Envolvido de corpo e alma no processo de negociação de alianças em torno do seu projeto de reeleição ao Palácio Alencastro, o prefeito Wilson Santos (PSDB), ao que parece, vive alheio ao que gira em seu redor. Inclusive, fatos do cotidiano da cidade que ele administra. Sua assessoria parece viver no mundo da lua. Dá a impressão que, agora, só importam as conveniências político-eleitorais. Algumas ações administrativas seriam relegadas a um plano secundário, em prejuízo da imagem do gestor público e do interesse coletivo.
Com efeito, desde o começo de março, na Câmara Municipal, uma Comissão Parlamentar de Inquérito trabalha na apuração de denúncias de falhas no lucrativo e suspeitíssimo serviço de limpeza pública. O noticiário revela que pelo menos dois depoimentos de técnicos ligados ao setor remetem às conclusões parciais da CPI de que o serviço de varrição, coleta e destinação do lixo na Capital virou uma…sujeira! Mas, Wilson Santos e sua equipe parecem não ligar.
Um importante auxiliar do prefeito – o secretário-adjunto de Infra-Estrutura, Quidauguro da Fonseca -, em depoimento na CPI, fez uma revelação comprometedora: a empresa contratada pela Prefeitura foi notificada 50 vezes em 2007; já em 2008, só no período de janeiro a maio, foram 48 notificações por falhas diversas. Os autos de infração resultaram em multas e na comprovação de que o serviço é deficiente. O prefeito, ao que parece, não ligou muito para o fato.
Célio Nogueira, chefe de Fiscalização da Sema, perante a CPI, tornou público um relatório técnico que aponta 14 irregularidades no Aterro Sanitário, para onde vai toda a sujeira recolhida nas ruas da cidade. E chamou a atenção para dois fatos graves: a alta carga de lixo e poluentes já contaminou o lençol freático da região (Coxipó do Ouro) e o lixo hospitalar é depositado a céu aberto. Na Prefeitura, também não levaram em conta esses dados alarmantes.
Marcel Gelfi, diretor comercial da Qualix, a empresa paulista que coleta o lixo em Cuiabá, deu “cano” e não compareceu à Câmara para depor. Perdeu a chance de entender por que sua empresa está no olho do furacão. Um vídeo exibido pela CPI, na sexta-feira (20), com imagens colhidas recentemente, comprovam irregularidades gravíssimas quanto ao lixo hospitalar: além da coleta sem equipamento adequado, bolsas de sangue e materiais utilizados em cirurgias são jogadas diretamente em caminhão comum. Como não têm reservatório especial, com a compactação, um líquido formado por sangue e detritos escorre pelas ruas de Cuiabá, num risco evidente de contaminação.
Quem viu as imagens, a propósito, não conseguiu esconder a repulsa diante de tamanho descalabro para com a Saúde Pública e o Meio Ambiente. O prefeito e sua equipe também ficariam enojados com as imagens e, mais ainda, com a empresa que contrataram a peso de ouro – R$ 1,5 milhão por mês, pagos em dia – para limpar (?) a cidade.
Logo que a CPI do Lixo começou a agir, o próprio Wilson Santos, em entrevista numa TV, elogiou a atitude da Câmara e até se colocou à disposição. Sintomaticamente, depois que a comissão começou a mostrar o resultado das apurações, expondo toda a sujeira, o prefeito, também em entrevistas, acusou os vereadores de tentarem tirar proveito eleitoral do trabalho parlamentar.
Entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Ministério Público Estadual (MPE) são parceiras da CPI do Lixo e contribuem para o caráter sério e transparente da comissão. Por isso, a Prefeitura deveria encarar o trabalho do Legislativo com respeito.
Como se não bastassem as evidências de que o lixo é um negócio que nunca cheirou bem na Capital, ao longo de várias gestões, tudo o que a CPI apurou, até agora, são provas circunstanciais de que há muito mais para limpar nesta terra de Paschoal Moreira Cabral.
Antonio Souza é jornalista em Cuiabá.