O Brasil assistiu estarrecido esta semana pela televisão, jornais, sites e blogs, as investigações da Operação Ararath, em Mato Grosso. As apreensões passaram pelo gabinete do prefeito municipal, pelo Executivo Estadual, Tribunal de Contas do Estado e Assembleia Legislativa.
Há dois anos, foi a Operação Monte Carlo (Goiás) e há quatro anos o caso emblemático do Executivo, Legislativo e até o Judiciário do Espírito Santo.
São cenas que se repetem pela necessidade neurótica de poder e de estar em evidência social a qualquer custo.
Para onde caminha a sociedade? O poder transforma as pessoas?
Na verdade, o que as operações revelaram na forma de fortes indícios de corrupção é suficiente para a abertura de sério debate na sociedade sobre os instrumentos de controle e proteção do erário.
De nada adianta aprimorar leis e aumentar penas se o enredo das histórias continuar a ter a impunidade como capítulo final.
O poder não transforma as pessoas, ele somente revela quem elas verdadeiramente são. O político precisa ganhar respeito não apenas pela vida austera, mas por apoiar políticas sociais arrojadas.
Uma sociedade em que a educação se torne o centro das atenções sociais, em que o medo em votar em alguém dê lugar à confiabilidade.
Uma sociedade em que o consumismo seja transformado em sede de conhecimento, em que cada pessoa respeite sua cultura, crenças políticas e religiosas. Um mundo que aprenda a pensar como agrupamento de indivíduos de forma globalizada e, como tal, se torne assim, um ser humano sem fronteira.
Uma sociedade em que finalmente o homem faça as pazes com a natureza e se coloque como seu hóspede, e não como seu proprietário.
De acordo como muitos sociólogos humanistas, a sociedade dos sonhos é a certeza de que a sociedade de consumo está num processo de falência. É preciso "transformar consciências", como dizia o visionário e íntegro Coronel Meirelles.
Somente a educação que arremessa os alunos para dentro de si mesmos pode transformar o ser humano e nos levar a pensar dentro de uma visão holística, e não somente como indivíduos ou como grupos egoístas.
Enquanto os europeus pensarem como europeus, chineses como chineses, e americanos pensarem "para" e "nos" limites do seu território, não haverá caminho para uma sociedade fraterna, honesta, com a capacidade de ser fiel à própria consciência.
Ou seja, educação, educação e doses maiores de educação para se construir a sociedade dos sonhos, fraterna, livre, pautada no diálogo e pelo respeito aos direitos humanos, em que jovens, homens e mulheres sejam educados a ter consciência crítica, a ser generosos, solidários, altruístas, e aprender a expor, e não impor, suas ideias, crenças e princípios.
Uma sociedade dos sonhos onde todas as escolas do mundo moderno tenham uma disciplina que ensinasse os alunos a ser e se sentirem como seres humanos sem fronteiras, a pensar como família humana.
Nosso mestre Paulo Freire nos ensinou uma vez; "Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda". …precisamos caminhar com consciência ética para uma nova sociedade, um mundo onde valores e princípios sejam os fundamentos do cotidiano.
Vicente Vuolo é cientista político e analista legislativo do Senado Federal.