Eleições no Brasil sempre guardaram vícios herdados dos tempos imperiais. No período militar a corrupção com o dinheiro público assumiu espaços e abriu caminhos para a atual corrupção desenfreada. Foi no governo do presidente Ernesto Geisel (1975-1979), que a corrupção cooptou as eleições para construir uma democracia de fachada.
Extremamente centralizador, o governo Geisel guardava o espírito de que a sociedade era incapaz de se administrar e precisava de governoordem forte para gerenciá-la na direção do progresso. Era o espírito do positivismo, cultivado no Exército. O governo altamente tecnocrático e burocrático dos militares fechava a aproximação dos interesses privados.
Percebendo a brecha, o desprestigiado Congresso Nacional, aproveitou a brecha. Parlamentares ligados ao governo começaram a fazer lobby junto a ministérios para abrir soluções ao capital privado na seguinte ordem: empreiteiras, bancos, indústria automobilística, laboratórios farmacêuticos e indústria de cigarros.
Como havia grande quantidade de obras em andamento, os deputados e senadores abriram mercado de negócios com ministros civis e militares e contaminaram o espírito militar de governar. Em troca dos favores, os beneficiados citados começaram a financiar as campanhas políticas e aos poucos desmontaram a democracia. Eleitos nem sempre representam interesses que não sejam os dos seus financiadores. No governo do Partido dos Trabalhadores entraram novos financiadores, além daqueles: frigoríficos, telefonia, planos de saúde, fábricas der cimento, concessionárias públicas.
Desse modo, o Congresso Nacional abriu um estilo que se estendeu imediatamente às assembléias legislativas estaduais, às eleições de governadores, de prefeitos, de vereadores. E, pior: a gestão pública deixou de representar os interesses dos 200 milhões de brasileiros contribuintes, cidadãos e eleitores do Brasil. Configurou-se como uma cortina atrás da qual se escondem todos os interesses, a maioria tristes. Os serviços públicos foram contaminados pelos interesses do novo modelo político, e morrem lentamente, matando junto a cidadania.
As eleições de 2014, se repetirem a regra, matarão de vez essa democracia tão pobre praticada no Brasil. A rigor, não vivemos numa democracia cidadã. A nossa atende aos interesses construídos em torno dos negócios públicos. Essa discussão respira nos subterrâneos das eleições deste ano. É bom seguir os sinais: “prest ´enção”!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso e ex-secretário Estadual de Comunicação