Muita gente ainda se pergunta se o governador Blairo Maggi foi o perdedor ou o ganhador das eleições municipais deste ano. Ouso dizer que nem uma coisa nem outra. Até porque, por trás dessa discussão há a de fundo: a sucessão de 2010. E será apenas nessa, caso dispute, que ficaremos sabendo se Blairo ganhará ou perderá.
É simples assim. Blairo não ganhou nem perdeu porque não disputou as eleições. Candidatos que tiveram o seu apoio ganharam ou perderam. E eles podem ser considerados ganhadores ou perdedores, embora nem sempre quem não seja eleito se torne apenas um perdedor. Veja o exemplo de John McCain.
Aqueles que discutem honestamente se Blairo foi um ganhador ou um perdedor estão discutindo, de fato, a transferência de votos. Insisto que transferência é um mito, como também é falso afirmar que a divulgação de pesquisas decide eleição.
Estudiosos de pesquisas eleitorais, como Alberto Carlos Almeida, que tem três excelentes obras sobre o tema, sustentam que a influência (e não transferência) é mais real na medida da aprovação do governante que está no mandato. Para ele, a partir de um estudo sobre mais de 200 eleições ocorridas no Brasil nos últimos 20 anos, quanto maior a aprovação real (bom e ótimo) de um governante, maior será sua influência positiva. Mas, nem isso assegura que haja uma transferência, porque o candidato apoiado pode não ter nenhuma afinidade com os anseios do eleitor.
Contudo, essa influência será ainda maior quando houver uma relação de causalidade entre o apoiador, o apoiado e o eleitor. Ou seja, se o candidato apoiado tiver afinidade com o eleitor, for o candidato que preenche mais os anseios do eleitor, maior coincidência haverá entre aprovação do apoiador e votação do apoiado. Se for o contrário, nem um candidato apoiado por Jesus Cristo seria eleito.
No caso de Blairo Maggi, sua aprovação (bom e ótimo) média em 10 dos 11 maiores municípios de Mato Grosso ultrapassava a casa dos 60%, segundo levantamento da KGM em maio e junho deste ano. Logo, aprovação excelente que lhe renderia uma boa influência na maioria dos municípios estudados.
Destes, os candidatos do governador venceram em sete cidades, sendo três do PR (Várzea Grande, Tangará da Serra e Barra do Garças); dois do PP (Cáceres e Pontes e Lacerda); um do PDT (Alta Floresta); e um do PMDB (Sinop).
Logo, o saldo do Blairo é positivo, embora não se possa dizer que seus candidatos venceram apenas por seu apoio. Como já dito, os candidatos venceram porque, em geral, eram os que tinham, ou os que se mostraram, mais afinados com o perfil de prefeito desejado por seus eleitores. (Uma coincidência praticamente generalizada é que o eleitor gosta que o prefeito tenha afinidade com o governador e o presidente, porque sua percepção é que as brigas prejudicam o município. Mas, na maioria dos casos isso também não chega a ser decisivo, como no caso de Cuiabá).
No caso de Rondonópolis (sua segunda maior aprovação, ficando atrás apenas de Alta Floresta), o governador ajudou a eleger um poste em 2004. Embora tenha feito uma administração exitosa administrativamente, Adilton Sachetti continuou sendo um poste politicamente, por isso não levou a reeleição.
YES WE CAN
Inevitável trazer o exemplo dos dois candidatos a presidente dos Estados Unidos para o nosso momento político. Os discursos de Barack Obama e John McCain feitos horas após a confirmação da vitória do primeiro são peças fundamentais para quem se interessa por política, eleições, marketing, atualidade.
Obama provou com seu discurso porque foi o escolhido da maioria dos eleitores americanos. E McCain provou com o seu que se fosse ele o eleito, o EUA também teriam feito uma boa escolha. A eleição americana não teve derrotados entre os dois candidatos.
Mais importante que disputar, Obama e McCain deram um exemplo ao mundo que deve-se saber ganhar e saber perder. Não por simples altruísmo, mas por respeito à regra democrática.
“Ele enfrentou sacrifícios pela América que a maioria de nós nem pode começar a imaginar. Nós estamos melhores graças aos serviços desse líder bravo e altruísta”, disse Obama, sobre McCain.
“Desejo boa sorte ao homem que foi meu oponente e será meu presidente”, disse McCain, referindo-se a Obama. A quilômetros de distância um do outro.
Quem dera nossos líderes pantaneiros tivessem tal alcance de visão e tamanha envergadura política. Como sou otimista, vou continuar acreditando que, sim, nós também podemos.
Kleber Lima é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso