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Remexendo na história

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Com certa freqüência recebo alguns desafios por parte de leitores curiosos que solicitam que eu escreva sobre alguns temas e também alguns questionamentos sobre as causas da situação em que nosso país se encontra no contexto internacional. De forma semelhante essas pessoas também indagam qual a minha opinião em relação ao futuro do Brasil.

Como não tenho bola de cristal e nem me considero vidente a única coisa que posso fazer é tentar dar um pouco mais de sentido e embasamento em minhas reflexões. Para tanto, como já estou aposentado das lides acadêmicas e de outras atividades na administração pública, tento remexer um pouco na história, servindo-me desta maravilha que é o mundo virtual, representado pela internet, que considero a maior biblioteca do mundo, podendo ser acessada/visitada na tela de um computador. Além das buscas por assuntos, também recebo dezenas de email e “newsletter” por dia com dados preciosos, artigos e também muita abobrinha que acabam sendo apagadas ou “deletadas” como se diz no jargão virtual.

Pois bem, remexendo na história constatamos que entre 1964 a 2010 o Brasil experimentou diferentes modelos de governo e também diferentes índices de crescimento do PIB (produto interno bruto) e outros aspectos da realidade política, social, cultural e econômica, incluindo sua inserção no contexto internacional. No período de 1964 a 1984, durante os governos militares ou ditadura como preferem alguns, a economia brasileira apresentou taxas de crescimento anual do PIB de 6,29%, sendo que em alguns anos esta taxa chegou a 8,7% daí tendo sido caracterizados esses anos como o milagre brasileiro. Durante a fase de transição  entre 1985 e 1989, no Governo Sarney, apesar das elevadíssimas taxas de inflação e todos os embates em torno da Assembléia Constituinte e da nova Constituição , o PIB nominal cresceu a taxas anuais reais de 4,39%. A seguir o Brasil experimentou mais um período muito conturbado durante os governos Collor/Itamar, quando apresentou as menores taxas de crescimento e também inflação elevada combinadas com intranqüilidade política, social e econômica; sendo que a média anual do crescimento do PIB foi de apenas 1,24%.

O período seguinte, entre 1995 e 2002, representa a fase de controle do processo inflacionário, de estabilidade macro-econômica e de reformas estruturais utilizando-se do modelo neoliberal onde as privatizações de vários segmentos econômicos e financeiros antes dominados pelo Estado passaram para a iniciativa privada. Este é o período do Governo FHC, eleito e reeleito sobre os louros do Plano Real, cujos efeitos serviram de base para o governo seguinte. Neste período o crescimento do PIB foi de 2,31% ao ano. Deve-se ressaltar que durante este período o cenário mundial também enfrentou diversas crises econômicas e financeiras.

Finalmente, instalou-se o Governo Lula, com um discurso esquerdista internamente, nacionalista em termos de política externa, populista em termos de políticas sociais e neoliberais como continuadoras das bases do governo FHC. Durante aproximadamente três quartos do mandato o último governo esteve inserido em uma fase de bonança da economia internacional, onde diversos países experimentaram taxas elevadas de crescimento do PIB, sempre acima de 8% ao ano como a China, a Índia, Singapura, Coréia do Sul e outras economias. Neste período o Brasil cresceu em média 4,02% ao ano, taxas bem menores do que no período dos governos militares e também um pouco menor do que durante o governo Sarney. No plano internacional ocorreu a grande crise de 2008/2009, cujos reflexos ainda estão sendo sentidos em maior ou menor grau em todos os países, inclusive no Brasil.

Se o Brasil durante essas quatro décadas tivesse crescido a taxas contínuas semelhantes às experimentadas durante os governos Médici e Geisel, consideradas elevadas como aconteceu com a Índia, a China e a Coréia do Sul, por exemplo, a economia brasileira teria um PIB 95% maior do que apresentou em 2010 e ao invés de sermos a oitava economia do mundo, seriamos, com certeza, quarta. O PIB nominal brasileiro em 2010 segundo dados do Banco Mundial, do FMI e de outros organismos internacionais foi de US$2,0 trilhões de dólares, ocupando a 8ª posição no ranking mundial. Caso tivesse crescido nas mesmas taxas do período referido, nosso PIB nominal seria de US$ 3,9 trilhões de dólares, abaixo apenas dos Estados Unidos, China e Japão e teríamos superado a Itália, a Inglaterra, a França e Alemanha.
Isto também teria reflexos tanto em termos do PIB per capita quanto de outros indicadores que estão diretamente relacionados com o tamanho da economia, a disponibilidade de recursos para investimentos e melhoria da qualidade de obras e serviços públicos. Por exemplo, nossa renda per capita nominal ao invés de US$10.471 dólares seria de US$ 20.418 dólares e hoje o Brasil não estaria na 55ª posição do ranking mundial neste indicador ou na 73ª posição em termos de IDH ou 88ª posição no ranking da UNESCO.

Para tanto, nosso país precisa de um novo modelo de desenvolvimento, diferente dos experimentados durante os períodos referidos nesta reflexão. Em termos políticos precisamos consolidar a democracia, com instituições sólidas e representativas, com partidos políticos e uma classe política que representem os interesses, as aspirações e os objetivos nacionais, tendo como base a transparência e a ética, em substituição a demagogia e a corrupção que tanto nos envergonham. Em termos econômicos precisamos romper com o modelo agro-exportador de um lado e importador de tecnologia de outro por um modelo que tenha na educação, na ciência e na tecnologia bases para a industrialização e a modernização da economia e do país como um todo, aumentando a capacidade de competição no contexto internacional e de maior eficiência tanto do setor público quanto da iniciativa privada.

Em termos sociais devemos também substituir o atual modelo paternalista, assistencialista e manipulador ancorado em políticas compensatórias por um modelo que privilegie o trabalho, o uso produtivo dos recursos humanos, a melhoria da formação da mão-de-obra, a valorização do esforço e dedicação das pessoas, jamais o parasitismo social representando pelas migalhas distribuídas pelo poder público. Em lugar de bolsa família, sacolões e outras formas aviltantes de combater a miséria e a pobreza precisamos oferecer oportunidades de trabalho e salário dignos para que as pessoas possam progredir, avançar  e andar com as próprias pernas, enfim, serem realmente cidadãs.

Precisamos refletir sobre o passado e o presente para não continuarmos cometendo as mesmas falhas, facilitando a construção de um futuro diferente, melhor e com condições de vida mais dignas de um país que aspira ocupar um lugar de destaque no cenário internacional e ser motivo de orgulho para todos os brasileiros e brasileiras. Precisamos ter um novo passaporte rumo ao futuro! Enfim, precisamos de uma re-engenharia nacional baseada na competência técnica, na efetividade política e na defesa de nossa soberania, evitando a degradação ambiental. Nossos filhos e nossos netos/as merecem viver em um país muito melhor  do que desfrutamos.
 
Juacy da Silva – professor universitário, aposentado UFMT, mestre em sociologia, ex-Diretor da ADUFMAT, ex-ouvidor Geral de Cuiabá, colaborador de Só Notícias.
[email protected]

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