O padrão demográfico dos países sub-desenvolvidos e em desenvolvimento é muito diferente dos desenvolvidos. Nos primeiros, por um longo período ocorre altas taxas de fertilidade, fecundidade e de natalidade e ao mesmo tempo altas taxas de mortalidade. A expectativa de vida é bem menor nesses países do que nos desenvolvidos. Em alguns países e em certos períodos de sua evolução histórica a chamada esperança de vida ao nascer não ultrapassa 40 ou 50 anos, enquanto nos desenvolvidos chega a 85 ou mais anos de idade. O número de pessoas centenárias é praticamente inexistentes dos países subdesenvidos ou emergentes e crescente nos desenvolvidos.
Com o avanço da medicina, do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, dos níveis eduacionais, da presença da mulher no Mercado de trabalho, casamentos mais tardios, de práticas mais higiênicas e de cuidados com a saúde, incluindo o surgimento de vários tipos de vacinas, dos amtibióticos e outros medicamentos mais avançados e também pela urbanização crescente, acompanhada de tratamento da água e da ampliação do saneamento básico, coleta de lixo, controlede vetores, as taxas de mortalidade geral e infantil decorrentes das chamadas doenças de massa, parasitárias e assemelhadas cairam drásticamente em todos os países em poucas décadas, tanto nos países desenvolvidos quanto e principalmente nos sub-dsenvolvidos e emergentes com alguamas excessões, como, por exemplo, nas regiões norte, nordeste e periferias urbanas no Brasil
Como nem sempre aconteceu uma redução nas mesma proporcionalidade das taxas de fecundidade, natalidade e fertilidade, a consequência imediata foi a aceleração do crescimento populacional, em alguns países ou regiões ocorreu uma verdadeira explosão demográfica, com consequências sociais, políticas, econômicas e na gestão pública. A pressão demográfica em certos momentos era ou ainda é maior do que a capacidade dos países, sociedades e governos em prover bens e serviços que atendessem ou atendam as necessidades e aspirações dessas grandas massas humanas, gerando frustração e conflitos, principalmente por parte da população excluida, que, principalmente nos países sub-desenvolvidos e em desenvolvimento, representa mais de dois terços do total da população.
Somente a partir das décadas de 1960 e 1970 ou até meados da década de 1980, com o surgimento, divulgação e uso massivo de práticas anticonceptivas, como pílulas, condon/camisinhas, ligaduras de trompas, DIU ou até mesmo a legalização do aborto como prática para reduzir o número de filhos, como aconteceu, neste último caso na China com a política de cada casal apenas um filho, apesar da oposição de inúmeros grupos religosos e convervadores nessas sociedades, em inúmeros países as taxas de fecundidade, natalidade e de fertilidade cairam rápidamente e em uma geração, tempo de aproximadamente 30 anos, o crescimento populacional passou a ser quase que apenas de reposição populacional ou crescimento zero.
A partir desta transição demográfica, que os países desenvlvidos experimentaram ao longo de quase um século ou mais, os países sub-desenvolvidos e emergentes passaram a conviver com dois modelos ou padrões de mortalidade. Um ainda relacionado com doenças de massa, como diarréias, tuberculose, malaria, dengue, sarampo, lepra, mortalidade neo-natal, mortalidade materna e, ao mesmo tempo, com a mortalidade que é característica dos países desenvolvidos, que é decorrente de doenças crônicas e degenerativas como cardiopatias, diabetes, doenças decorrentes da obesidade, vários tipos de câncer, Alzheimer, parkinsons, demências, doenças degenerativas e também outras causas externas como violência/assassinatos, mortes por acidentes de trabalho, no trânsito e suicídios.
O Brasil, apesar de ser atualmente a oitava economia do mundo, já chegou a ser a sexta e está a caminho de ser a décima em poucos anos, a continuar o desastre econômico promovido pela incompetência e falta de rumo/projeto do atual governo, em termos de demografia, situação sócio-econômica e padrões culturais está exatamente no meio desta transição demográfica e epidemiológica.
Em nosso país os índices de fertilidade, natalidade e de fecundidade e de crescimento populacional cairam drásticamente a partir do final dos anos 1980 e se intensificaram desde então. Por muitas décadas o Brasil era caracterizado por altas taxas de fertilidade, natalidade e fecundidade mas também altas taxas de mortalidade, resultando em baixos índices de crescimento populacional, isto até final das décadas de 1940 e 1950. A seguir, por duas out res décadas presenciamos uma redução drástica nas taxas de mortalidade e um aumento rápido da população, seguindo-se depois uma queda mais repentina dos índices de crescimento populacional.
A partir do final dos anos 2010, o padrão demográfico indica uma mudança significativa com o envelhecimento rápido da população. A participação da faixa etária de 60 anos e mais está aumentando muito mais do que a da população de zero a cinco anos. Isto significa que nas próximas décadas o Brasil vai ter muito mais idosos do que crianças e isto deve repercutir em todas as políticas públicas, principalmente de saúde, educação, mobilidade e previdência social, para mencionarmos apenas algumas dessas politicas.
Esta mudança tem um efeito direto nos padroões de mortalidade e completa tanto a transição demográfica mas não é seguida na mesma proporcionalidade em termos de transição epidemiológica e de mortalidade. O Brasil continua a enfrentar altas taxas de mortalidade por doenças de massa, incluindo ainda uma grande incidência de mortalidade infantil, mortalidade materna e neo-natal e, ao mesmo tempo, uma participação mais significativa da mortalidade relacionada com as doenças crônicas, próprias dos países desenvolvidos e com piramide etária mais evelhecida.
Por essas razões o desafio que o nosso país vai enfrentar é destinar recursos orçamentários, financeiros, humanos e tecnológicos para que os organismos de saúde pública possam prover os cuidados e atenção primária, voltados para as doenças de massa quanto e mais recursos financeiros e equipamentos mais sofisticados para atender as necessidades de tratamntos mais complexos e mais caros relacionados com as doenças crônicas e degnerativas, próprias de populações mais envelhecidas.
Esta questão é importante para a definição dos rumos da saúde pública no Brasil com vistas `as próximas décadas, caso contrário o caos que presenciamos na saúde pública na atualidade vai se agravar e a população que já está sofrendo vair acabar morrendo simplesmente por falta de atendimento, principalmente as camadas mais pobres que dependem única e exclusivamente do SUS para seus tratamentos e o direito `a vida, direito este muito desrespeitado pelos nossos governantes nas últimas décadas, apesar da Constituição “cidadã” conter dispositivos que estabelecem que “saúde é direito das pessas e dever do Estado”.
Como transformar o sonho dos Constituintes e do povo que foi para as ruas defender a democracia e as “diretas já” em realidade palpável e verdadeira? Este é o grande desafio do momento.
Juacy da Silva, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de jornais, sites e blogs.
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