Quando discutimos toxoplasmose ocular, muitas dúvidas ainda surgem, principalmente porque algumas informações e conceitos mudaram ao longo dos anos. E isso mesmo com a toxoplasmose sendo a infecção intra-ocular mais freqüente no mundo, uma das infecções com maior risco para a visão!!!
A toxoplasmose é causada por um protozoário (Toxoplasma gondii) e, muitas vezes, foi chamada de doença do gato. Entretanto, o gato é apenas uma das formas de transmissão. De uma forma geral a toxoplasmose é adquirida via oral, ou seja, pela boca. E este protozoário se encontra principalmente nas fezes de animais como gatos, cachorros, animais de abate (porcos, carneiros, gado, etc) e todos os alimentos que possam ser contaminados por estas fezes. Assim, se comemos verduras que foram contaminadas por adubo natural, se acariciamos um gato ou cachorro com resíduos de fezes nos pêlos e esquecemos de lavar as mãos antes de comer, podemos ingerir o toxoplasma e então, adquirir a doença. Também podemos adquiri-la pela ingestão de carne contaminada, possivelmente também por carnes de aves.
Quais os sintomas oculares mais comuns? Embaçamento visual, olho vermelho, dor ocular, sensibilidade à luz e lacrimejamento, não sendo necessário que todos sintomas estejam presentes. Além disso, sintomas gerais podem ocorrer se houver infecção sistêmica ao mesmo tempo: febre, mal estar, gânglios ou “ínguas” pelo corpo, aumento do baço e do fígado.
Algumas pessoas já nascem com esta doença? Sim, alguns bebês podem nascer com a forma congênita, ou seja, transmitida durante a gravidez. Posso ter tido esta doença e não saber? Sim, ela pode ter se manifestado apenas de forma leve podendo ser confundida com um resfriado ou “virose”. Se uma pessoa tiver adquirido a toxoplasmose ocular quando criança, muitas vezes ela não se queixará, e poderá descobrir que teve a infecção anos depois. Neste caso as vezes é impossível determinar o momento da infecção.
Uma pessoa que já teve toxoplasmose sistêmica há vários anos pode desenvolver toxoplasmose ocular? Sim, pode ocorrer uma reinfecção com acometimento ocular ou pode ocorrer uma recidiva de lesão anterior (neste caso o paciente, às vezes, nem sabe que já tem uma cicatriz de toxoplasmose ocular). Alguns pesquisadores apresentaram evidências da possibilidade de termos reservatórios da doença em músculos do corpo.
Como tratar esta infecção ocular? O oftalmologista é o profissional indicado para o diagnóstico e tratamento. As doses de antibióticos para a toxoplasmose ocular em geral são elevadas e utilizadas por várias semanas. Em lesões resistentes ao tratamento pode-se utilizar laser. Aplicações de antibióticos intra-oculares têm se provado uma medida eficaz de tratamento em casos especiais.
E o que fazer para prevenir a toxoplasmose? 1) lavar sempre as mãos antes de se alimentar; 2) preferir carnes bem passadas; 3) preferir legumes cozidos; 4) deixar verduras de molho em soluções com “descontaminantes”, como o hipoclorito diluído, antes de servi-las.
Em caso de dúvida, consultar um profissional habilitado. A doença tratada precocemente sempre apresenta possibilidade de melhor resultado terapêutico.
*Douglas Yanai é Médico Oftalmologista, Membro Titular da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo e da American Academy of Ophthalmology, Fellow em Retina e Vítreo no Hospital de Olhos do Paraná, Retina and Vitreous Fellowship Doheny Eye Institute – University ou Southern California