Faltava pouco mais de um mês para as eleições de 1994. Louremberg Nunes Rocha, Antero Paes de Barros, Carlos Bezerra e Jonas Pinheiro travavam uma renhida disputa por duas cadeiras no senado federal.
Numa tarde quente do verão cuiabano recebo a visita de Luiz Antônio Pagot. Dentro do seu estilo “trator”, sem meias palavras, ele perguntou se a Z8 Publicidade aceitaria coordenar o marketing na reta final da campanha do candidato Jonas Pinheiro. Segundo ele, a campanha necessitava de um novo impulso, pois a candidatura estava perdendo forças e os adversários apresentando propostas mais condizentes com o momento político do estado e do país. Era uma situação complicada. Afinal, toda a estratégia eleitoral da campanha de Jonas Pinheiro estava na rua. Todas as etapas do processo, do lançamento à consolidação da candidatura já tinham sido executados. Só nos restava a fase final. Em menos de 24 horas voltei a reunir com o Pagot e, juntamente com o jornalista Onofre Ribeiro, decidimos aceitar o desafio. Um desafio, que além dos outros três candidatos tinha o tempo como o maior inimigo. E, contrariando todos os postulados do marketing político, propomos uma mudança radical na campanha. Resolvemos abandonar tudo que havia sido feito anteriormente e partir do zero. Começar uma nova campanha para tentar reverter o processo de queda.
Assim, nosso primeiro passo seria reposicionar o candidato. Até então, como queriam aqueles que acreditavam que para ser senador da república era preciso ser diferente, Jonas Pinheiro se apresentava na campanha engravatado, sério, usando termos rebuscados e tremendamente engessado. Ou seja, ele estava sendo o anti-Jonas. Lembrei-me então do Jonas que conheci no início dos anos setenta quando trabalhávamos na extensão rural. Como coordenador de comunicação da Acarmat fui designado para ministrar cursos de pré-serviços para os técnicos agrícolas da empresa. Essa era a função que Jonas Pinheiro exercia em Campo Grande, juntamente com o curso de medicina veterinária. Foi durante esses treinamentos que iniciamos uma amizade de mais de 30 anos. Foi ali também que descobri a verdadeira natureza de Jonas Pinheiro. Descobri sua honestidade, sua força de vontade, sua inteligência simples de ser e de fazer amigos, além de sua sagacidade pantaneira. Com todas estas características, Jonas era chamado pela grande maioria dos companheiros da Acarmat de “Pimpão”, um apelido carinhoso que combinava perfeitamente com sua personalidade.
Decidimos então que o nosso candidato não seria o Jonas Pinheiro, o político com dois mandatos de deputado federal no currículo, mas sim o “Pimpão”, o técnico agrícola que encantava as pessoas com seu jeito alegre, conciliador e honesto, um retrato do típico homem mato-grossense.
Tiramos seu paletó, sua gravata e a verborragia que alguns tentavam lhe impor. Dentro desse novo estilo o lema de sua campanha passou a ser “Eu sou a cara do meu povo”. E, Jonas começou então a se apresentar como sempre foi: um verdadeiro homem do povo sem necessidade de maquiagens ou acessórios.
Também o retiramos do foco das chatas e infindáveis discussões macro econômicas que os outros postulantes propunham. Esse debate passou a ser feito pelos dois suplentes da chapa: Blairo Maggi e Vicente da Riva, empresários altamente conceituados. Com isso ampliamos a área de abrangência da candidatura, pois o eleitorado mato-grossense não iria eleger apenas um senador, mas sim três políticos das diferentes regiões do estado. Vicente da Riva, como representante do nortão, Blairo Maggi, da região sul e Jonas Pinheiro, a baixada cuiabana. Era miscigenação cultural, política, econômica e geográfica se fazendo presente em Mato Grosso.
Dentro dessa nova linha de campanha e utilizando a produtora do jornalista Sérgio Ricardo, atual presidente da Assembléia Legislativa, como nossa base física, passamos a criar e produzir os programas eleitorais gratuitos para o rádio e televisão, com maiores doses de humanidade e emoção. O eleitor passou a ver um Jonas Pinheiro nascido nas barrancas do rio Cuiabá, preocupado com a integração e o desenvolvimento do Estado. O eleitor também passou a sentir que pelo seu passado Jonas seria capaz de entender e trabalhar pelo futuro do seu povo. Além disso, para o eleitor comum, a vitória de Jonas era a sua vitória, pois representava a sucesso de um homem que tinha a cara e o coração do povo. Apesar do pouco tempo de duração da “nova”, o slogan “Eu sou a cara do meu povo” conquistou os corações e as mentes dos mato-grossenses e o resultado todos já sabem. Jonas Pinheiro conquistou o primeiro lugar na preferência do eleitorado e foi eleito senador da república na mais acirrada disputa eleitoral da história política de Mato Grosso.
Estas recordações não são apenas para registrar um “case” da longa vida política de Jonas Pinheiro, são lembranças da despedida de um amigo.
– Pode ter certeza, Pimpão, mesmo com sua partida, a grande maioria do povo mato-grossense vai continuar tendo a cara simples, honesta e vitoriosa do senador Jonas Pinheiro.
Geraldo Gonçalves é publicitário em Cuiabá
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