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Réquiem a Paulo Leite

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Conheci Paulo Maria Ferreira Leite quando comecei a trabalhar como repórter do jornal Diário de Cuiabá, na década de 90. Já era Governo Dante de Oliveira, que sucedeu Jayme Campos, a quem Leite servira durante décadas e de quem fora secretário de Comunicação durante quatro anos (1991-1994). Aliás, esse é um fato singular: não tenho registro de nenhum outro governador de Mato Grosso ou prefeito de Cuiabá que tenha mantido o mesmo secretário de Comunicação durante todo o seu mandato – o que por si só já demonstra que a relação de Paulo Leite e Jayme Campos transcendia à mera dimensão profissional.

Paulo Leite tinha um hábito de visitar o jornal com frequência regular e mantinha horas a fio de conversas reservadas com o Diretor de Redação, Gustavo de Oliveira. Embora já ex-secretário naquele período, Leite mantinha ótimas relações com as redações, não apenas do Diário, mas dos demais veículos de imprensa da época – em número infinitamente menor que o atual.

Por essas duas situações já podemos enxergar uma das principais características do Paulo Leite: construir relações interpessoais duradouras – o que chamamos de amizade!

Sujeito culto, de inteligência e gênio incomuns, muitas vezes não causava uma primeira boa impressão. Era cáustico na defesa dos seus pontos de vista. Mas mantinha uma elegância nobre, fidalga. Foi no confronto inicial que construímos nossa relação. Ele não fugia ao debate nem se furtava de colocar-se, expor suas opiniões. Nem eu. Logo, atrito inicial inevitável. Com o tempo aprendi que nem sempre a franqueza gera simpatia. Mas, é honesta! E honestidade é o principal combustível das relações saudáveis.

Tive inúmeras demonstrações de respeito e admiração do Paulo Leite, e pude igualmente demonstrar-lhe muitas vezes os mesmos sentimentos. Amigos de verdade se reconhecem embora distantes, mesmo sem convivência diária. Mas sabem quem são seus amigos. E os cultiva. Além do que, as melhores demonstrações de apreço ocorrem na ausência do apreciado.

Minha admiração por suas crônicas sobre o anedotário da política mato-grossense me levou a ser um de seus incentivadores para que Paulo Leite escrevesse o livro “Parece que foi assim”, em 2005. Seria um pecado não compartilhar aquelas histórias maravilhosas. (Aproveito para desafiar, igualmente, os amigos Bebeto Amador e Geraldo Gonçalves a também transformarem em livros as suas excelentes histórias sobre os bastidores da política e da comunicação mato-grossenses. Seria egoísmo guardá-las só para vocês).

O seu último texto publicado no Blog do Paulo Leite, no último dia 21, intitula-se CAMINHADA:

“Toda vez que você caminhar, não tenha vergonha de olhar para trás e observar o que ficou / Sua vida muda, a paisagem não; ela permanece a mesma, como testemunha de sua evolução / Ande resoluto, sem medo! / Mas, ao término de sua jornada, dê dois passos para trás; aprenda a celebrar o tempo que passou. Aprenda a respeitar a pessoa que você já foi… / Pois a vida é um labirinto de perdões e recomeços / De nada adianta viver se não erramos. Errar é humano, é natural e é lógico… / Existe certa magia no erro, porque ele é a primeira etapa de nossos grandes triunfos / Aprenda a perdoar-se e siga em frente; sua caminhada nunca termina, e cada passo representa uma nova chance de ser feliz”.

Assim é o Paulo Leite – mesmo na despedida nos dá inspiração para as nossas próprias caminhadas. Foi uma alegria conviver com você, Paulo Leite, e uma grande honra partilhar sua amizade!

KLEBER LIMA é jornalista e secretário de Comunicação da Prefeitura de Cuiabá

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