Meu partido é Cuiabá. E por isso, preciso dizer que fui aliado e sou amigo do governador Mauro Mendes – estivemos juntos na luta por uma Cuiabá melhor, militamos no mesmo partido – mas não posso me furtar de falar a verdade e apontar atos de Mendes quando eles prejudicam a nossa população.
Lógico que neste momento, estou falando do lamentável fechamento da Santa Casa de Misericórdia, uma mancha às vésperas dos 300 anos da nossa cidade. Por isso, não posso me calar diante da omissão do governo em atuar para que o hospital volte a funcionar.
Nos seus mais de 200 anos de funcionamento, a Santa Casa nunca escolheu os pacientes que atendeu. Seus médicos, enfermeiros e colaboradores nunca questionaram a origem daqueles que a procuraram, quis saber de suas condições econômicas, ou seja, tratou de forma indistinta cada um que esteve em seus leitos.
E ao contrário do que Mauro Mendes anda afirmando em entrevistas, é sim dever e responsabilidade de todo e qualquer gestor público aumentar e não diminuir a capacidade de atendimento da rede pública de saúde, que vive uma situação bastante delicada em Mato Grosso. Ainda mais quando este gestor é nada mais nada menos do que o governador do Estado. Seria desnecessário dizer, mas diante desta situação, é preciso lembrar que de cada 10 pacientes acolhidos pela Santa Casa, 7 não são de Cuiabá. Isto é, 70% do atendimento ali feito vem de outros municípios de Mato Grosso.
Olhar para todos, senhor governador, é também olhar para cada um. Não se pode tratar a situação da Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá como algo corriqueiro, ordinário e politiqueiro. Trata-se de uma das maiores vergonhas da história da nossa cidade, uma instituição do tamanho deste hospital filantrópico, com a trajetória e com uma grande folha de serviços prestados, fechar as portas porque falta sensibilidade dos gestores públicos.
Falta atitude. Falta coragem. Falta responsabilidade. Falta fazer o dever de casa. É preciso descer do pedestal e chegar até quem está clamando por Saúde. É preciso deixar a palhaçada e o veneno de lado e apertar as mãos.
Ao dizer que, enquanto prefeito, não deixou a Santa Casa fechar, o hoje governador Mauro Mendes acaba, que indiretamente, elogiando seu antecessor, Pedro Taques, que mesmo diante de todas as dificuldades, nunca se furtou da responsabilidade de manter uma unidade de saúde, ainda mais do porte deste hospital.
Além disso, este tipo de declaração mostra que se houvesse vontade da parte de Mauro Mendes, a situação de centenas de pacientes que necessitam de atendimento seria bem melhor do que hoje.
Muito provavelmente, o município de Cuiabá conseguiria, sozinho, colocar o pagamento dos salários dos valorosos colaboradores em dia e quitar despesas com diversos prestadores, se o Estado, governado hoje por Mauro Mendes, repassasse os valores devidos à Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Sem contar os R$ 86 milhões em emendas pendentes, o governo deve nada mais, nada menos, do que R$ 76 milhões.
É chegado o momento de assumirmos todos a responsabilidade pela nossa Santa Casa, sem cor partidária e nem bravatas. A Câmara de Cuiabá tem feito sua parte e os vereadores trabalham noite e dia em busca de soluções. Estamos desesperados, junto com pacientes e colaboradores, e na contramão, infelizmente, o governo quer usar a situação para jogo político.
Do mesmo modo, o prefeito também tem tentado viabilizar recursos para a reabertura deste importante hospital. Tenho certeza de que, se o governo estadual quiser, a situação será resolvida rapidamente. A Santa Casa é de todos, cuiabanos e mato-grossenses.
Misael Galvão, presidente da Câmara Municipal de Cuiabá