminação, o politicamente correto é verticalmente prejudicado. Qualquer crítica feita a um nordestino passou a ser discriminação contra o nordeste.

Chamar de veado, bicha, então pode levar a processo. No entanto, entre os gays é comum um se referir ao outro como bicha. Aí pode. Não é discriminação. Puta agora é profissional do sexo. Chamá-las de modo diferente é discriminação.
Ora, os brasileiros somos frutos de uma maravilhosa miscigenação de raças: o branco europeu, o negro africano, o índio, e que resultou num povo alegre, brincalhão e gozador. Quem é que já não teve um apelido na infância? E o apelido, quase sempre, só pega em quem se importa, quem briga. Poucos carregam esse apelido para a vida adulta.
Ai de quem hoje se referir a outro de perneta, manco, coxo, gordo, baleia, magriça e outras denominações tão próprias do linguajar brasileiro. Tudo bem, que não se deva se referir pejorativamente a alguém, por ofensa, mas tudo tem limites. E o pior é que quando a terminologia começa a agradar a quase todos, vem um grupo e alega que é discriminação e aí começa tudo de novo. O que não é pejorativo hoje pode ser amanhã. Se Lamartine Babo cantasse hoje: "o teu cabelo não nega mulata", seria massacrado, pois mulata passou a ser uma denominação pejorativa. Segundo se alega, mulata vem de mula e, portanto, condenável. Ora vejam !!!

Pessoal, vamos ter um pouco mais de tolerância. Nem tudo é maldade, nem tudo é discriminação. Vamos maneirar no patrulhamento, senão deixaremos de ser esse povo alegre, solidário, amigo, feliz e passaremos a ser um bando de idiotas chatos.

Waldir Serafim é economista em Cuiabá
[email protected]

 

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