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Segredos de polichinelo

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Costuma-se dizer que segredo de polichinelo é algum fato que não é segredo para ninguém a não ser para quem precisa representar um papel determinado em uma comédia ou farsa. Segundo alguns estudiosos da literatura os segredos de polichinelo comportam três facetas: a) só é segredo quando muito para os personagens no palco (neste caso os ocupantes do poder); b) é anunciado por um/a personagem cômico, que pelas suas palavras consegue despertar o riso da platéia que sabe que não existe nenhum segredo dígno de ser revelado, apenas uma encenação (no caso da democracia a platéia é o povo) c) a revelação do segredo, que não é segredo, é direcionado ao público, na ilusão de que assim irá atrair sua atenção (no caso da encenação política, o público é o povo, principalmente os eleitores).

Este poderia ser o quadro de referência para interpreter os fatos que tanto tem indignao e continuam indignando o Governo Dilma, incluindo a própria presidente, vários de seus ministros e dirigentes de grandes estatais com a suposta espionagem que inicialmente teria sido feita pela Agência Nacional de Inteligência dos EUA e veementemente criticada pela presidente brasileira em sua recente meia hora de fama na abertura da 68a. Assembléia da ONU.
Os fatos foram "revelados" como um segredo de polichinelo pelo ex-agente daquele orgão de inteligência americano e teria ocorrido há mais de um ano, sem que os organismos de inteligencia e contra-inteligência brasileiros tenham detectado a tempo. Tudo veio a tona porque os meios de comunicação resolveram esquentar a matéria.

Nem bem a indignação do Governo brasileiro se arrefeceu, eis que novamente a mesma rede de TV com o estardalhaço de sempre, mencionou mais um segredo de polichinelo, além de bisbilhotar os email e telefones da presidência da República e da Petrobrás, eis que novamente, o país foi "abalado" pela notícia de que na mesma época não apenas a Agência de Inteligência Americana, mas também os serviços de inteligência do Canadá, da Inglaterra, da Austrália e da Nova Zelandia, haviam espionado o Ministério das Minas e Energia e várias empresas estatais e organismos a ele vinculados. Com certeza também o Brasil é espionado pela China, Rússia, países do G7, G20 e tantos outros que tenham interesses vinculados ao nosso país ou buscam ocupar ou ampliar seus espaços no cenário internacional. Todo mundo sabe disso com excessão do Governo Dilma. É como a estória do marido ou da esposa traidos, sempre são os últimos a saber ou fingem que não sabem.

A fúria governamental veio novamente `a tona e a presidente tornou a "exigir" explicações agora do Canadá. Afinal, o que está em jogo é a soberania nacional afrontada. Na esteira desses segredinhos de polichinelo que tanta celeuma tem causado ao governo Dilma, escodem alguns fatos graves, maiores do que a espionagem em si. Refiro-me ao completo despreparo do Governo em dotar o país de mecanismos e serviços de inteligência e contra-inteligência que coibam tais ações. Para isso são necessários investimentos, principalmente em ciência e tecnologia,na formação de quadros e no planejamento deste e de outros setores relacionados a esta area.

Desejar que outros países parem de espionar é algo sem sentido, afinal, também o Brasil possui seus serviços de inteligência que atuam tanto dentro do país quanto no exterior, apesar das limitações e eficácia de tais serviços.
Quanto aos segredos relacionados com as atividades do Ministério de Minas e Energia, da Petrobrás e de tantos outros setores da economia, da sociedade e do governo brasileiro, a maior parte nem precisa de espiões para detecta-los, afinal tanto os EUA quanto a maioria dos países desenvolvidos dispõem de meios científicos e tecnológicos como satélites poderosos, incluindo os chamados satélites espiões, que já há muito mapearam o solo, sub-solo e plataforma maritime brasileira. Afinal há várias décadas tais países consideram o espaço cibernético como um possível teatro de Guerra. Por assim considerarem têm investido centenas de bilhões de dolares para desenvolver sistemas sofisticados tanto para capturar informações de outros paises quanto sistemas de contra-espionagem que dificultem ou impeçam que seus interesses econômicos, estratégicos e militares sejam ou estejam vulneráveis `as ações de espionagem de outros paíeses.

Enfim, tudo o que esta acontecendo e as "reações" do governo brasileiro não passa de segredos de polichinelo e ocorre na forma de um grande teatro, onde os personagens desta comédia ou farsa são nossos governantes e a grande platéia os eleitores, principalmente tendo em vista as eleições gerais de 2014. A figura do inimigo externo é muito apropriada para despertar o etnocentrismo, o nacionalismo, o orgulho nacional e um sentidmento de ódio contra os poderosos que teimam em usar osconhecimentos de que dispõem em disfavor dos países subdesenvolvidos ou emergentes!

Juacy da Silva professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia. [email protected] Blog http://www.professorjuacy.blogspot.com/ Twitter@profjuacy

 

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