A transformação digital pressupõe o uso da tecnologia para melhorar o desempenho da administração pública, trazendo serviços mais modernos ao cidadão, maior transparência aos dados públicos e, por consequência, muda para melhor a relação entre os governos e o cidadão.
Entre os dados armazenados pelos Governos e a efetiva utilização como serviço pelo cidadão existe um abismo tão complexo e burocrático que gera uma tremenda insatisfação e quase perplexidade pelo nível de evolução tecnológica que hoje tem disponível. Imagine ainda neste bojo os novos cidadãos (nossos filhos, a nova geração) que já nasceram em um ambiente onde consomem a tecnologia de forma tão trivial quanto consomem a alimentação na mesa de sua casa e acham absurdo precisar se deslocar a uma determinada unidade governamental para executar uma operação que facilmente poderia ser realizada pelos mecanismos digitais disponíveis.
Há uma exigência pela população para utilizar os serviços públicos com a mesma facilidade e flexibilidade quanto consomem das plataformas de compras, de redes sociais, de serviços de streaming, de serviços bancários, entre outros.
O uso da tecnologia pode aumentar de forma significativa o desempenho e o alcance das instituições por meio da mudança de como os negócios são feitos. Isto causa um impacto social muito forte, pois provoca a mudança e a evolução das organizações, alterando estruturas socioeconômicas, padrões organizacionais, barreiras culturais e até leis. É um novo modelo mental. Um novo modelo de negócio.
Um estudo apresentado no X Congresso Consad de Gestão Pública, em julho de 2017, mostrou que o serviço presencial para o Governo custa em média US$ 14,00 e o mesmo serviço no formato digital é em média US$ 0,39. A Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Tecnologia da Informação e Comunicação (ABEP) também realizou um estudo em 2017 que pesquisou os investimentos e custeios em TI nos órgãos públicos, entre 2004 e 2014, e concluiu que a cada R$ 1,00 investido resultou em uma redução de R$ 9,42 nos gastos.
A transformação digital é um esforço inevitável pelos governos, porém não é meramente uma questão tecnológica. A tecnologia, na verdade, é o quesito mais simples de todo cenário, pois hoje temos diversas soluções de software e de aplicativos móveis em diversas plataformas, entrega de tecnologia como serviço (software, infraestrutura, etc).
O grande desafio é primeiramente entender o cidadão. É conhecer o que ele realmente precisa e como ele deseja consumir aquela informação ou serviço. Em seguida é preciso remodelar os processos governamentais, pois simplesmente digitalizar um processo que funciona manualmente de forma penosa irá somente potencializar o caos que ele já proporciona no formato manual. Depois é fundamental capacitar as pessoas envolvidas no processo para que estejam habilitadas a operar neste novo formato.
Um aspecto que pode impactar de forma crucial é a necessidade de alteração de legislação para adequar um processo em uma visão mais inovadora. É um ponto que exige a agilidade de todo ecossistema público para que o serviço possa ser estabelecido com as melhorias ao cidadão. O planejamento é o ponto divisor de águas de toda cadeia de transformação digital. Não diz respeito somente a uma questão financeira, mas também cultural de efetivamente querer mudar. Se preparar para isso tudo. A mudança se relaciona a estratégia adotada por cada Governo.
Tecnologia por si só não é o verdadeiro desruptor. A grande mudança ocorrerá quando toda cadeia de estruturação do serviço público contribuir para que a transformação digital realmente aconteça.
Sandro Brandão Campos é analista de Tecnologia da Informação da MTI, especialista em Negócios Eletrônicos, Gestão Pública, Gestão Empresarial e Gestão de Marketing para Negócios e mestrando em Inovação e Propriedade Intelectual. [email protected]