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Sua Excelência, Tiririca

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Enquanto candidato, Tiririca foi pichado por quase todos da mídia e da política tradicional por ser um palhaço e em razão dos seus slogans satíricos de campanha. Ele sempre foi um palhaço de fato e fazer piadas fazia parte de seu ganha-pão. Quando fazia gracejos em sua campanha estava sendo coerente. Somente por ter a profissão de palhaço, Tiririca nem é pior nem melhor do que nenhum concorrente profissional da política.

O festival de imagens de doutos engravatados enchendo literalmente os bolsos com dinheiro de corrupção, nas meias e nas bolsas, que enlamearam as telas deste país, desautorizaria as críticas ao palhaço. Essas imagens forçaram a renúncia de Joaquim Roriz, candidato favoritíssimo ao governo do Distrito Federal. Pior do que alguns fatos são algumas justificativas. Esse doutor justificara um empréstimo suspeito de dois milhões de reais, que seria para a compra de uma bezerra. Nem que fosse de diamantes, custaria tanto. Mas, esse gado de pelo de ouro passou a ser a salvação dos políticos ideais. Renan Calheiros, político por excelência, senador da República, utilizou da nova raça de gado de ouro para justificar o pagamento de pensão alimentícia por funcionários de empresa privada e outras dinheiramas de seu patrimônio "billgateano". Sua gente o salvou da cassação, inclusive com apoio incondicional de Mercadante.

Episódios dessa natureza têm se repetido nos últimos anos, que passa a sensação de ser requisito inerente à gestão pública. Um pouco antes, o notável Severino Cavalcanti criara o mensalinho, que consistia em cobrar propina de proprietários de restaurantes localizados na Câmara dos Deputados. O ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, renunciou ao cargo por ter sido filmado embolsando dinheiro. Ele e vários deputados. Pelos mesmos motivos, também foram presos e são acusados os governadores do Amapá e de Mato Grosso do Sul, além do prefeito de Dourados. O reeleito governador do Ceará passeou pela Europa com a sogra com dinheiro da viúva. O uso de celular de serviço pela filha do senador Tião Viana.

Essas mesmas condutas são praticadas diariamente pelo cidadão ao pagar propina em troca da relevação de falhas. No Rio de Janeiro, dois policiais não deram a mínima para o coordenador do grupo AfroReggae agonizando, cena repetida pelos que liberaram os rapazes que mataram o filho da atriz Cissa Guimarães. Isso também é rotina para evitar as multas de trânsito, além dos cafezinhos para aprovação nos testes para aquisição da carteira nacional de habilitação. E até pelos vendedores de qualquer coisa para adentrarem nos ônibus coletivos.

Além dessas condutas de cunho mais restrito aos políticos, existem as práticas generalizadas. Todo dia vem acusação dos milhões pagos em horas extras no Senado e na Câmara dos Deputados, inclusive quando os parlamentares estão em férias. Acho que os brasileiros já esqueceram, mas não custa relembrar a farra das passagens aéreas pelos parlamentares federais; a filha do Excelentíssimo senador Tião Viana gastou 14,7 mil em ligações do telefone do Senado em passeio pelo México. Para fechar essa pequena célula desse jeito brasileiro de boa cidadania e representantes ideais do povo, a Folha de São Paulo estampou na capa do dia 4 de outubro de 2009 que 17 milhões de brasileiros admitiram ter vendido o voto na eleição de 2008.

Todos esses citados aparecem engravatados e se tratam respeitosamente por excelência, mesmo para mandarem tomar em qualquer lugar, quando mandam para a mãe tomar conta ou quando range os dentes para intimidar e ameaçar colegas, como costuma fazer o excelentíssimo senador Fernando Collor de Mello.
Tudo isso, para enfatizar a idéia de que corrupção é uma prática generalizada na política brasileira de há muito tempo, para a qual Tiririca não contribuiu em nada com sua candidatura e eleição, além de sua campanha ter ficado longe de descer a esse nível. Sua tão criticada baixa escolaridade o credencia a pleitear a Presidência da República na próxima eleição.

Ainda que fosse acusado de alguma falha grave, o Palhaço não chegaria ao patamar de bondades desses nobres. Portanto e literalmente, Tiririca é apenas uma pessoa simplória, um palhaço de fato que, por si só, não merecia tratamento depreciativo. Agora, se fizer alguma coisa positiva, será melhor do que muitos; se não fizer nada, empata com quase todos. Mas, se ele empregar parentes; se seus filhos fizerem lobbie para empresa de amigos; ou se tornarem bilionários do dia pra noite, o Palhaço teria grande chance de se tornar ministro da Casa Civil, pois se enquadraria no perfil brasileiro de fazer política. Daí se concluir que, se ele não corromper ou for corrompido até o final do mandato, Sua Excelência já teria sido melhor do que grande parte dos parlamentares brasileiros.

Pedro Cardoso da Costa – bacharel em Direito – Interlagos/SP.

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